Capítulo 1

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Meses antes


Acampamento de verão escolar? - perguntei desanimada.
Estávamos no horário de lanche e minha melhor amiga tentava me convencer de algo que eu não queria enquanto colocava carne, purê, arroz e uma caixinha de suco em minha bandeja, dirigimo-nos em passos largos a uma mesa no centro do refeitório.
-Ah, vamos vai ser legal.
-Não, temos prova de matemática, lembra?
-Se divirta pelo menos uma vez na vida, além disso é considerado uma atividade extracurricular, ganha pontos.
-Nós já estamos caminhando pro terceiro ano, a prova é ano que vem e...
- Como você disse é ano que vem, pense nos gatos que vamos encontrar lá, só tenho que perder alguns quilinhos engordei muito nessas férias.
Fingi analisar suas gordurinhas, Jessica era o estereótipo perfeito para qualquer menino, cabelos cor de mel, olhos azuis, tinha muitas curvas e sempre se importava com a sua aparência, mas não o suficiente para se tornar arrogante ou mimada, talvez esse fosse o motivo de não atrair muitos garotos para si.
-Você está ótima -afirmei.
-Porque você não viu por baixo da minha roupa- ela levantou sua blusa de veludo, apontando para sua pele que tinha poucas dobras.
-Você só está um pouco acima do peso.
-Por isso estou dieta.
Abriu uma barrinha de cereal e começou a comê-la.
-Você só precisa se arriscar um pouco Belle, deve haver uma fila de meninos atrás de ti, só que você não faz nenhuma questão.
-Meu coração está trancando, quero esperar a pessoa certa.
-Não estou dizendo pra você ir pra ficar com alguém, apenas vá.
-Você não vai parar de insistir não é?
Suspirei com um falso ar de indignação.
Ela balançou a cabeça.
-Ok, Ok, eu vou.
Ela deu gritinhos de alegria.
-Precisamos arrumar nossas coisas, ele começa daqui a 1 semana.
-Daqui há uma semana é o aniversário do Theo.
-Depois, eu sou a viciada em garotos- disse revirando os olhos- você decide, ele ou o acampamento.
-Vou dar um jeito de ir para os dois.
O sino tocou.
-Depois sua casa? - falei enquanto levantamos.
-Tudo bem.
Sentei na terceira cadeira ao lado da porta, como de costume com Jess ao meu lado, e encarei o piso de mármore no chão, pensando em meu sonho, como poderia ser tão real?
Ouvi a maçaneta se abrir, e o professor entrou, ele era um sujeito barrigudo, careca e usava óculos de grau.
Sentou-se em sua mesa de madeira, folheando papéis pegou um giz de cera e foi para a lousa.
Rabiscou algumas palavras que significavam A Segunda Guerra Mundial.
-Então o que vocês entendem sobre isso? Uma pessoa apenas.
Olhou-nos com curiosidade, atento aos nossos gestos.
-James? - indagou para o menino que estava conversando, possuía cabelos castanhos e usava uma blusa verde.
-Senhor?
-Poderia me dizer o que significa A Segunda Guerra Mundial para você?
-A soberania de Hitler.
-Estamos a meio caminho andado.
Colocou um slide em um data show, que tinha os principais motivos para guerra ter ocorrido.
-A guerra começou por causa do Tratado de Versalhes, a Alemanha, Itália e Japão estavam insatisfeitos com essa ordem Internacional enquanto a França e Inglaterra almejavam mantê-la intacta e manobravam a Liga das Nações.
Minutos depois a campa soou terminando a aula.
- Irei passar uma tarefa pra vocês, mas quero que façam apenas no acampamento, vocês terão que conhecer uma pessoa, a que for sua dupla na próxima aula e mostrar como lidar e não lidar com as diferenças, uma versão sem guerra e com guerra.
Ele se retirou da sala, e esperançosa saí para procurar Jessica, no meio do caminho esbarrei em Theo e derrubei seus livros.
-Sinto muito -falei enquanto o ajudava a arrumá-los.
-Tudo bem - sai correndo e senti algo me puxar de volta -Eii?
- O que foi?
- O que aconteceu? Você está estranha comigo! É o seu pai?
Tentei mentir mas o olhar em meu rosto falava muito mais do que deveria.
Concordei com a cabeça.
- Há alguns dias atrás tive um sonho, sequestravam a minha mãe e eu não podia fazer nada, não tinha controle sobre o meu corpo, minhas palavras, era como se eu visse alguém que vestia o meu rosto tomando as ações que deveriam ser minhas de mim, esse alguém corria atrás do agressor mas o perdia de vista. A dor que eu senti quando presenciei isso foi indescritível, acordei como se a minha energia tivesse sido drenada pelas lágrimas, era tão real -falei com a voz rouca, senti meus olhos se encherem de lágrimas e deixei-as cair.
Ele colocou seus braços ao meu redor e apoiei a minha cabeça em seu abdômen
-Vai ficar tudo bem- disse ele me abraçando - sonhos são apenas isso, sonhos -Jessica sabe disso?
- Não -murmurei- e se isso for acontecer? Não quero colocar ela em perigo.
- Não irá acontecer, e se acontecer eu irei protejê-la o máximo que posso, prometo- beijou o alto da minha cabeça.
Um alívio passou pelo o meu corpo e afastei o sentimento de dor.
