Frozen Heart - Coração de Gelo

Coração de gelo

Lena

Eu poderia ter assinado uma sentença de morte com minha mentira. Mas ele não fazia ideia de quem eu era e eu preferi manter assim. A fome me obrigara a mentir, precisava comer com urgência. Precisava comer por minhas irmãs. Elas só tinham a mim, e apesar de Kiara estar em uma idade boa para se casar, ainda não havia um pretendente. E isso incluía Julian. Nunca poderia confiar ela a alguém como ele. Kiara era doce e merecia alguém que a amasse. Kira ainda era pequena demais para se preocupar e eu a mais velha.

Não havia beleza em mim para chamar atenção de um bom partido. A pele fria, mãos ásperas de tanto carregar lenha e alguns machucados. Meus cabelos não eram dourados e esvoaçantes como os de Kiara. Eram mais escuros que o céu noturno do inverno que fazia lá fora. Meu rosto entregava minha fome, uma garota perdida no próprio caos. Essa sou eu. O nome é só um detalhe.

- Lena, de onde você vem? - ele não havia trocado uma palavra após me passar a sacola com frutas. Eu havia devorado todas em alguns segundos. Mas ainda tinha fome.

- De um vilarejo ao sul. - De forma alguma eu entregaria meu verdadeiro paradeiro.

- Você sabe ler?

- É claro que sim! Que pergunta é essa?

- Bom, a maioria das mulheres não sabem ler por essas terras. Você veio de família nobre não foi? - o olhar reluzindo sua curiosidade. Era a primeira vez que vi seu olhar.

- Minha mãe foi empregada na casa de um nobre certa vez. Não que isso seja da sua conta. - quando percebi as palavras já haviam saído.

- Arisca. Espero não ter problemas com você.

Apenas encarei o horizonte. Não queria pensar muito em que tipo de problemas ele se referia. Apenas imaginava o quão difícil estava sendo para Kiara voltar até a casa de tia Mérida.

***

KIARA

Dez dias. Ela havia partido para o Norte há dez dias e eu não conseguia parar de contar os dias para que voltasse logo. Nenhuma notícia de Karin até o momento me deixava angustiada. Kira estava tentando me ajudar na cozinha, enquanto tia Mérida fazia compras na cidade. Karin tinha razão. Não estávamos mais passando fome, mas não conseguia ser grata. Tia Merida havia nos recebido com retaliação e desde então nos colocou nos afazeres domésticos. Acordar de madrugada para limpar toda a casa, preparar as refeições e plantar eram apenas o começo. Kira se sentia mal a maior parte do tempo e quando me propus a ir buscar ervas para fazer chá, ela apenas me trancafiou no quarto dizendo que Kira se curaria sozinha.

-Você tem trabalhado demais, acha que Karin vai conseguir? -O olhar curioso de Kira me trazia esperança.

- É claro que vai - tinha que conseguir - Você conhece nossa irmã. Ela é a melhor sempre. Agora esqueça isso! É um segredo lembra?

Kira sorriu divertida. Eu esperava que ela entendesse um dia tudo isso.

- De onde vem esse cheiro horrível? - a voz rouca me tirou de meus pensamentos.

Ela voltou mais cedo das compras e eu estava perdida se ela percebesse que acabei queimando o ensopado. Tentei tirar do fogo rapidamente sem sucesso, fazendo com que se derramasse um pouco sobre meu pulso.

A dor era alucinante o que me fez soltar a vasilha que se derramou no chão. Meu pulso ardia e queimava. Não pude esconder as lágrimas que saíram.

- Sua ordinária! Olha o que você fez, não vê que está aqui de favor? Seu pai não soube nem mesmo cria-lá! Você vai pagar por isso, vou descontar do seu salário!