Minha... O que?

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— Então, você e a Sina? Tá rolando mesmo? — Nour me pergunta sem rodeios no meio da nossa aula de história. Ela é a minha dupla nessa tarefa de ler sobre a Segunda Guerra Mundial e fazer um texto chato e grande sobre os principais motivos. Fico impressionada em como ela virou a conversa que estava em as estreias do cinema nessa semana para a minha vida amorosa.

Tiro os olhos do livro e a encaro, encontrando sobrancelhas arqueadas esperando por uma resposta. Pela visão periférica, consigo ver Sina dançando perto da lixeira enquanto aponta um lápis. Me forço a não olhar pra ela.

— Quem te disse isso? — Volto a olhar para o livro.

— Todo mundo viu vocês flertando perto da máquina de doces. Ela foi o seu Encontro de Um Dólar, não foi?
— Faço uma careta ao lembrar do nosso encontro horrível, mas não tão horrível assim.

— Ei, dançarina, dá pra senhorita sentar na cadeira? — A professora Son, sentada em sua mesa e lendo algum livro antigo, fala para a garota que estava perto da lixeira com um lápis e um apontador. Boa parte da sala irrompe em risadas e Sina fica vermelha, voltando para o lugar dela perto do fundo.

Mas é claro que ela não fez isso sem antes me dar uma olhada. Eu juro que tentei não dar um sorrisinho, mas todo mundo aqui já está careca de saber que eu não consegui. Pisco um olho para ela, que fica mais vermelha ainda e esbarra na mesa de Any, derrubando os acessórios de maquiagem que ela estava usando durante a aula. Any sempre usa as aulas que ela odeia para se maquiar, e usa o fato de sentar no fundo para que a professora nunca perceba. Ao lado de Any, Sabina joga um daqueles jogos chatos dela no celular e não liga absolutamente para nada ao seu redor. Podiam explodir uma bomba na escola que ela nem ligaria. Essa sim é a dupla exemplar da sala.

Eu e a Nour acompanhamos a cena se desenrolar.

— Foi mal, cara, nossa. — Sina se abaixa para pegar alguns batons no chão. Any me olha rapidamente, querendo rir.

— Fica de boa. — Ela tranquiliza Sina.

Lisa me olha novamente como quem diz "isso é culpa sua" e volta para o lugar dela, ela não tem dupla para essa tarefa. Eu teria me atirado ao lado dela me oferecendo pra ser sua dupla, mas Nour era minha dupla sempre e isso já era um trato entre nós. Nunca reclamei porque apesar de ser preguiçosa, Nour é muito boa em história. E eu sou uma catástrofe em qualquer matéria que envolva textos demais.

Voltando para a cena atual, apenas dou um sorriso convencido em troca para Sina.

— Tá vendo só, vocês tão totalmente se pegando. — Nour constata, me fazendo olhá-la. Haja gente entrometida nessa escola, viu. Mas Nour tem sorte que eu gosto dela, ou eu já teria feita ela engolir esse livro.

— Ela é boa, sabe. — Dou de ombros.

— Vai me dizer que ela tem pegada?  — Nour já esqueceu totalmente o caderno em cima da mesa, se virando para me encarar completamente. Os olhos dela estão acesos, loucos por alguma fofoca.

— E pra quê você quer saber disso?  —Volto a olhar para o livro, mesmo que não esteja lendo nem uma vírgula do que está escrito. E se eu disser para ela que Sina tem uma baita de uma pegada desgraçada e que beija bem pra caramba e ela começar a dar em cima dela? É sempre assim aqui na escola. Tem aquele menino ou menina que nunca ninguém deu a mínima, mas aí alguém começa a ficar com ele(a) e de repente todo mundo se interessa também. Eu não vou dividir a
Sina nem ferrando.

— Bom, algo de interessante ela deve ter pra você ainda estar dando moral pra ela. — Ela afima, e o pior é que essa chata não está errada. — Nunca esperei esse casal.

— Não é como se fôssemos realmente um casal. — Mas é bom você não achar que pode dar em cima dela por isso!

Você pode achar que estou exagerando, eu sei. Eu pareço uma maluca possessiva, mas acontece que a Nour dá em cima de todo mundo. Ela já deu em cima de mim, da Any e até mesmo da chata da Sabina. Any na época tinha dez crises de gay panic por dia, era triste. Eu dei logo um fora nela, na época eu ainda pagava de hétero aqui na escola. Momentos sombrios do meu ensino médio que não quero falar sobre.

— Se você diz. — Ela dá de ombros, finalmente desistindo do assunto e voltando a escrever em seu caderno. Nour tem uma letra horrível, tipo daquelas crianças do infantil.

— Uma caligrafia caía bem. — Alfineto ela, só pra implicar.

— Ah, é? Então vem escrever aqui, sua chatona. Você tá lendo essa página há quase 40 minutos! — Ela me belisca.

— Sai fora! — Estapeio a mão dela.

Quando o tempo de história acaba, ficamos sem professor na sala por alguns minutos até o professor do próximo tempo chegar. Nour voltou para o lugar dela perto de Sofya na frente, e eu permaneci no meu lugar. Any já está no quinto estilo de maquiagem dessa manhã, Sabina xinga o celular como se ele realmente pudesse ouví-la e Sina... Ela está olhando pra mim!

Quero ficar encarando-a também, mas tem algum imbecil cutucando meu ombro, querendo minha atenção.

O Encontro de um dólar - Siyoon ✔Onde histórias criam vida. Descubra agora