O Despertar de Sophie

XXIV Sophie

Quase não dormi essa noite. Fiquei por muito tempo observando o Ben dormir. Tive medo que ele passasse mal novamente e eu não visse.

As palavras de Matt não saíam da minha cabeça. Eu queria lhe dar uma chance mas eu não consigo. Não é certo ir morar com ele sem amá-lo, ele não merece isso. Eu não sou interesseira.

Ben é meu filho, minha responsabilidade. Eu sei que agora nossas condições não são as melhores mas eu vou lutar para melhorar a vida do meu pequeno.

Graças a Deus ele dormiu bem a noite. Logo cedo Matt mandou uma mensagem falando onde podíamos ir fazer os exames que já estavam todos pagos. Fiquei um pouco decepcionada pois achei que ele iria conosco mas, não o culpo. Sei que não deve ter sido fácil para ele. Só não queria perder a amizade dele mas sei que ele irá cumprir a promessa de me dar um tempo para pensar.

Chegamos na clínica e fomos muito bem atendidos. Foram muitos exames e sei que não ficou barato. Eu decidi que toda sexta feira irei trabalhar dois turnos para poder pagar o Matt. Não é justo gastar tanto conosco. Os exames irão ficar prontos na próxima semana que é quando vamos ter uma consulta com a pediatra.

Meu filho ainda está um pouco abatido e dói vê-lo assim. Decido levá-lo a uma lanchonete bacana para almoçarmos. O dinheiro está pouco mas ele merece.

Na parte da tarde terei que ir trabalhar. Como não levei o Ben para a creche ele irá ficar com a Blenda e depois do trabalho eu o busco já que ela vai trabalhar às nove horas da noite.

Blenda sempre foi uma grande amiga. Ela tem ajudado muito a mim e ao Ben. Ela é bem doidinha as vezes mas tem um coração gigante.

Deixo meu filho com ela e saio com a promessa de que assim que eu chegar conto tudo para ela que aconteceu nos últimos dias. Não escondo nada dela, ela sabe da minha história e muitas vezes tenho que segurá- la para não invadir a empresa e fazer um escândalo.

O dia foi corrido. O movimento da lanchonete foi grande. Estava com a cabeça cheia e acabei errando alguns pedidos e derrubando outros. Só queria que o dia terminasse.

Nada de Matt. Nem sinal dele. Desde que nos conhecemos é o primeiro dia que ele não vem aqui. Sinto muito por tê- lo magoado, não queria ter sido tão rude com ele.

Fim do expediente. Melhor hora. Vou logo me despedir de Charles e companhia e pegar minhas coisas. Preciso buscar o Ben para a Blenda ir para a boate trabalhar.

Ando apressada e quase infarto quando sinto alguém puxar meu braço. Já ia gritar quando perco a voz ao ver quem era.

__Nem pense em gritar!

__ Me solta. O que você quer de mim? -droga! Minha voz treme ao falar.

__ Só quero ter uma conversa com você. Vamos até meu carro, tem muita gente na rua.

__Me solta. Não vou a lugar algum.

__ Ah, você vai sim. Não ouse me desobedecer garota. Você não faz ideia do que eu sou capaz.

Perco totalmente a fala e me deixo ser puxada por ele. Ele me empurra para dentro do carro sem delicadeza nenhuma e entra logo em seguida.

Ele para o carro a umas duas ruas depois da lanchonete. Ficamos em silêncio por um tempo.  A noite estava mais fria e escura do que o normal. Tudo que eu mais queria era sair correndo e me esconder debaixo das cobertas. Nunca imaginei ficar tão próxima a esse homem novamente.

Sinto seu olhar queimando minha pele. Ele me dá medo.

__Fale de uma vez o quanto você quer...

__Como???

__Não se faça de sonsa. Quanto você quer para deixar o Matt em paz? Me diz seu preço.

__Eu não sou uma qualquer, eu não tenho um preço.

__Todo mundo tem um preço Sophie.

__Me deixa ir embora.- tento em vão abrir a porta do carro.

__Você não vale nada garota. Qual é o seu jogo? Foi para a cama comigo achando que teria algo, mas eu sou mais esperto do que você e agora se faz de boa moça tentando enganar o trouxa do Matt. Eu não...

