Capítulo III

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                                Presente

Depois de um tempo Diego entrou pela porta dos fundos da estalagem, se deparando com Tom arrumando o bar sem camisa e com alguns curativos, Maria estava sentada em uma cadeira de costas para ele, ela tentava costurar a camisa de Tom, o barulho da porta abrindo fez com que ambos parassem oque estavam fazendo por um breve momento e olhassem em direção de onde vinha o barulho, ao verem que era Diego que acabará de entrar, voltaram a seus afazeres.
“-Aaaah, Desisto, eu simplesmente desisto” gritou Maria como se estivesse com raiva.
“- o bar ganhou outro pano de chão, pronto !” falou Maria jogando a camisa de Tom no chão
Maria que estava sentada, se colocou de pé, pois a mão na cintura olhou pra Tom e ficou alguns poucos segundos o encarando, como se estivesse pensando em algo
“- vamos Tom, ainda temos algum tempo antes de abrirmos o bar” disse Maria puxando Tom pelo braço
“- calma lá mulher, aonde vamos?” perguntou Tom sem entender oque passava pela cabeça de Maria
“- nós já voltamos pai, prometo” disse Maria se despedindo de Diego, que assim como Tom não estava a entender muita coisa.
Ao saírem da taverna Tom a segurou pelo braço
“- aonde vamos Maria ?”
“- oque acha?, Vamos comprar algumas roupas pra você”
“- com que dinheiro Maria, eu não tenho dinheiro pra isso, te falei a pouco tempo que estou economizando pra sairmos daqui, não posso gastar dinheiro”
-“ fique tranquilo, não vamos gastar muito e é um presente meu para você, não vou sair com alguém que se veste como um mendigo e você me deve um vestido” disse Maria saltitando para longe
A taverna não ficava muito longe da praça central onde os comerciantes se reuniam para vender seus objetos, a taverna ficava cerca de 2 quadras de distância, as ruas eram feitas de paralelepípedos de pedra e o mau cheiro que vinha das Sarjetas era forte, mas isso não impedia Maria de ser feliz, durante o trajeto todo ela foi na frente de Tom saltitando.
Maria passava a maior parte do seu tempo presa trabalhando no bar e quase nunca tinha tempo para sair e quando tinha quase nunca seu pai deixava, essa situação piorou mais quando os negócios começaram a ir mau e Diego exigia que todos trabalhassem dobrado além de reclamar constantemente de falta de dinheiro para a filha
“- vamos logo Tom” dizia Maria parada na entrada da praça com um sorriso de orelha a orelha
A praça era circular e havia várias barracas espalhadas por toda a praça, desde pessoas vendendo carne e peixes, há temperos e tecidos, se podia encontrar muitas coisas boas por um preço acessível se bem negociado
“- vamos Tom, o que acha dessa blusa em ?
Maria mostrava uma blusa preta, feita de algodão, sua gola era em V, não era nada muito caro ou chamativo
“-gostei”
“- então experimenta”
“- não sei não em Maria, já falamos sobre isso, eu não posso guardar esse corpinho só pra mim, seria muito egoísmo você não acha, já imaginou nunca mais me ver sem camisa ? Você não aguentaria, não é mesmo garotas?”
Tom se virou em direção a algumas garotas que estavam próximas a eles e prestavam atenção na conversa. Maria apenas deu um pequeno beliscão do braço de Tom.
“- tá bom, tá bom, sua chata, não sabe brincar” disse Tom rindo com a situação
Tom vestiu a camisa, abriu os braços e disse “- então, o que acha? Acho que caiu bem, você não acha ?”
