𝙹𝚎𝚗𝚊

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No dia seguinte, Walsh sentia-se ainda um pouco atordoada, resolveu então conversar consigo mesma para esclarecer a mente. - Ainda acredito na teoria que ambas já foram amigas injustiçadas - o avermelhado rosto era contornado pelo alto rabo de cavalo, ele movia-se direita-esquerda. Lembrando-se do parágrafo do livro que tanto lera anos atrás, recitou-os mais uma vez em sua mente. Havia muitas coisas que não compreendia. Os olhos marejaram mesmo que Jane não houvesse notado. As compras se equilibravam no braço coberto por uma manta bordada. O ar a fazia parecer muito uma pessoa multitarefas.


Ela se deteve na entrada principal do condomínio residencial e se posicionou logo à frente do portão em aros. Seu corpo parecia ter sido percorrido por uma energia insana. Estremeceu e direcionou seu olhar para os lados, nesse momento ela disfarçou, porém poderia jurar estar sendo observada. Aos poucos, sua visão se ajustou com a luz dos postes - ora aumentava, ora diminuia. As coisas carregavam uma incostância que pesava o clima, assim como os trabalhadores engravatados que antes iam e vinham, já não vagavam mais por aqueles cantos.

- Preciso... - antes de terminar a linha de raciocínio fora tirada de sua realidade por uma voz.


Possívelmente, perderia os ovos de codorna, em um movimento cinético, pois se preparavam para se chocarem no chão pavimentado. - Opa - o garoto de correntes douradas apareceu para segurar o objeto que quase despedaçou. - Não poderia perder a oportunidade, minha gata.

- De segurar um ovo? - perguntou ela, em uma cara contorcida, o qual não o conseguia disfarçar nem se quisesse. Não foi sua intenção ser rude ou insensível, mas acabou por ser. Não era sua intenção, na maioria das vezes simplismente não era. - Sou gata, mas não sua. E, de ninguém.

Jane esboçou um brilho de orgulho próprio em seus olhos castanhos. Pegou o ovo com um breve silêncio desconcertante que se fez. - Obrigada, Andrews - acrescentou, por fim.

Ele parecia desconcertado.

No topo de uma das janelas as luzes estavam acesas. Pelo visto, Jack havia chegado cedo e isso era surpreendente. Ainda mais em uma terça-feira. A sombra escura se movimentou e foi do quarto neutro para a escadaria esbranquiçada.

Estranho já que, mesmo em 1998 e em Slandivel, a maioria dos escadórios eram escuras. Jack Fhik preferia chamar atenção e por fim ficou por isso mesmo.

Seriam brancas

Algumas pessoas cochichavam sobre Jack dizendo coisas como o que ele tinha de beleza também tinha de determinação, ou coisas assim. E, como as palavras boas e apaixonadas por parte da maioria das moças, não poderia falta a inveja e os insultos por parte de alguns homens.

Apreciava observá-lo. O deslizar transbordava jovialidade e tensão, parecendo estar sempre escondendo algum segredo com aquele jeitão atípico que para ela era como um desafio.

Andrews e Jane estavam do lado de fora, onde havia gramado e algumas poucas pessoas caminhando. O comércio já fechara e a lua resplandecia de modo louvável nas poças de água.

Até Andrews aparecer e tirá-la de seus devaneios. Ele prosseguiu e tirou as mãos do bolso. Não passou muito tempo depois que chegara e lançara seus flertes. - Que boa oportunidade de rever uma menina bonita - os olhos iam da portaria para o rosto pálido da garota à sua frente que esfregava as narinas curvas e rosadas.

Andrews podia mesmo dizer coisas bonitas, mas sua insistência pesava.

Foi um dia longo, Jena tinha estado ocupada demais. Como haveria de não estar? Era um começo de ano com novas oportunidades, sem contar que os festivais de verão se aproximavam e com eles toda a preparação de eventos superestimados pelos senhores e senhoras de Slandivel.

RevengeWhere stories live. Discover now