__Você não sabe nada do que está falando. Você se aproveitou de mim naquela noite. Eu não fui atrás do Matt, pelo contrário ele que insiste em ter algo além de amizade. E mesmo se nós quiséssemos ter algo, você não iria interferir, você não pode controlar o mundo.

Ele puxa o meu braço e eu fico mais próxima dele. Sinto sua respiração bem perto do meu rosto. Fecho os olhos como se isso pudesse nos afastar.

__ Se eu quiser eu acabo com sua vida sem pensar duas vezes. Eu conheço pessoas como você. Não sabem perder e tentam de todas as maneiras prejudicar as pessoas. Entenda de uma vez por todas: aquela empresa jamais será sua novamente. Seu pai deve sentir nojo de você agora. De nada vai adiantar fazer os seus joguinhos. Não mexa com a a minha família e nem com o meu amigo. O Matt é ingênuo e nunca teve um envolvimento sério com outra pessoa, mas eu estou aqui para alertá-lo.

__Eu não quero nada com seu amigo além de amizade. Não quero nada que venha de você e da sua família. Não precisa se preocupar comigo. Eu vivo a minha vida aqui e vocês lá, bem distante. Me deixem em paz.- neste momento minha voz já está falha e é difícil segurar as lágrimas.

__Eu não confio nem um pouco em você. Me culpo todos os dias por ter caído no seu jogo e ter ido para a cama com você. Matt não sabe quem você é e sei que ele está apaixonado. Eu não vou dizer nada por enquanto mas eu vou seguir cada passo seu, eu vou te vigiar, se você fizer qualquer coisa errada, qualquer coisa que seja eu acabo com sua vida, coisa que eu devia ter feito há muito tempo atrás.

__ Se depender de mim eu nunca mais verei essa sua cara. Eu quero mais é que você se exploda. Eu que tenho nojo de ter me entregar a um homem como você, eu é que me arrependo todos os dias. Você ainda irá pagar por tudo que tem feito comigo, um dia você irá cair desse teu pedestal e eu vou estar lá para te ver caído no chão Henry Mitchell.

__ Sai do meu carro.

Ele destrava a porta e eu saio e bato com toda a força. Que ódio desse homem. Quem ele pensa que é? Eu estava quieta na minha, nem me lembrava que essas pessoas existiam. Eu só quero viver a minha vida em paz. Agora já não é possível segurar as lágrimas. Meu corpo inteiro treme de indignação. Não é justo comigo.

Chego na casa de Blenda e assim que ela abre a porta eu desabo em seus braços chorando.

__ Ei ei ei, calma! Senta aqui, me conta o que aconteceu. O Ben já está dormindo.

Entre lágrimas conto tudo o que aconteceu nesses dois últimos dias. Minha amiga me olhava com espanto por tudo que eu lhe relatava.

__Ai Sophie, quando será que esse pesadelo vai acabar? Já tiraram tudo de você, por que não te deixam em paz?

__ A única coisa que me mantém firme é o meu filho. Preciso pensar nele e ele não tem culpa de nada disso. Quero distância dessa gente nem que para isso eu tenha que me afastar do Matt...

__ Ele vai ficar arrasado amiga, ele realmente gosta de você!

__Mas se só de ser amiga dele já está sendo essa confusão toda, imagina se um dia eu ceder as investidas dele?? Eu não aguento...

__E como você se sentiu perto do Henry?

__Não sei te dizer... Perto dele o meu coração dispara, é difícil me concentrar com aqueles olhos me encarando. Ele ficou mais lindo ainda com o tempo, mas também parece mais impiedoso do que antes, isso me dá medo. Ele age como se eu tivesse feito um inferno na vida dele, como se a única culpada dessa história toda fosse somente eu... Ele me chama de tantas coisas horríveis que só servem para quebrar mais ainda meu coração...