Prólogo

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Arma de fogo, arma branca e até mesmo bombas de prego. Eram tantas as opções para se ferir alguém, se fosse para mostras todas as possibilidades em slides ficaria naquele congresso até o fim do ano. Embora tudo fosse interessante tinha que admitir que estava cansada de ver tantas fotos de corpos, e a cadeira nem era confortável o que deixava tudo ainda mais desesperador.

Um homem falava entusiasmado apontando para um corte serrilhado onde era possível ver todos os dentes dilacerando a carne.

"Ótimo, agora uma serra elétrica." Pensou enquanto mantinha as suas últimas forças para prestar atenção, mesmo sabendo que era inútil, já que seu cérebro não se concentrava mais.

"Isto foi feito por uma serra elétrica." O homem com pouco cabelo dizia com certo orgulho. "Múltiplos cortes no sentido transversal no dorso rompendo inúmeros vasos sanguíneos, pode se imaginar a quantidade de sangue no local."

"É o que acontece com um instrumento desses nas mãos."

Meredith respirou fundo totalmente entediada.

Quando finalmente terminou saiu do auditório sem ser vista e resolveu dar um passeio pela Cidade do México.

Estava lá há três dias, mesmo com as inúmeras apresentações dos patologistas sempre conseguia um tempo para ser uma turista e fazer aquilo que sempre gostou, compras.

Roupas, sapatos, presentes para os amigos. Já estava com as malas cheias de coisas que comprou, mas ainda sentia que faltava algo, sendo assim, resolveu visitar uma feira de artesanato; talvez uma máscara maia para seu escritório, ou quem sabe um instrumento de madeira? Olhava tudo atentamente pensando como ficaria tal objeto em seu escritório ou na sua sala de estar.

Foi quando avistou uma barraca discreta quase perdida entre a multidão aglomerada naquela estreita rua. Meredith se aproximou curiosa pelas vidrarias expostas ali. Garrafas com rótulos simples escritos a própria mão, palavras das quais ela conhecia muito bem. Desconforto abdominal, dores de cabeça, dores renais, fígado, pele, cabelo e até fertilidade.

Eram tantos tônicos conhecidos como tratamentos para problemas comuns a qualquer ser humano. De fato, ela sabia que 10% daqueles remédios milagrosos eram apenas umas misturas de ervas que poderiam ou não ter um resultado positivo e os outros 80% poderiam levar a uma dor de barriga intensa e várias horas presa em um banheiro, algo que Meredith não queria sentir ainda mais quando estava próximo de deixar o México.

A cura pela natureza nunca foi algo que ela desacreditou, mas ainda sim preferia a medicina tradicional realizada em laboratório testada e aprovada pelo método científico era mais seguro do que qualquer conteúdo duvidoso dentro de um frasco de vidro que pudesse te levar a uma intoxicação ou algo pior.

Sorriu discretamente ao perceber que um homem de estatura média se aproximava dela falando qualquer coisa em espanhol. Meredith meneou negativamente a cabeça sinalizando ao homem que não falava o idioma.

"Estrangeira?" O homem gargalhou. "Veja, melhora a mente." O homem de meia idade levantou uma garrafa de vidro verde oferecendo a Meredith que a negou gentilmente.

"Oh, afrodisíaco?" Mais uma vez o homem oferece outra garrafa e desta vez Meredith sorriu antes de rejeitar mais uma vez. O inglês do homem não era o melhor que já ouviu, mas ela conseguia compreender bem todas as coisas que ele oferecia a ela. Meredith recusava tudo e por um momento imaginou que não sairia dali sem levar alguma coisa.

"Amor." O homem insistente disse seriamente focando os olhos verdes de Meredith. "É o amor que você quer."

"Você vende amor em garrafas?" Meredith sorri abertamente de tão absurdo que aquilo parecia ser.

"Amor prendeu você, não sabe se tem retorno e te deixa com medo, triste e solitária. As noites de sono não são mais as mesmas e nem os dias de trabalho. Você sofre por estar perto e ao mesmo tempo longe."

Meredith abre ainda mais os olhos surpresa com as palavras daquele homem que não a conhecia e que de alguma forma, mesmo com o inglês tropeçando nas palavras, conseguiu descrever aquilo que crescia no interior da legista tão bem a ponto de fazê-la deixar de respirar por uns instantes.

"Aqui... O Elixir, usado pelos antigos." O homem retirou uma garrafa azulada de baixo do balcão e a deixou nas mãos de Meredith.

"Forte... beba e despertara todos os amores possíveis."

Meredith apanha a garrafa e a observa, procurando algo de diferente.

"Todos os amores possíveis? Para que tantos se eu só quero um?"

"40 pesos!" O homem falou interrompendo os pensamentos de Meredith. "40 pesos apenas."

Meredith suspirou apertando fortemente a garrafa contra as mãos.

"Isso é ridículo. Definitivamente perdi o bom senso."

Pensou antes de deixar o dinheiro sobre o balcão e um homem sorridente enquanto partia daquele lugar levando a garrafa consigo.

"Ramon!" Uma mulher apareceu do lado do homem que contava as notas recebidas.

"O que fez, Ramon?"

"Oras, vendi alguma coisa, não era isto que queria que eu fizesse?"

"Sim, era isto, mas não era para vender a minha tequila! E se ela voltar quando perceber que aquilo não é elixir nenhum?"

O homem ergueu o olhar a mulher furiosa a sua frente.

"Ela não irá. O que ela procura é mais forte do que qualquer pensamento racional. Não percebeu o olhar dela quando soube do elixir do amor?" O homem sorriu satisfeito fazendo a mulher suspirar rendida.

O Elixir | MEDDISONOnde histórias criam vida. Descubra agora