É normal eu odiar o fato de eu não lembrar do rosto da minha bisavó mas o sorriso e os olhos dela?...
Eu herdei os olhos dela.
Eu e ela éramos as únicas a ter aqueles olhos.
Verde musgo, mas que pode ficar muito claro, ou muito escuro.
Eu lembro o olhar tão gentil dela, e eu vejo o olhar dela no meu.
O sorriso sem dentes, aquela risada banguela, eu amava aquela risada.
Eu amava minha bisavó.
Mesmo que eu só a via uma vez na semana, eu me separei da família do meu pai por conta dela. Ela era minha luz.
E agora, eu fiquei sem ela por tanto tempo, que não consigo parar mas pensar que eu talvez preferia não ter nascido do que perder ela.
E o fato de que minha prima de 4 anos pode ir contra os mesmos problemas que eu se eu querer me matar.
Vó Lola, era o apelido que eu chamava ela, não?
Não conseguiu chorar na morte dela, mas que irônico. Agora, choro até de mais.
Acho que ela deve ser o resultado do porquê gosto tanto de história, ela adorava me contar sobre sua época.
Mas, agora não consigo parar de pensar, que logo logo, o mesmo vai acontecer com o meu avô materno.
O que me ensinou que astronomia me retira da realidade.
Talvez eu me enterre e me prenda longe do mundo? Talvez! Mas, esse é o propósito do White Void. Um livro que eu escrevi.
Onde eu me prendi do mundo, apenas para criar um novo. Algo perfeito! Sem defeitos.
Apenas, se não fosse pelo fato de eu, ser no caso eu do passado.
Eu do passado que não sabia confortar as pessoas, eu do passado que não chorava. Eu do passado que era tão ingênua. Eu do passado que não sabia a tamanha merda que o mundo era. Eu do passado que não sabia o quão inútil eu era, e talvez ainda sou.
Irônico não?
Feliz janeiro, eu acho.