Capítulo 12

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Regina acordou muito animada na manhã seguinte, batendo na porta do quarto de Lauren e Camila, gritando:

— Abram a porta ou juro que chamo os bombeiros! - Lauren colocou um roupão e correu até a porta.

— Está louca? Desse jeito vai acordar Camila.

— Essa é a intenção! Ou você acha que vou vagar pelas lojinhas desse fim de mundo sozinha?

Ela correu de janela em janela e abriu as cortinas. Os raios de sol invadiram a cabana e Camila não teve para onde escapar. Depois do café da manhã, elas passaram as horas seguintes perambulando pelas pequenas lojas da comunidade de lenhadores. A maioria só vendia artesanato, mas no final da rua, que parecia não levar a lugar algum, encontraram o necessário para usar na cerimônia. No caminho de volta ao chalé, Camila baixou o vidro e desligou o ar-condicionado. O ar fresco do campo entrou no carro bagunçando seus cabelos, mas ela não se importou. Era um lugar primitivo, intocado pela agitação da vida moderna e ela estava gostando disso. Aliás, precisava disso. Após o almoço, Regina arrastou Camila para o seu quarto. Embora fosse tudo de última hora e não houvesse convidados além dos próprios hóspedes do chalé, ela queria preparar a amiga para esse dia tão especial. No quarto ao lado, Lauren também se preparava. A morte de Christopher lhe fazia lembrar de como o tempo era precioso e fugaz. Como as vezes a vida acabava com as boas intenções e não dava nenhuma outra chance de dizer ou fazer o que realmente importava. Quando se olhou no espelho, já estava pronta. Os cabelos longos e loiros estavam puxados para trás, presos em um rabo de cavalo, realçando os traços que faziam Camila e qualquer mortal perder o fôlego.

Uma calça de linho branco e uma camisa também em linho, azul-claro, presa dentro da calça, deram uma certa elegância ao seu modo quase sempre despojado de se vestir. Por fim, calçou os chinelos artesanais e deixou o quarto. Lá fora, o ar, de repente, parecia ter parado. Tudo estava silencioso. Era como se a natureza estivesse prendendo a respiração. Para se distrair dos pensamentos, Lauren voltou a atenção para os patos do outro lado do lago. Em algum lugar, um rádio tocava uma música antiga. Por um longo tempo, ela ficou olhando para o lago, os braços cruzados, o rosto impassível. Até que o padre da cidadezinha apareceu. Ela trocou algumas palavras com ele enquanto o recepcionista cubano organizava uma banda, por conta do chalé, para que tocasse durante e após a cerimônia. Afinal, era o casamento gay da filha de um governador, e esse evento atrairia milhares de turistas durante o ano inteiro, especialmente os da comunidade LGBT.

Os hospedes do chalé foram convidados e todos estavam lá, eufóricos. Um jornalista amigo de Regina também estava presente, pronto para registrar todos os detalhes da cerimônia. E quando Camila apareceu, tão linda dentro de um vestidinho branco de renda, a multidão começou a aplaudir. O olhar que Lauren lhe lançou era uma bonita combinação de amor e felicidade. A cerimônia foi tão rápida quanto o Sim que elas pronunciaram. Os anéis artesanais que para muita gente não teria o menor valor, para elas era o símbolo de um amor verdadeiro e tão discriminado.

Sob o som de Over the rainbow, de Judy Garland, o padre as declarou casadas. Os lábios delas se tocaram, suaves, macios, e salgados por causa das lágrimas de emoção. Enquanto brindavam, Camila se deu conta de que o pai não estava lá, nem o irmão. A dor daquela realidade na qual deveria se acostumar a incomodou um pouco, apesar de tudo. Lembrou-se das coisas que pelo menos naquele momento seria melhor esquecer, do relacionamento familiar que fora perdido ou nunca se construíra.

Foi quando Regina pediu a banda para que tocasse alguma coisa animada, que o sorriso de Camila voltou a brilhar. Elas se arriscaram na dança latino-americana enquanto saboreavam uma piña colada. Horas depois, já haviam escapado do aglomerado de gente e se refugiado na cabana aquecida pelo fogo que crepitava na lareira. Camila lutava com os botões da camisa de Lauren e precisou arrancá-los para se livrar da peça. As mãos subiram pelos ombros e depois desceram pelas costas nuas, os dedos ansiosos puxando o zíper da calça. O ar fresco da noite invadiu a cabana através da janela semiaberta, provocando arrepios na pele de Camila.

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