- Mais alguma coisa que deseja compartilhar comigo? -brincou.
Theo assim como Jessica, era o tipo perfeito para qualquer garota, além de ser carinhoso, amoroso, bom ouvinte, e um ótimo amigo, possuía cabelos lisos castanhos-claro, olhos amendoados e um ótimo porte físico, o conhecia desde criança e desde lá nossa amizade iniciou.
-Vamos sentar, minhas pernas estão doendo - fingi que iria cair.
-Escadas?
-Sim.
Após alguns passos estávamos sentados nos degraus em frente do Wildest High.
-Acampamento de verão, você vai?
-Sim, além de ter pontos extras, vai me tirar um pouco de casa.
-Algum problema com a sua família? -perguntei preocupada.
-Não, o mesmo de sempre, meus irmãos menores que estão com esperança de que meu pai apareça, e a minha mãe que se finge de forte para não transparecer o sofrimento, mas sei que ela é frágil e temo a qualquer momento que ela quebre.
-E ele está morando com aquela mulher?
-A amante? Sim.
Um silêncio se estabeleceu entre nós.
Ouvi o sino do último tempo soar e Jess saiu pela porta.
Ao nos ver, revirou os olhos e veio falar comigo.
-Por que saiu tão cedo? - me interrogou.
-A epidemia.
Uma epidemia de virose desconhecida assemelhava-se a uma praga, havia atingido uma grande parte da população da Califórnia, incluindo os professores titulares e substitutos.
- Sorte a minha que foi aula de gramática, se eu visse alguma coisa de biológicas na minha frente surtaria, vamos?
Sinalizei com um dedo um minuto e corri até Theo dando-lhe um abraço.
-Obrigada -sussurrei em seu ouvido -nos vemos depois?
Em um gesto disse que sim.
-Vamos - caminhei ao lado da minha amiga.
Contornamos a escola indo até a sua parte traseira onde se encontrava o estacionamento. Ela pegou as chaves do carro, apertou um botão e ele destravou, entramos no seu Honda CR-V cinza com cheiro de recém comprado.
-Ainda tento entender, como os seus familiares, compram- esse tipo de coisa pra você.
-Presente de aniversário -falou calmamente - não muda de assunto, eu sei que você gosta dele, está tão cristalino que não tem nem como ficar mais transparente.
- Somos amigos -argumentei.
-Ainda bem -falou aliviada- ele não é o cara certo pra você.
- Não baseie suas concepções em uma briga de anos atrás.
- Até hoje John não olha pra mim por causa do seu amigo.
- Vocês eram crianças, não foi totalmente de propósito, tentem se dar bem por mim, por favor-implorei.
-Tudo bem, mas ele tem que fazer a parte dele, esse não é o único problema, tem vários deles, ambos estão enfrentando momentos difíceis e são amigos, e se não der certo? E se vocês terminarem definitivamente em todos os sentidos?
- Eu sei -falei cansada- é por isso que eu deixo as coisas como estão - é melhor ter garantia de algo que é certo do que nadar em meio a um rumo desconhecido.
- Eu só estou falando isso porque não quero que se machuque - apertou o volante e girou a chave.
Suas palavras me silenciaram.
Cruzamos na Hanford e seguimos direto para a casa dela.
Era uma casa moderna grande feita de alvenaria, madeira e drywall, na parte de baixo, no segundo andar se localizava o porão junto com o aquecedor e a lavanderia, e em um espaço mais reservado, duas cadeiras de massagem de couro preta e um local de jogos, a casa era tão confortável que me sentia muito bem lá.
Chegamos e em frente da casa havia uma piscina, olhei com desejo para ela afim de banhar-me ali.
Senhora Hall parou em nossa frente na entrada.
-Eii  -gritou ela -entrem!
Ao entrarmos colocamos os nossos sapatos no sapateiro.
Me deparei com um roupeiro bem escolhido de casacos para o inverno.
-Venha -disse ela agarrando a minha mão.
Subimos as escadas e fomos para o seu quatro.
Igualmente com o piso de madeira, sua cama ficava em frente a um closet e uma penteadeira de dispunha do lado oposto da janela.
- Então, o que houve?
-O quê? - perguntei distraída.
- Eu sei que há algo de errado senão não estaria abraçando o Theodore e chorando apesar dos seus sentimentos por ele.
-Como você soube?
-Estava indo no banheiro e vi tudo.
Suspirei e lhe contei tudo sobre o "sonho".
- E você não acha que pode ser real?
-Temo que sim.
- E você viu ele, que chances teria de descrever a pessoa que queria ajudá-lá?
-É nisso que tenho pensado.
-Ainda está com aqueles arquivos do seu pai?
-Sim, sei o que está pensando, vou dar uma olhada nos papéis pra ver se ele é um dos procurados da polícia.
-E quando vão tirar os arquivos de lá?
-Amanhã.
-Significa que você terá que roubar?
-Pegar emprestado eu diria -dei um sorriso nervoso.
-E se isso não der em nada? Não passar da minha imaginação?
-Pra isso teremos que descobrir.
A escuridão nos cercava revelando as horas
-Tenho que ir.
Dei um beijo em sua bochecha e fui para o meu lar.

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⏰ Last updated: Dec 19, 2020 ⏰

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