4. call you mine

166 28 6
                                    

oii vidinhas, voltei com a última att da semana. espero que gostem.


Meu pai sempre foi a pessoa mais importante da minha vida. Nós geralmente tínhamos algumas discussões – segundo minha mãe, é porque somos muito parecidos – mas eu sempre o amei. Dito isso, também é preciso mencionar o quão teimoso e cabeça dura ele é. Porque quando coloca uma ideia na cabeça, ninguém consegue tirar.

O fato é que, depois de uma notícia tão preocupante e desesperadora quanto a porra de um câncer de pulmão, a última coisa que eu precisava era uma das crises de "Eu estou no controle" do meu pai. Mas foi exatamente o que aconteceu.

Segundo ele, estava com Sirius desde a noite anterior e eles já haviam tomado algumas decisões. "Nossa" posição durante esse período deveria ser de transmitir confiança e positividade para Remus – guardando os pensamentos ruins para si. O problema era que esse plano envolvia evitar mudanças bruscas no cotidiano, o que significava que eu não poderia ir para Londres.

E me dizer para ficar em New York, longe de todo mundo e agindo como se nada estivesse acontecendo era simplesmente a coisa mais idiota que ele poderia ter feito. Porque Remus precisava da família por perto. E Sirius, que devia estar surtando completamente, também precisava da família por perto. E não se abandona a família.

Senti que eu estava contraindo a mandíbula involuntariamente de novo e tentei relaxar, mas era difícil. O pior era saber que eu ainda não tinha ligado para Remus, porque meu pai disse que era melhor esperar até o dia seguinte — que Remus precisava ficar sozinho e descansar um pouco.

Hermione suspirou baixinho.

— Harry. Eu e Rony estamos indo, mas pode nos ligar se precisar de nós, tudo bem?

Assenti, distraído. Hermione era minha melhor amiga desde o início da faculdade. Ela cursava direito e não morava perto de mim, mas acabamos nos aproximando mesmo assim. Quando eu a apresentei Rony, que cursava veterinária comigo, foi amor à primeira vista. Os dois eram grudados e, apesar de brigarem como cão e gato de vez em quando, se amavam muito.

Naquele dia, eles haviam ido a minha casa pouco depois do meio dia. Rony ficou sabendo por outro funcionário da clínica sobre o que aconteceu. Digo, o meu surto no corredor do consultório; como eu chorei igual um bebê e Neville precisou pedir um táxi para mim. Enfim, os dois basicamente me obrigaram a comer e a não pegar o primeiro voo para Londres enquanto eu não tivesse conversado com calma com meu pai. Acho que Mione conseguia ser ainda mais persistente do que eu imaginava. Agora já estava de noite, e os dois precisavam ir embora.

— Tudo bem. Podem ir.

Rony arqueou as sobrancelhas.

— Promete que não vai pegar um táxi para o aeroporto assim que sairmos daqui?

— Prometo, já disse. Vou esperar os meus nervos se acalmarem e conversar com meu pai amanhã de manhã.

— Ok. — Ele disse, se direcionando para a porta. — E Harry? — fez uma pausa. — Remus vai ficar bem.

Senti minha garganta secar e meus olhos umedecerem, mas segurei as lágrimas.

— Obrigada.

Mione me deu um abraço apertado antes de sair e fechar a porta.

Me sentei novamente no sofá assim que eles saíram, encarando a parede cinza a minha frente e pensando no quão perto de mim meu celular estava. Era só eu me esticar um pouco, pegar ele e enviar uma mensagem para o meu pai... depois de digitar um monte de xingamentos e palavrões.

Mas não iria fazer aquilo. Nenhum deles – Pads, Moony, Prongs, minha mãe – precisava de mais um estresse durante aquela noite.

E nem eu.

Por isso eu estava me levantando e caminhando em direção ao banheiro, para tomar um banho quente e depois ir dormir, quando ouvi a campainha tocar. Imaginei que Hermione ou Rony tivessem esquecido alguma coisa – ou talvez quisessem conferir que eu não tinha surtado durante aqueles cinco minutos – e fui até a porta, passando a mão pelo cabelo de maneira involuntária.

