• Trinta e sete: parte dois •

107 28 72
                                    

Um silêncio pesado, como se água e não ar preenchesse o espaço entre nós, se estabelece

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

Um silêncio pesado, como se água e não ar preenchesse o espaço entre nós, se estabelece. É curioso como o território dos sentimentos se assemelha a areia movediça: incerto e perigoso. Nunca se sabe até que ponto é seguro pisar sem ser sugado para dentro dele.

– Vini... – inicio mais por força de vontade do que por ter algo de propriamente útil em minha mente.

– A bem da verdade... – ele me interrompe. Obrigada Deus. – Eu nunca compreendi como um ser humano se presta ao papel de permanecer apaixonado por alguém que lhe traz sofrimento e decepção. Mas aqui estou eu, alvo da minha maior crítica aos clichês adolescentes.

– Você está falando da – respiro antes de prosseguir –, Emma? – Ele assente.

Que pergunta estúpida, Catarina. Quem mais seria? A rainha da Inglaterra? 

– No início, eu sabia que ela gostava do Henry, então aceitei o fato de que os dois ficariam juntos. Porém, surpreendentemente, isso não aconteceu. Quando a reencontrei na África e confirmei que não havia mais qualquer relação entre ela e o meu primo, supus que Deus havia me dado uma segunda chance. Como se uma proposta com aparência de santidade fosse o suficiente para ser intitulada de propósito – suas palavras escapam baixas e sufocadas, como se ele as afirmasse mais para si mesmo do que para mim. – Pai, eu fui tão tolo.

– Vini, você não...

– Eu não ouvi a voz de Deus, Cat – seu tom é firme e resolutivo. – E não é como se Ele não falasse. Eu simplesmente não estava disposto a mergulhar em sua presença para entende-Lo. É triste, sendo eu cristão desde a infância, assumir que não possuía intimidade o suficiente para reconhecer a voz do meu Pastor. Todas as nossas escolhas carregam consequências, e a minha foi sofrer por alguém que nunca me amou de verdade.

– A culpa não é sua. Ela que não tinha dignidade o suficiente... ou caráter.

Okay, admito que talvez eu tenha ultrapassado alguns milímetros do limite da boa consciência. Para ser franca, até o nome dessa garota me causa aversão. Pode isso? Vini me encara com um sorriso sereno.

– Tudo bem, eu estou com a razão. Mas do que isso vale? – Fico surpresa. Como assim? Não é esse o ponto? – Por muito tempo pensei que tinha permanecido no Hospital Geral Maya Prinz, após a traição, simplesmente por ser uma boa pessoa desprovida de orgulho e vaidade. No entanto, percebi que era exatamente o oposto. Enquanto todos rechaçavam a Emma e o Vitório e me taxavam de benevolente, sentia a minha alma ser afagada com um certo toque prazeroso de vingança. Eu era o melhor e mais iluminado entre os seres humanos – a voz dele transparece um toque amargo de arrependimento.

Ao que parece, eu não sou a única a desejar voltar no tempo.

– Sabe, Cat, eu sempre julguei o Henry como o doente. Apenas ele estava corroído pela falta de perdão e precisava de cura, ao contrário de mim, que era sobrelevado – ele solta uma risada de escárnio. – Como eu estava errado.

Cordão de Três DobrasWhere stories live. Discover now