“- V-vossa a-alteza.- espreitei para dentro da biblioteca de Dronórius.
- Ah! Alex. Como te encontras hoje? - perguntou o rei Aidel… ainda me lembro da voz dele.
- B-bem… não tive pesadelos…
- Ainda bem! - ele olha-me de cima a baixo - passa-se algo mais?
- É que… eu não sei… eu… eu não sei como o fiz m-mas… pe-peço desculpa…
- Tem calma. - ele chega-se perto de mim e ajoelha-se para me olhar de frente - Que se passa Alex?
Com um movimento de mãos fiz com que aparecesse uma bola de água no ar e depois transformei-a numa bola de neve que me cabia nas mãos.
Depois de ter passado minutos especado, com os olhos bem abertos a olhar para mim disse: - Não deves contar isto a ninguém -
- Nem ao Corian?
- Nem mesmo ao Corian! - aceno a cabeça em resposta - já ouviste a lenda dos Antigos? - abano a cabeça e, com um sorriso, diz-me para me sentar numa cadeira.
“Outra vez este sonho” - penso eu enquanto me levanto e passo a mão pelo emaranhado de cabelos negros.
Hoje é o enterro de Aidel Bergarian, rei dos quatro reinos, meu segundo pai, depois do mar ter levado o meu pai biológico e ter deixado a mim e ao meu irmãozinho mais novo, Cristovus Vetarian, órfãos, já que a nossa mãe morreu uma semana depois de lhe ter dado á luz.
Olho para as túnicas negras com detalhes em azul escuro e penso como vou encarar o Corian. Ele é o que merece estar desfeito nesta história, e deve de estar mais do que eu, mas não consigo parar a dor no peito e na alma de saber que uma das únicas pessoas que me protegeu desde pequeno partiu.
Tinha dez anos quando uma tempestade levou o meu pai. O Cristovus tinha dois mesinhos quando me deram a noticia. Foi o primeiro enterro que assisti e nunca mais quis ir a um… agora tenho de enterrar mais um pai.
- Senhor - chama um dos mordomos trajado de preto - encontra-se bem?
- Nunca estive melhor. - eu digo ainda olhando para o teto.
- Tem de se preparar. Mandarei uma empregada trazer-lhe algo de comer.
- Deixa, não ia conseguir manter a comida no estômago por muito tempo.
- Pelo menos chã e bolachas, meu senhor! - abano a cabeça e ele suspira em resposta - como vossa senhoria desejar.
Não quero comer, não quero sair do quarto, não olhar para a cara do Corian e saber que não fui capaz de proteger o pai dele, não quero olhar para o cadáver do Aidel e vê-lo pela última vez … sem puder pedir perdão e agradecer-lhe por me ter ajudado a me tornar no homem que sou hoje, não quero…não quero! Quero me enrolar nos cobertores da cama e nunca mais sair daqui… quero gritar e chorar… não quero sair daqui!
Levanto-me da cama, dispo as calças de algodão cinzentas e dirijo-me para a sala de banho ao lado. Os vapores da piscina aquecida e preparada pelos criados deixam-me enjoado mas ignoro a sensação e atiro-me para a água. Fico submerso durante algum tempo sem me preocupar com a faltar de ar. Pensando melhor não quero ficar no meu quarto, quero ficar aqui… aqui é bom…
Saio da água e começo a secar-me com uma toalha que estava ali perto, enrolo-a á cintura e saiu do balneário. Olho de novo para as túnicas e penso que o Corian já deve se ter vestido e arranjado. Agora deve estar na biblioteca a ler. O pai é dele e eu é que estou a ser um choramingas. Ele está desfeito por dentro mas põe uma cara de forte para não preocupar a mãe, a irmã ou a Nokata. Eu sei isto por que fiz o mesmo no funeral do meu pai. O Corian precisa de um ombro amigo e esse sou eu.
YOU ARE READING
Uma questão de Confiança
FantasyFoi nos prometido dragões pelos nossos antepassados mas quando eles chegaram, e como a humanidade não tinha como os controlar, só restava uma coisa: mata-los. Como se não basta-se os ataques de panico e a ansiedade de ter de ser o futuro rei, Corian...