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É normal se sentir curiosa com pessoas do passado, certo? Creio que sim, pois, mesmo após dez anos, continuo me perguntando por Ruel. Nada em específico. As vezes, apenas, me pego me questionando sobre a cor do cabelo dele, se ele continua alto ou, até mesmo, se lembra de mim. Acho que não. Já se passaram muitos anos. Alimentar essa esperança seria burrice. 

Eu estaria mentindo se dissesse que essa curiosidade não me levou a lugar algum. Levando em consideração que passei incontáveis horas pesquisando seu nome nas redes sociais, sem obter nenhum sucesso, é claro, eu estaria mentindo muito. Pode me chamar de obcecada, mas pedi ajuda até para pessoas que eu não era tão próxima. O que foi? Persistência é uma das minhas melhores características. Ou a pior delas. Não dá para saber.

Uma hora ou outra eu teria que superar. Mas parecia impossível algumas vezes. Tinham dias que eu acordava e nem me lembrava que ele já havia passado pela minha vida, mas haviam outros que eu só conseguia pensar nele. Em todos as horas, minutos e segundos. Talvez ele fosse minha maldição. Ou apenas a lembrança de um tempo bom. 

De qualquer forma, essas últimas semanas foram estranhas. Tudo o que eu conseguia pensar estava relacionado a ele. Não faço a menor ideia do motivo. A única coisa que eu sabia era que, independente do que eu estava fazendo, sua imagem invadia minha mente. Ora seus grandes olhos, ora seu sorriso de canto. Tudo isso me deixou... nostálgica? Talvez. Apenas não conseguia tirar sua imagem da minha mente.

Acho que isso foi apenas uma tentativa do universo tentar me preparar para o que estava por vir. Ou então, um aviso prévio de que não existem coincidências. Por que, quando o destino quer, ele é capaz de colocar a coisa que você mais almeja na sua frente e, se você não for esperto o bastante para entender os sinais e tomar alguma atitude, ele a toma de você. Mas fique tranquilo, quando duas vidas são destinadas a se cruzar, o universo da um jeito. Mesmo que seja da maneira mais estranha possível. Como em um shopping.

- Eu já disse, Olivia. - falei olhando nos olhos da minha melhor amiga - Nós éramos melhores amigos até que um dia ele sumiu. Fim da história.

- Não é possível, Faye. Deve ter mais alguma coisa que você está esquecendo.

- Não tem, Liv. Eu me lembro de cada mísero detalhe. Isso não faz sentido algum! Por que eu me lembraria de alguém tão... - as palavras morreram totalmente quando resolvi prestar atenção no garoto que estava passando bem na minha frente. 

Em todo esse tempo que estávamos no shopping, eu não havia reparado em ninguém. O que é irônico se você pensar que estávamos sentadas em um banco, uma ao lado da outra, conversando e vendo as pessoas passarem. Mas aí ele apareceu e meu coração parou por um segundo, então eu tive certeza. Eu reconheceria aquele cabelo loiro em qualquer lugar do mundo. 

Ruel estava mais alto do que eu imaginava. Bem mais alto. E bem mais bonito também. Seu rosto continuava com os mesmos traços, só parecia mais adulto, e ele usava anéis, colares e pulseiras. Ele estava tão igual, mas tão diferente. Um diferente bom, claro.

- É ele. - falei em meio a um suspiro.

- Vai atrás dele! - minha melhor amiga disse.

Mas já era tarde demais. Eu desperdicei a primeira oportunidade que o destino me deu. O problema foi que aconteceu tão rápido que nem tive tempo de raciocinar.

Acho até que essa é uma das maiores graças do destino. Ele brinca com você. Te dá uma oportunidade em um momento aleatório para que você não tenha tempo de pensar. Te faz achar que estragou tudo quando vê a pessoa que você mais queria que aparecesse ir embora sem nem ter notado a sua presença, para, depois, te mostrar que nem tudo está perdido. Mas, até isso acontecer, você perde umas boas noites de sono.


courage - Ruel Van DijkOnde histórias criam vida. Descubra agora