“- vamos levar essa, e o senhor tem algum vestido?” indagou Maria
O senhor que vendia as tapeçarias mostrou ao fundo da loja alguns vestidos, os olhos de Maria brilhavam com tudo aquilo, várias opções, ela ficava imaginando as várias pessoas diferentes que ela poderia ser, talvez uma florista ou uma vendedora , uma princesa talvez, ela pegava várias peças e mostrava a Tom oque acha em? É bom? É esse aqui? Já sei esse é perfeito! E assim foi por um tempo, quando Maria já tinha se imaginado com todos os vestidos do vendedor e já estava desistindo, o homem chegou com uma pequena caixa
“- uma senhora encomendou a um tempo que eu e minha esposa fizéssemos um vestido mas ela nunca veio buscar, não sei se você reparou mas enquanto víamos você escolhendo suas roupas nós lembramos de nossa filha, então queríamos que levasse esse vestido, ele será perfeito para você eu garanto”
Maria pegou a caixa em suas mãos e meio sem jeito com as palavras que havia ouvido desfez o laço sobre a tampa da caixa e a removeu, lá encontrou um vestido de alça amarelo longo, era  lindo os olhos de Maria brilharam
“- a senhora gostou?”
“- é maravilhoso, vamos levar ele e a blusa”
“- o vestido é um presente, eu insisto”
“- não posso aceitar tal coisa, eu insisto em pagar, vamos Tom de a eles 1 moeda de ouro”
Tom que foi pego de surpresa, pois não esperava tal coisa, esperava gastar algumas moedas de prata e não uma moeda de ouro, mas obedecer era melhor do que ver Maria dando um barraco ou que ficasse brava com ele, ela estava feliz e não era sempre que ele a via assim
Tom removeu uma moeda de ouro que guardava na bolsinha e deu ao vendedor que o agradeceu com veracidade e simplicidade. Maria pegou o braço de Tom enquanto ele guardava sua pequena bolsa de moedas no bolso e de braços dados começaram a andar pela feira.
“-achei que eu ia ganhar um presente e não ter que pagar por ele” resmungou Tom
“- eu disse que lhe daria um presente, não especifiquei oque seria “
Tom colocou um sorriso malicioso em seu rosto
Maria lhe deu um soco no ombro
“- seu besta, não é isso, vem deixa de ser bobo”
Maria que agora puxava Tom pelas mãos o levou até um alfaiate, eles pararam em frente a loja por alguns segundos
“- Aqui está, seu presente!”
-“ não estou entendendo Maria”
“- vem, vamos entrar”
Eles abriram a porta e um sino pendurado alertou sobre a chegada de novos clientes a loja. Era um local pequeno, o chão era de madeira mas já muito desgastada pelo tempo, havia um balcão grande a frente com vários tecidos empilhados nele, havia também uma pequena cadeira no centro da sala, com várias linhas e agulhas sobre ela, uma fita de comprimento estava pendurada sobre o encosto da cadeira
“- senhor Nóri” gritou Maria
“- já estou indo, já estou indo” disse uma voz que vinha do fundo da loja
De repente um pequeno homenzinho saiu dos fundos carregando uma pilha de tecidos, ele caminhou até o balcão e colocou eles em uma pequena pilha junto com os outros que já estavam ali, ele se virou batendo as mãos uma na outra como quem limpa a poeira delas ou comemora um serviço terminado, era um anão já um pouco velho, ele tinha uma barba grisalha e comprida que ia até seu peito, quando seus olhos se cruzaram com os de Maria ele abriu um grande sorriso
“- María” disse ele com os braços abertos enquanto andava na direção dela.
