3. Perdida e Desnorteada

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Março de 1820 — Grécia — Santorini

Acordei porque meu corpo todo doía. Meus olhos estavam pesados e meu estômago revirado, além do calor absurdo que estava fazendo, estava toda suada e transpirando, meus cabelos estavam soltos e grudando em meu rosto, pinicando-me. Estava deitada na grama.

— Mais que merda é essa!

Fechei e abri os olhos, e tornei a fechá-los novamente, aquilo deveria ser um sonho, não podia estar acontecendo! Como eu fui parar ali?

Sentei e abracei os joelhos, estava com o coração disparado, tentei me localizar, mas eu não tinha ideia de onde estava. Tudo ao meu redor eram árvores, flores, plantas, alguns insetos e pássaros cantando. O céu era de um azul-claro perfeito sem nuvens e o sol estava radiante e muito quente. Arrastei-me encostando as costas em uma árvore ficando na sombra, que sonho era esse tão realista?

Eu estava vestida com a mesma roupa, calça jeans e camiseta, só que agora coberta com grama e terra. Tirei meu tênis e as meias, meus pés estavam queimando e suando demais. Belisquei meu braço para ver se acordava, mas não deu certo, só doeu e com certeza ia ficar roxo. Procurei pelo meu celular, minha bolsa e não achei nada, levantei-me e não via uma única casa ou pessoa.

Comecei a andar e tentando lembrar-me do que podia ter acontecido. Refiz meus passos mentalmente mais nada de estranho ou anormal tinha acontecido comigo. Será que eu tinha sido sequestrada? Mas por quê? Por quem? Minha cabeça doía, eu estava atordoada e ficando desesperada por não saber onde estava ou quem tinha feito uma coisa dessas comigo! Meu coração estava acelerado em pânico.

Veio-me à cabeça a escultura da deusa Afrodite, no folheto dizia que ela realizava desejos. Mas não me lembro de ter pedido para ficar sozinha e perdida no meio do nada! Ri desse pensamento.

Fazia muito calor, minha boca estava seca, eu estava com muita sede. Precisava achar água e tinha que sair correndo dali! Quem fez isso comigo poderia voltar. Mas onde eu arranjaria um lugar para tomar água ou me esconder? Eu precisava me localizar e voltar para o hotel.

Fiquei andando e olhando para todos os lados. Respirei fundo várias vezes para tentar me acalmar. A ficha de que eu estava perdida começou a cair, porque eu não reconhecia aquele lugar.

Encontrei um vale cheio de vegetação, tinha mais sombra e seria melhor para andar, eu estava descalça, e pelo visto tinha acabado de perder meu tênis, e meus pés estavam doloridos de pisar em pedrinhas e galhos. Comecei a ouvir o barulho de água e acelerei os passos me deparando com um lago de água cristalina rodeada por árvores formando um lindo bosque. E como se tudo já não fosse tão perfeito, um lindo arco-íris dava o ar da sua graça para deixar tudo ainda mais encantador. Aquilo só podia ser um sonho! Não pensei duas vezes e corri para o lago. Abaixei-me ficando de joelhos, a água era cristalina com vários peixinhos, dava para ver o fundo cheio de pedrinhas e rochas grandes. A aguá estava gelada, bem refrescante matando minha sede.

Já que eu estava ali, tirei minha roupa, ficando só de calcinha e sutiã. Subi em uma rocha e pulei dando um mergulho sentindo a água gelada arrepiar toda minha pele e adormecer meu corpo. Estava sentindo-me muito melhor, fiquei nadando e flutuando de olhos fechados, sentindo o sol em meu rosto, me entregando de corpo e alma àquele lugar. Relaxei o corpo e senti meu coração batendo, rezei agradecendo por ter conhecido aquele lugar, e também pedindo proteção, porque seja lá o que a sorte me reservaria eu precisaria de muita força e coragem. Abri os olhos para gravar na memória os detalhes daquele lago, daquele momento único, mas uma sombra tampou o sol por uns segundos e saiu, deveria ser alguém.

Comecei a nadar rapidamente para a beira do lago. Meu coração estava disparado, me sentia trêmula e com medo, comecei a correr porque não demoraria para o dono daquela sombra me alcançar. Como eu não sabia se era uma pessoa boa ou ruim, era melhor não ficar para ver. Tropecei e caí na lama me sujando toda. Meus joelhos rasparam em umas pedrinhas, começaram a arder e a sair um pouco de sangue, mas eu não poderia parar de correr, tinha que encontrar algum lugar seguro e achar um jeito de pedir ajuda, já estava começando a entardecer. Eu sabia que estava perdida, mas não sabia o quão perdida estava.

Koúkla Mou - Livro 1 - A Viagem dos Meus SonhosOnde histórias criam vida. Descubra agora