Capítulo XXXVII

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Nossas férias se iniciaram e faziam duas semanas que eu morava com Alicia. Foram duas semanas muito divertidas. Aconteceram algumas coisas durante esse ínterim. Nosso grupo começou a passar tempo juntos por razões inesperadas. Dave e Ashley se tornaram, de alguma forma, mais próximos. Os vejo sempre juntos, sempre rindo, sempre cochichando e... Quase sempre brigando também. Bem, nem ela nem ele admitiram um relacionamento mais profundo, porém, tenho motivos para acreditar que exista. Mark, nos contou recentemente que quer se formar em literatura e pretende ser um professor da área, desde então, ele e Dener vivem conversando e marcando encontros, o que envolve a minha presença e as dos demais. Nesse momento, estamos na casa do professor.

Dave está no sofá conversando animadamente com Ashley. Dener está de pé diante a sua estante enorme de livros junto de Mark. Conversam sobre algumas obras literárias antigas. E eu estou sentada em uma pequena mesa no canto da sala com uma xícara de café em mãos, observando a janela. Levei a xícara a boca, mas antes que ela a alcançasse eu a paro no ar quando meu celular vibra. Uma mensagem. Suspiro e deixo a xícara sobre a mesa pegando meu celular. Uma mensagem do meu pai. Gelo. Entreabro a boca involuntariamente. Alguns minutos depois, sinto uma mão tocar minhas costas delicadamente.

-Tudo bem? - pergunta Dener.

-Eu não sei, é meu pai.

-Aconteceu alguma coisa? - ele pergunta franzindo o cenho.

-Não, ele quer me encontrar... Quer dizer, nos encontrar, eu e você. Agora. - digo.

Dener pensa um pouco antes de levantar meu rosto para ele com o dedo indicador colocado abaixo do meu queixo.

-Quer ir? - indaga com um sorriso charmoso nos lábios.

Pondero um pouco, mas logo respondo:

-Claro. - lhe lancei um sorriso fraco.

-Okay, vamos então.

Dener pediu licença a todos e afirmou que sairíamos para resolver um assunto, mas disse a eles que poderiam nos esperar na casa. Ninguém questionou o que faríamos, ainda bem, seria difícil explicar com tudo o que houve entre mim e o meu pai.

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Chegamos a minha casa. Ele disse que nos encontraria lá. Entrei com Dener e meu pai ainda não havia chegado. Observei cuidadosamente o local, parecia que eu havia ficado milênios longe.

-Nem percebi o quanto eu senti falta. - murmurei enquanto encarava uma foto minha e de minha mãe na parede.

-O quê? - perguntou Dener.

-Nada. - virei-me para ele animada. - quer alguma coisa?

-Na verdade, sim, estou com um pouco de sede. - ele disse meio tenso.

-Sente na sala, eu pego água pra você. - afirmei andando em direção a cozinha.

De repente, eu me sentia a vontade de novo em minha casa. Não a vontade completamente porque até mesmo quando eu morava nela não me sentia assim, mas naquele momento parecia a minha casa, só isso.

Abri a geladeira como normalmente fazia, e a primeira coisa que eu vi foi aquela garrafa de cor escura prestes a cair, mas não houve tempo nem para pensar, ainda estendi a mão e gritei:

-Não!

Porém, meus dedos não a alcançaram e o estrago estava feito. O vinho manchava o chão aos meus pés como sangue e os vidros de cor verde estavam espalhados naquele líquido de espessura um tanto grossa. O que eu fiz? Fiquei de joelhos no chão sem pensar e comecei a tocar naquele vidro molhado de vinho, tentando usar todo o meu cérebro para pensar em meios de concertar aquele grande infortúnio. Minha saia estava ficando encharcada. Senti uma enorme pressão no peito e na cabeça. Lágrimas estavam descendo sem parar como uma cachoeira. Como fui capaz de fazer isto? Meu pai me chamou para conversamos e o que faço ao chegar em casa é quebrar o vinho que minha mão deu para ele de presente, o vinho que ele tanto estima após a morte dela.