“- oi Nóriiii” disse Maria lhe dando um abraço bem forte, claramente eles já se conheciam a algum tempo
Nóri se virou para Tom que observava tudo aquilo parado como uma estátua, o olhando de cima a baixo como quem o analisa disse
“- imagino que seja o Sr Thomas “
“- Tom está ótimo” disse ele estendendo sua mão
Nóri a apertou
“- Maria me disse muito sobre você e o vendo agora de perto acredito em muitas coisas que ela me disse”
-“ Nóri, você terminou aquilo que te pedi?” interrompeu Maria
“- é claro, nós anões somos conhecidos pelo nosso trabalho incrivelmente bom e isso inclui terminar nosso trabalho rápido, vou buscar já venho”
Nóri foi até atrás do balcão e pegou uma peça de couro negro que estava dobrada
“- aqui está” disse Nóri entregando ela a Maria
“- deu um pouco de trabalho fazê-la, porque não tirei suas medidas, Maria insistiu que devia ser uma surpresa, então aceitei as condições dela”
“- ela sabe ser bem persistente não é mesmo sr Nóri” brincou Tom
“- vamos vista, me deixe ver como ficou”
Quando Tom desdobrou a peça de roupa percebeu que era uma capa, uma linda e bela capa negra
“- meu deus Maria não posso aceitar, deve ter sido muito caro”
“- é um presente, vista ela me deixe ver”
Tom a vestiu e ela coube perfeitamente, a capa ia até próxima a seus calcanhares era incrível como Nóri tinha acertado tudo apenas com as descrições de Maria
“- olha Tom, tem vários bolsinhos também “ disse Maria colocando a mão por dentro da capa de Tom
“- eu sabia que você adorava eles, você ficou tão triste quando aquela sua capa rasgou “
“- meu deus Maria, eu não sei nem oque falar” disse Tom lhe dando um abraço forte e carinhoso
“- sabia que eu adoro seus abraços Tom? Eles são sempre verdadeiros “ disse Maria lhe abraçando de volta
“- obrigado Sr Nóri, mas agora temos que ir já estamos ficando atrasados para abrir o bar e você conhece o meu pai né, porque não passa lá qualquer dia, eu lhe pago uma bebida “ disse Maria
Ambos saíram da loja, Maria com pressa puxava Tom pelas mãos
“- vamos mais rápido Tom, vamos chegar atrasados “
Ao chegarem na Taverna ao invés de se depararem com Diego em pé bravo com o atraso, os encontraram deitado em uma das mesas completamente bêbado e desmaiado
“- pai ? “ disse Maria assustada e surpresa com a situação
“- seu Diego tudo bem com o senhor?” indagou Tom colocando uma de suas mãos nas costa de Diego
“- me deixe em paz “ reclamou Diego
“- porque o senhor não vai deitar e deixa que Tom e eu abrimos o bar”
“- e porque você não cala a sua boca em Maria, só reclama, parece até com sua mãe”
“- o senhor está bêbado, vamos eu ajudo o senhor” disse Tom levantando Diego pelos braços
“- me deixa Tom, eu consigo sozinho” Diego se soltou e foi até seu quarto cambaleando e derrubando algumas coisas em seu caminho
Mesmo que Maria já tivesse lidado com vários tipos de bêbados em sua vida, ver seu pai naquele estado foi um choque para ela
“- fica calma Maria, não é culpa dele, você sabe, o dia foi difícil, ele apenas bebeu um pouco além da conta”
“- eu sei Tom mas não gosto de vê-lo assim, me lembra de quando minha mãe foi embora”
“- eu te conheço a quantos anos Maria ? Vários né e você nunca falou da sua mãe”
“- outro dia eu conto, agora me ajuda com essa bagunça que ele fez e vamos abrir logo o bar e não esquece de trocar essas roupas em, ou já vai sujar as roupas novas ?”
“- talvez seu pai esteja certo você só reclama em “ disse Tom dando um beijo em Maria
Maria o fitou com os olhos como se não tivesse achado nem um pouco de graça
“-Eu já volto, prefere com ou sem camisa em “ disse Tom dando risada
“- vai logo Tom “ disse Maria jogando um pano sujo nele
“- tá bom tá bom “
Tom se inclinou para frente se segurando no batente da porta e mandou um beijo pra Maria
“- depois me deixa ver como fica em você o vestido mais caro que já comprei “
“- imagino que seja a primeira vez que comprou um vestido”
“- justamente por isso é o mais caro que já comprei” riu Tom
“- vai logo, vá se trocar, não temos o dia todo”


Piririm & o viajante solitárioOnde histórias criam vida. Descubra agora