Parte V - 1

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Manhattan
25 de dezembro de 2017

O forno apitou repetidamente, anunciando que o peru estava pronto.

- Faltam apenas 20 minutos até os convidados começarem a chegar - Anahi murmurou a si mesma, vestindo luvas protetoras e pondo a bandeja flamejante bem no centro da mesa de jantar.

O apartamento estava enfeitado e milimetricamente arrumado para receber suas visitas. Na lareira se estendiam meias, bengalas, festões e luzinhas que piscavam sem parar. Também haviam os presentes empilhados sob a árvore e o trem que se movia a bateria ao redor deles. Além de todos os outros apetrechos natalinos que Anahi julgava absolutamente indispensáveis. Nem mesmo a cestinha de Sophie havia passado ilesa e estava repleta de renas, flocos e bonecos de neve para envolvê-la no clima de Natal.

A campainha tocou e a loira comemorou, empolgada, abrindo a porta com a filha nos braços, apoiada de uma forma que a deixava semissentada, pronta para os abraços dos convidados. Quando Christian as viu quase desmaiou de tanta ternura. As duas estavam de macacão vermelho, mas o de Soph simulava um traje de mamãe noel, com o bordado de um cinto preto na cintura. Ela também usava minúsculas luvinhas brancas e uma tiara tão pomposa que podia facilmente pesar mais que ela própria. Anahi, por sua vez, usava um decote fenomenal e saltos que podiam lhe ocasionar um traumatismo craniano caso chegasse a tropeçar e cair.

- Pelo amor de Deus, essa é a cena mais linda do mundo! Eu vou morrer do coração! - ele disse, abraçando-as fortemente.

- Ok, agora me mostre o que tem aí atrás enfiado debaixo da sua camisa - Anahi sentenciou, risonha. Christian desistiu do mistério e entregou seu presente com um sorriso satisfeito. Depois estendeu os braços, direcionando-os a Soph.

- Agora eu preciso esmagar essa coisinha tão pequena. Por favor!

Sophie gargalhou como se o compreendesse, estendendo os bracinhos de volta. Tinha ainda cerca de 4 meses e as vezes parecia muito mais esperta do que a pouca idade lhe permitia. Havia cativado a todos e agora não havia ninguém que não estivesse completamente aos seus pés, prontos para fazer todas as suas vontades. Isto é, balançá-la incansavelmente, cantarolar as mais diversas canções, fazê-la pular e às vezes sacudi-la como se fosse uma boneca de pano. Ela amava.

Anahi acompanhou Christian até a cozinha para que pudessem encher suas taças. Seu médico havia sido generoso em liberá-la para beber com muita moderação naquela noite. Isso era o que ele esperava... Seus convidados esperavam outro comportamento exatamente por conhecerem Anahi e seu mais absoluto despreparo para bebidas alcoólicas. Inclusive, grande parte do entretenimento das ocasiões em que se encontravam vinham do fato de Anahi não saber lidar sozinha com certa quantidade de álcool e acabar passando por situações realmente embaraçosas.

Em pouco tempo, os demais foram se juntando a eles e Annie se viu completamente satisfeita. O ano estava no fim e, de uma forma geral, havia sido muito bonito. Agora tinha família e amigos reunidos, Sophie rindo estridente por cada gracinha que lhe dirigiam, seu trabalho vinha se fortalecendo cada vez mais, tinha o prestígio de suas alunas e de outras companhias de dança, e estava razoavelmente bem em termos financeiros. O que mais ela podia querer? Tinha tudo que podia fazê-la feliz. Qualquer coisa além disso era um detalhe.

Ela estava na metade da segunda taça de vinho quando começou a relembrar e expor os constrangimentos da família. Só para ilustrar: de tão pouco habituada a bebida, geralmente uma taça a deixava suficientemente feliz e animada - para não dizer bêbada. E assim o que começou com brevíssimas bebericadas, agora estava se tornando generosos goles.

- Quando George trouxe a namorada siliconada devoradora de pernil... Tenho calafrios na espinha só de acessar essa terrível memória! - Anahi gracejou, exaltada. Reunida na sala de estar, com os olhos marejados de tanto rir, os convidados concordaram que a ocasião fora um completo fiasco, assim como o breve relacionamento do casal em questão.

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