Capítulo Dezesseis - O dia seguinte

2.4K 142 0
                                    

No dia seguinte, fui a primeira a despertar e perceber o que tinha acontecido na noite anterior. Abri o sorriso ao sentir a presença daquela pele quente colada ao meu corpo. Virei-me bem devagar e vi Karen, que dormia com o braço ao redor da minha cintura. Tirei-o lentamente de cima de mim para não a acordar e me levantei, saindo sorrateira do quarto. Preciso com urgência de café! Devido ao excesso de bebida, sentia minha cabeça pesada.

Fui até a sala à procura da minha roupa. Depois de vesti-la, caminhei até a cozinha e achei nas dispensas tudo que precisava para fazer meu café. Depois de pronto, escorei-me na bancada segurando a xícara fumegante em uma das mãos, enquanto pensava na loucura da noite passada.

De repente, a mulher que tinha se tornado dona de todos os meus pensamentos, apareceu na cozinha, vestida apenas com uma camisa larga de Henrique e com os cabelos amarrados desajeitadamente. Meu Deus, como você consegue ser tão maravilhosa assim logo de manhã?!

— Bom dia... — Ela me cumprimentou.

— Bom dia! — Sorri sem mostrar os dentes. Não queria me mostrar com tanta empolgação ao vê-la.

— Tem mais café? — Ela me perguntou.

— Tem sim. Fiz uma garrafa cheia!

Ela pegou uma xícara no armário e, depois, deixou que o líquido quente a preenchesse até o fim. Seguidamente, deu alguns sopros no café e tomou um gole. Eu observava cada mínimo movimento do seu corpo como se estivesse hipnotizada. Depois do gole, ela me olhou e disse:

— Não sei muito bem o que dizer sobre a noite de ontem.

— Será que alguma coisa precisa ser dita? Aconteceu e somos todos adultos para lidar com isso.

— Mas fiquei pensando sobre uma coisa.

— Que coisa? — Perguntei sentindo a ansiedade me invadir.

— Como nós ficamos?

Meu coração saltitou dentro do peito. Como assim como nós ficamos? Não me mata do coração, Karen!

— Acredito mesmo que não tenha acontecido nada entre vocês... — Ela continuou. — Por que você não quis, sei disso. Henrique não é nenhum santo e notei que ele tem uma enorme atração por você. E mesmo que agora ele saiba o que aconteceu entre nós, tenha até se divertido com isso... — Revirou os olhos. — Não sei se seria melhor a gen... Sei lá, é tudo tão confuso! — Ela encravou os dedos entre os cabelos.

— Olha, Karen, o certo seria eu sumir da vida pessoal de vocês, nem que fosse por um tempo. Como eu disse, isso seria o certo a se fazer, mas... — Olhei-a no fundo dos olhos. — Não é isso que eu quero!

Ela se aproximou mais de mim, tocou meu rosto com seus dedos macios, depois deslizou até meus lábios, e sussurrou:

— Também não quero parar de te ver...

Avizinhou seu rosto do meu e buscou minha boca. Demos um beijo delicado, mas intenso. Nossas línguas se procuravam com suavidade. Depois de nos afastar, nós nos abraçamos e lhe beijei o pescoço sugando o ar do local até ouvi-la dizer:

— O que você fez comigo, Sara?

Voltei a encarar em seus olhos. Não sei se ela percebeu, mas eles questionavam a mesma coisa. Não respondi, apenas preenchi sua boca com a minha de novo. Ao nos afastarmos, comecei a falar:

— Não sei se vou conse...

Karen me interrompeu com o dedo na minha boca e comentou:

— Shiii... Você está ouvindo isso?

Eram gemidos vindos do quarto. Meu Deus, Isa e Henrique! Como uma cobra que se esgueira pelos cantos, Karen caminhou até o quarto. Com receio de que ela pudesse ter alguma reação descontrolada, eu a segui.

A porta estava entreaberta e vimos Henrique deitado, apertando a bunda de Isabela, que cavalgava com vontade em seu pênis. Desviei meu olhar para Karen que assistia a cena com um semblante impassível. E, para minha surpresa, ela deu meia volta e retornou para a cozinha.

Quem ficou atônita fui eu e não com a transa de Henrique e Isabela, mas com a reação calma de Karen. Quando chegamos à cozinha, ela encheu sua xícara outra vez. Seu olhar estava longe e, enquanto ela bebia o café, perguntei:

— Karen... posso te fazer uma pergunta?

— Hum rum.

— Você não sentiu ciúmes ao ver o Henrique com a Isa agora?

Ela me olhou e confessou:

— Por incrível que pareça, não. E não sei o porquê. Tudo está tão confuso... E piorou depois de ontem.

Com a curiosidade atingindo níveis elevadíssimos, questionei:

— Por que você diz isso?

— Não sei te responder agora... preciso refletir sobre tudo...

— Entendo, mas voc...

— Sara, não quero pensar nisso agora. Vamos tomar café da manhã, pode ser?!

Assenti com a cabeça e ela foi até o armário, pegou várias coisas e começou a preparar panquecas. No momento em que terminávamos, Henrique e Isabela surgiram na cozinha. Ambos tinham tomado banho e Isabela também estava com uma camisa larga de Henrique. Eles nos cumprimentaram e o constrangimento logo tomou de conta do ambiente. Foi Karen quem quebrou o silêncio, dizendo:

— Venham. Sentem, que fizemos café e panquecas para todos.

Henrique se aproximou de Karen e lhe beijou o topo da cabeça. Isabela se sentou ao meu lado. Começamos a comer e o silêncio novamente reinou entre nós. Meu olhar sempre buscava Karen. Queria tentar decifrar o que ela estava sentindo e pensando. Entretanto, ela conseguiu ficar indecifrável. De um súbito, ela voltou a falar:

— Bom, em relação ao que aconteceu ontem... somos adultos, tivemos uma experiência bastante intensa, mas acho que foi isso. Apenas uma experiência. Vocês concordam?

Todos nós assentimos e ela continuou:

— Então, não precisamos falar mais nada sobre isso. Fica tudo como antes.

E como é ficar tudo como antes?! Explique-se melhor, Karen! E não me deixe mais angustiada do que já estou!

Apesar de sentir meu coração apertado, resolvi dizer tentando demonstrar uma indiferença que não existia dentre de mim:

— Concordo plenamente com você, Karen.

Foi a vez de Isabela corroborar:

— Eu também.

Por fim, Henrique disse:

— Por mim, tudo bem.

Assim que terminamos de tomar café da manhã, disse olhando para Isabela:

— Vamos embora, Isa? Tenho que ir, mas antes deixo você em casa.

— Vamos sim. — Ela se levantou e foi trocar de roupa.

Saí da cozinha para pegar minha bolsa e já ficar preparada para sair daquele apartamento e daquela situação que estava começando a me afligir.

— Não vão agora não. — Henrique até tentou nos convencer.

— Tenho mesmo que ir. — Eu disse. — A gente se ver amanhã. — Abracei-o. — Tudo como era antes, lembra? — Sussurrei no ouvido dele.

Isabela cumprimentou Karen e depois foi até Henrique. Nesse momento, caminhei até Karen, dei-lhe um beijo suave no canto da boca e, depois, dei-lhe um abraço apertado.

— Até qualquer dia desses...

Após desvencilharmos do abraço, nós nos entreolhamos por alguns instantes. Isabela estava de conversinhas com Henrique e os dois riam com cumplicidade. Nem ouvimos o que eles falavam, porque Karen e eu estávamos perdidas no olhar uma da outra. 

DESVENDANDO O AMOROnde histórias criam vida. Descubra agora