TACA O PAU, HANAKO!

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— O que está fazendo aqui, Yugi-san!?

Levantei a cabeça e quase caí da cadeira. O mundo girava.

— Q-quê? — questionei, a voz rouca de sono.

— Por que você está aqui? Acabei de chegar! — "repetiu" a bibliotecária.

     Forcei meu cérebro a acordar.

     "Eu provavelmente acabei chorando tanto que dormi aqui mesmo ..."

— Eu cheguei cedo demais e resolvi ler alguma coisa. Acho que acabei cochilando ... — menti, coçando a nuca de nervoso.

— Tudo bem, Yugi-san. Vai para a sua sala que falta uns quinze minutos para a aula começar. — aconselhou a moça de meia idade.

     Deixei o livro sobre a mesa dela e saí. Os corredores estavam um pouco movimentados.

     Senti como passavam um braço por meus ombros e puxavam-me para beeem perto.

     Era o meu irmão.

— Não vi você ontem à noite. Ia ser tão divertido~ ...

     A vontade de vomitar teria dado o ar das graças se eu tivesse comido o suficiente nas últimas 20 horas.

— Onde você passou a noite? Na casa de um dos seus amiguinhos? Talvez ... na da sua namoradinha, fazendo o que a gente ia fazer lá em casa ...?

     Neguei visivelmente com a cabeça.

     Sentia nojo dele. A fúria fervilhava em mim, fazendo meu sangue borbulhar em minhas veias. Meus punhos se fechavam com força, esbranquiçando os nós de meus dedos.

— Se você não tem coragem, então bem que eu poderia dar uma visitinha a ela e- ...

      O meu corpo agiu sozinho, usando minha fúria descontrolada como gás.

     Tirei seu braço de meu ombro, girei-o e joguei-o contra o chão com uma força que não sabia ter.

— Você pode me estuprar e fazer da minha vida um inferno na Terra, mas se você encostar em um fio de cabelo da Yashiro, que Deus tenha misericórdia de você, porquê eu não vou ter! — esbravejei.

     Dois segundos depois de ter surtado, quis sumir da face terrestre.

     O corredor todo olhava diretamente para mim, os olhos tão arregalados que pareciam pratos. E pior: justamente o Tsuchigomori estava parado no fim do corredor.

     "Um dia, Yugi, você vai se afogar em seus próprios sentimentos ou acabar explodindo no pior momento possível."

     Eu odiava quando ele tinha toda a razão.

     Minhas pernas decidiram que eu não recuperaria-me do choque a tempo e decidiram começar a correr. Correr rápido, e para bem longe.

     "Eu explodi ..."

     Conseguia ouvir meus batimentos cardíacos.

     "Eu explodi na frente de todo mundo."

     Meus olhos ardiam, e não era pelo vento causado por minha correria.

     "O Tsuchigomori viu tudo."

     Acabei trombando com alguém, mas continuei correndo.

     "O Kou e o Mitsuba podem sofrer por isso. A Nene pode sofrer por isso! Eu estraguei tudo! Eu puxei eles p'ra vala junto comigo! Por que eu não caio e morr- ..."

    Trombei com alguém de novo, e dessa vez eu caí. Senti terra fofa abaixo de mim.

— Hanako-kun? O q- meu Deus, o que foi!? — perguntou Yashiro, preocupadíssima.

— E-eu ... e-eu es-tra-a-guei t-tuuudoo ... — balbuciei, tremendo e aos prantos.

     Ela contou até três para manter a calma, ajudando-me a sentar.

— Hanako-kun, encosta as suas costas na parede. — pediu calmamente.

     Foi naquele momento em que percebi que estávamos no jardim. Minha corrida rendeu, afinal.

     A custo de muita força de vontade, fiz o que mandou.

— Posso encostar aqui? Vou subir e descer a minha mão beeem devagar. Mas só se você deixar. — indicou a área entre meu peito e pouco acima do umbigo.

     Consegui assentir com a cabeça.

— Certo. Eu vou contar até 5 e daí você puxa o máximo de ar você conseguir. Quando eu chegar no 5 de novo, você solta. Ok?

     Assenti novamente.

     "Um, dois, três, quatro, cinco, inspira. Um, dois, três, quatro, cinco, expira. Um, dois ..."

     Concentrei-me no toque suave, em minha própria respiração e na contagem. Aos poucos, fui acalmando-me.

     Yashiro suspirou longa e pesarosamente.

— Eu bem que suspeitava que você tinha ansiedade. Só não imaginava que estivesse nesse ponto.

— ... Quê?

— ' vive com a perna tremendo involuntariamente quando sentadado. E pensando demais no que pode acontecer. E ... bem ... ' acabou de ter um ataque.

     É. Ela tinha bons pontos. E eu meio que desconfiava um pouquinho.

— ... Yashiro ... eu não sei o que fazer!

     Contei bem resumidamente o ocorrido, desde a parte em que meu irmão pegou a gente no galpão. Ela olhou-me com nervosismo.

— Vai soar óbvio, mas não tem mais como esconder. E pessoas não surtam desse jeito se não houver um motivo válido. Então ... acho que ' mais do que na hora de dar um "basta" nisso tudo.

— E se não acreditarem em mim?!

— Eles vão. Vo' 'ta do seu lado o tempo todo e vou dar testemunho. Se não acreditarem em mim, eu chamo o Mitsuba e o Kou. A gente dá um jeito!

— ... Sério? — questionei, esperançoso.

Levou sua mão ao meu cabelo lento o suficiente para que eu pudesse negar o contato. Fez um cafuné delicioso, que dava uma sensação de lar.

Talvez porquê, mesmo com tão poucos meses em minha patética vida, a Yashiro se tornou meu lar. Meu refúgio contra tudo e todos.

— Que tipo de quase-namorada eu seria se eu não estivesse falando sério!?

Rimos como se ainda estivéssemos naquela laje, sob um cobertor de estrelas e com um telescópio ao lado. Queria sempre ter essa sensação.

Naquele momento, decidi que ia fazer de tudo para que tal sensação voltasse sempre. Mesmo que isso significasse enfim dedurar o Tsukasa e enfrentar o amor que meus pais nutriam por ele.

"Confie em mim" [Hananene]Onde histórias criam vida. Descubra agora