Mas a última coisa que eu esperava ao abrir a porta era ver Draco Malfoy, bêbado e parecendo acabado. Que porra estava acontecendo? Porque ele estaria na minha casa? Ele ainda lembrava o endereço do apartamento?

— Hm... Draco. Quer... entrar? — perguntei, um pouco atrapalhado e incerto do que fazer. Desde quando ele estava em New York?

Draco engoliu em seco, e eu percebi o quanto ele havia mudado. Não que eu não entrasse no Instagram dele às vezes, só por curiosidade, mas ver ele ali, na minha frente, pessoalmente, sólido... era muito diferente. Draco não era mais o adolescente que fora quando namoramos – era agora um jovem adulto, mais alto, mais forte, e que parecia... mais triste. Algum tempo atrás, soube pelo Facebook que sua mãe morrera, e me senti verdadeiramente triste por isso. Com toda a situação do casamento dela, sua morte prematura parecia ainda mais... trágica.

— Pode ser — ele murmurou, passando por mim e entrando no apartamento. Parecia tão bêbado que poderia cair no chão a qualquer instante. Vestia um moletom azul bebê e uma calça preta, uma peça que ele sempre havia amado. Caminhou até o meu sofá como se fosse se sentar, e então pareceu mudar de ideia. — Harry.

Franzi a testa, reparando que seu cabelo estava todo bagunçado. Ele sempre havia sido cuidadoso e vaidoso ao extremo com aquele cabelo.

— O que foi?

— Pode cantar para mim?

Aquela fala foi a prova de que qualquer conversa com seu ex-namorado pode sim se tornar ainda mais estranha.

— Draco, não estou te entendendo. — Respondi, sentindo minha paciência se esgotar. — Porque está aqui?

— Vim terminar a faculdade — ele respondeu, com a fala arrastada.

Embora eu estivesse perguntando porque ele estava na minha casa, e não na cidade, sua resposta me intrigou.

— Ainda não acabou a faculdade? — Perguntei, confuso. Pelos nossos planos ( da época que éramos adolescentes, da época que namorávamos) ele acabaria o curso um ano antes de mim.

— Não, idiota — Ele pareceu se irritar — Tranquei o curso por um semestre quando minha mãe morreu e depois consegui a façanha de rodar na mesma matéria duas vezes. Satisfeito agora? Depois de me fazer admitir a derrota e me humilhar por não ter sido capaz de concluir a faculdade depois de cinco anos, Harry? — Ele falou, claramente alterado. O volume da sua voz parecia aumentar a cada palavra, e eu já estava preocupado com os vizinhos acabarem acordando.

— Tudo bem, Draco. Tudo bem. Porque quer que eu cante pra você? — perguntei com calma, em uma tentativa de tranquilizá-lo.

Ele pareceu se lembrar do pedido que havia feito assim que chegou.

— Pra eu dormir.

— Quer que eu cante pra você dormir? Draco, eu não estou entendendo. Existe algum motivo para você estar aqui além do fato de estar bêbado?

Ele pareceu pensar antes de responder. O que suponho que não tenha sido muito útil, já que ele parecia bêbado demais para ter pensamentos racionais.

— Harry... Falei com meu pai hoje e ele falou tanta coisa que eu não quero pensar agora. Não quero pensar no quanto minha mãe morreu jovem depois de uma vida de bosta. Não quero pensar que se ela não tivesse engravidado de mim poderia ter sido feliz. Não quero pensar que o meu maior sonho era dar a ela uma vida melhor e ela morreu antes que eu pudesse fazer algo a respeito. Não quero pensar e a única coisa que me ajuda com isso é ouvir você cantar, mas a porra da internet parou de funcionar e eu vim até aqui para poder ficar mais calmo e dormir, então será que você pode, por favor, cantar pra eu dormir?

Fiquei calado. Porque não sabia o que dizer. Merda, nosso término havia sido horrível e eu senti tanta raiva dele, mas não o desejei o mal. Ele não merecia aquilo.

Fiquei calado, olhando nos seus olhos.

E então cantei para ele.

Second ChancesOù les histoires vivent. Découvrez maintenant