Escuto passos vindo em direção a cozinha e logo Dener grita meu nome:

-Emily!

-Eu quebrei Dener, eu quebrei a coisa mais valiosa que o meu pai tinha como lembrança da minha mãe! Como pude! Meu Deus! - não consegui levantar o rosto para ele, meus olhos estavam, presos naquele vinho despedaçado no chão.

Escuto mais passos, dessa vez mais lentos e uma segunda voz chamar meu nome ao chegar a cozinha:

-Emily!

Era voz do meu pai. Meu coração desfaleceu. Levantei meus olhos para ele, seu rosto estava contraído e perplexo. Eu o desapontei. O que faço? Minhas lágrimas se intensificaram e minha boca começou a se abrir.

-Eu sint...

-Querida! - interrompeu-me meu pai, aproximando-se com rapidez e me levantando pelos braços. - Meu Deus, você se cortou!

Só agora eu percebia que uma dor lancinante vinha da minha mão e uma menor vinha dos meus dois tornozelos. Porém, nada me chocou mais do que a expressão de preocupação vinda do meu pai. Ele me levou até o sofá e sua voz ecoou pelo cômodo em direção a Dener:

-Por favor, pegue o nosso quit de primeiros socorros, está dentro do armário na cozinha.

Dener obedeceu com velocidade e logo meu pai estava cuidando das minhas feridas. Olhei para as pernas e a meia-calça que eu usava estava cortada de várias formas. Eu ainda chorava, não conseguia parar nem levantar mais os olhos para meu pai.

-Pronto. - ele disse depois de um tempo. - com isso não vamos precisar ir ao hospital, nenhum vidro entrou profundamente, mas se quiser ir... - senti seus olhos em mim. Não o respondi. - escute, sei que está chateada comigo, mas...

-O quê? - indaguei sem entender.

-Entendo se ainda estiver chateada comigo. - ele repetiu.

-Pai, quebrei o vinho que a mamãe lhe deu, não está com raiva de mim? - perguntei baixinho e baixando os olhos.

Escutei seu suspiro pesado. Ele levantou meu rosto assim como Dener fez mais cedo, colocando um dedo abaixo do meu queixo.

-Está tudo bem querida. - ele disse com um sorriso simples. - é só um vinho, um vinho bastante caro que, com certeza, eu não cometeria a loucura de comprar, mas, ainda assim, é apenas um vinho, além do mais, eu o tirei de onde estava originalmente e o coloquei na geladeira de mal jeito, a culpa não foi sua. - ele passou a língua nos lábios, nervoso. - você é o maior e melhor presente que a sua mãe me deu e eu não estava dando valor ultimamente, por isso, eu sinto muito. - ele segurou minha mão enfaixada entre as suas. - eu gostaria de saber se você pode me perdoar, minha garota? Você pode perdoar o seu pai por ter sido um completo idiota com você? - ele pergunta com a voz embargada e um sorriso esperançoso.

-É claro pai. - respondi com a voz quase presa e lhe dando um abraço forte o qual ele retribuiu.

Há quanto tempo eu não sentia os braços do meu pai me envolvendo em um abraço como esse? Eu estava tão feliz como nunca imaginei que estaria. Finalmente, eu fiz as pazes com meu pai, finalmente poderíamos compartilhar a dor e as lembranças que temos. Finalmente, tentaremos nos erguer juntos de todo o sofrimento que nos cobriu com a partida da minha mãe, porque isso é tudo que precisamos, ainda estamos presos nisso, necessitamos superar juntos e não cada um no seu próprio mundo como estávamos fazendo. Até porque, no fundo, sabíamos de que tudo o que precisávamos após a morte da minha mãe, era um do outro.

Oh, 😯 Eles estão fazendo as pazes??? Será que vai dá certo? Próximo capítulo vocês terão a continuação dessa conversa. Deixem minha estrelinha ⭐🥺 pfv e comentem às opiniões de vocês! 🥰❤️

O Que Há Nas Entrelinhas?Where stories live. Discover now