O Menino Niko

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Jimin e Nikolai se davam surpreendentemente bem. Em pouco tempo, já estavam imersos em conversas animadas, compartilhando seus gostos e descobrindo tudo o que tinham em comum. Livros e desenhos animados eram os principais assuntos, e cada um falava com entusiasmo sobre seus favoritos.

Enquanto Nikolai rabiscava um desenho, Jimin desviou o olhar para o braço do novo amigo. Foi então que percebeu as marcas familiares em sua pele — manchas arroxeadas, inchaços e inúmeras picadas de agulha, tão semelhantes às suas próprias cicatrizes.

Seus olhos brilharam com uma mistura de surpresa e compreensão.

— Você é como eu! — exclamou, estendendo os braços e mostrando suas próprias marcas.

Nikolai pausou o desenho, observando os braços de Jimin por alguns instantes antes de erguer o olhar.

— Dói, né? — murmurou, com um tom que não precisava de explicação.

Jimin assentiu lentamente. Ambos sabiam exatamente como era aquela dor.

— Sim, mas eu não choro e não reclamo.

— Por que não? Isso é doloroso. Às vezes me dá raiva e fico de mau humor.

— Eu seguro o choro por causa do meu pai — Jimin desenhava enquanto falava — Não quero que ele sofra. Eu sempre vejo ele chorando à noite por minha causa e não quero isso. Quero que meus últimos meses com ele sejam bons e felizes. Não quero que ele se lembre de mim apenas internado e chorando no hospital.

— Você tem razão — Nikolai refletiu sobre o que ele disse e então suspirou entristecido — Eu tenho orgulho do meu pai. Ele é um bom pai, está fazendo de tudo para descobrir uma cura pra minha doença e assim me salvar e salvar outras pessoas, mas...

— Mas?

— Mas... eu queria passar mais tempo com ele. E se essa cura não der certo? Então todo esse tempo que ele passou aqui no laboratório será em vão e eu vou morrer e não vou ter aproveitado o tempo com ele.

Os olhos de Nikolai começaram a lacrimejar, e logo algumas lágrimas deslizaram por seu rosto pálido.

Ele tentou segurá-las, mas a verdade é que o peso da realidade às vezes era demais para carregar sozinho.

Jimin o observou em silêncio, sentindo sua dor como se fosse sua própria. Ele sabia exatamente como era aquilo.

A diferença era que, apesar de Namjoon ser um ministro extremamente ocupado, ele sempre largava tudo para estar ao seu lado. Mas mesmo assim, Jimin compreendia o que era querer mais tempo com o pai e não poder ter. Ele entendia o quanto cada segundo juntos era valioso.

Sem pensar duas vezes, ele se aproximou e envolveu Nikolai em um abraço aconchegante.

— Niko, vamos aproveitar cada segundo de nossas vidas e viver cada dia como se fosse o último. — sussurrou, com uma maturidade que não combinava com sua pouca idade.

Nikolai soluçou baixinho, apertando ainda mais o abraço.

— Vai dar tudo certo, Niko. — Jimin continuou, tentando confortá-lo. — Mas se não der... eu vou estar lá no céu com você. E você não vai ficar sozinho, tá bom?

As palavras atingiram Nikolai como um golpe no peito. Ele queria acreditar que daria certo, queria acreditar que eles teriam tempo suficiente para viver como crianças normais.

Mas, naquele momento, ele não conseguiu segurar mais as lágrimas.

— Jimin... eu tô com medo de morrer. — confessou baixinho, sua voz embargada.

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