Capítulo Um - Sintonia

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Henrique e eu estudamos na mesma escola e, durante o ensino médio, ficamos várias vezes, mas sem nunca engatarmos um namoro sério, visto que nenhum do dois queria se apegar durante a juventude, que é a fase das experimentações.

Anos depois, nós nos reencontramos numa festa da universidade onde eu estudava. Nessa época, ambos éramos universitários e cursávamos Direito, contudo, em faculdades diferentes. Eu na federal; ele na particular. Saímos da calourada diretamente para o motel mais próximo, onde transamos feito dois animais no cio. Após esse dia, de um sexo casual quente, perdemos outra vez o contato. Passaria anos sem ouvir falar de Henrique.

Ainda no decorrer da faculdade, tive a minha primeira experiência lésbica e, nela, aceitei, de uma vez por todas, que eram as mulheres que me fascinavam, me excitavam e me apaixonavam. A partir desse momento, somente elas entraram na minha vida íntima, fosse apenas para um sexo casual, fosse para um relacionamento sério.

Alguns anos depois de formada, fui contratada por um dos maiores escritórios de advocacia da cidade para chefiar a célula trabalhista. Para minha surpresa, Henrique era o chefe da célula cível daquele mesmo escritório.

Nas primeiras conversas, o assunto girou em torno das lembranças escolares, tanto de pessoas quanto de situações. Ocorre que, com o passar do tempo, depois de relembrar nossos amassos nos corredores da escola e nossa transa no pós-festa, ele começou a me paquerar de um jeito descarado nos corredores do escritório. As baboseiras de colégio deixaram definitivamente de ser o assunto. Nossas conversas ou eram sobre o trabalho ou eram sobre o desejo dele de transar comigo outra vez.

Não adiantou eu informá-lo que tinha me descoberto lésbica há anos. Parece que esse fato tinha piorado a situação, pois, ao invés de cessar, as investidas dele só aumentaram. Chegou ao ponto de ele dizer que havia ficado com mais tesão ainda em mim depois que soube que eu era lésbica. Do jeito que ele falava, pensei até que ele tinha assimilado que eu era bissexual, ao invés de lésbica. Eu não conseguia compreender o aumento da atração dele, mas... homem é um bicho bem estranho mesmo.

Para não deixar que o clima ficasse constrangedor, já que ali era um ambiente de trabalho, muitas vezes eu tentava levar na esportiva. Comecei, no entanto, a ser mais efusiva nas tentativas de pôr fim aos assédios quando descobri que ele estava noivo.

Karen. Esse era o nome da noiva de Henrique. Eu a conheci na primeira festa do escritório da qual participei, meses depois de começar a trabalhar lá. Ao primeiro olhar, Karen me deixou hipnotizada. Não somente por seus amendoados olhos verdes, sua boca generosa e seu corpo esculpido quase à perfeição, mas porque ela também tinha um charme descomunal. Discretamente, cravei meus olhos nela como se contemplasse uma deusa.

Enquanto isso, maldizia Henrique em pensamentos. Ele só poderia ser um completo idiota por cogitar em trair uma mulher daquelas. Mesmo assim, quis conferir se Karen tinha algum defeito grave de caráter visível de cara que fizesse Henrique querer dar suas escapulidas e fui conhecê-la. Concluí que talvez ele fosse apenas mais um sem-vergonha-incorrigível-que-não-pode-ver-uma-mulher, porque Karen era muito inteligente, articulada, bastante culta e bastante espirituosa.

Num dado momento da festa, enquanto Henrique conversava com alguns advogados associados ao nosso escritório, ele nos fitou com uns olhares estranhos, às vezes expressando tensão, às vezes, desejo. Embora eu ainda não o conhecesse a fundo, tive certeza de que os olhares tensos eram devido ao receio dele de eu falar alguma coisa sobre suas cantadas baratas direcionadas a mim; e, para o olhar de cobiça, apostei que ele tinha fantasiado algo sexual entre nós três. Conhecia demais aquele tipo.

No decorrer da nossa conversa, Karen e eu descobrimos bastante coisas em comum, inclusive, saímos da festa com um happy hour marcado para dali a uma semana com mais duas advogadas do escritório.

DESVENDANDO O AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora