eu e você [minjoon]

"just to show you that i liked you"

( ๑ ᴖ ᴈ ᴖ)ᴖ ᴑ ᴖ๑) ♡
EXTRA

NAMJOON

Sempre que Kim Namjoon atravessava o batente da porta, caminhava com passos lentos até um cantinho à esquerda e sentava-se em seu lugar na sala de aula, era como se um peso, sutil e denso ao mesmo tempo, recaísse em seus ombros numa espécie de paradoxo terrivelmente angustiante.

Ele se acomodava bem à frente de sua turma, numa das carteiras que tinha a visão mais privilegiada da lousa. Antes de se sentar, sorria ao pessoal que comumente estava à volta. Seus colegas emendavam aos seus sorrisos um papo qualquer, algo sobre as provas que viriam com o fim do mês, os trabalhos para a próxima semana, as Olimpíadas de Matemática ou de Geografia que já tinham passado... E Namjoon conversava com eles. Mais ouvia do que falava.

Às vezes, as suas costas doíam com os custos de manter aquela postura confiante e inabalável. Aquela postura de um dos primeiros alunos da turma, do prodígio inteligentíssimo, aplicado e estável a quem todo mundo admirava — e de quem todos exigiam, sem perceber, uma impecabilidade sinistra. O encosto duro de sua cadeira era como um lembrete constante de que ele não podia se curvar um único milímetro. Se descolasse o seu uniforme daquele material rígido, alguém notaria as marcas amassadas no tecido anteriormente passado. Se vacilasse, se saísse minimamente da linha, a sua assimetria se expandiria para todo canto do mundo. Pareceria pior do que de fato era.

Namjoon não era aquele jovem perfeito que todo mundo imaginava. Ele não estava sempre alegre, seguro, calmo, em paz, atento aos livros que lia ou às palavras de seus professores. O que não queria dizer, no entanto, que fosse um total mentiroso que vestia uma máscara no dia a dia. Namjoon era muito do que mostrava ser. Ele só não o era o tempo todo, a cada segundo, a cada piscar estimado de seus colegas. Ele o era em sua essência, em algum lugar no fundo de seu peito. Um lugar cujas portas ele achava que haviam se fechado já fazia um bom tempo.

Os pais de Namjoon não eram más pessoas. Faziam o possível pelo filho e nunca haviam deixado que lhe faltasse qualquer coisa material. Mas os dois, também sem perceber, aumentavam o peso que o filho carregava nos ombros e na mente. Eles eram professores em outra escola da região. Tinham se formado na mesma universidade, que era uma das melhores do país, e viviam dizendo a Namjoon como seria incrível quando ele estudasse lá. Quando aprendesse sobre política, história, economia e tudo de renomado e complicado. Quando se formasse, passasse na prova, iniciasse uma carreira acadêmica, conhecesse pessoas novas, arrumasse um estágio, escrevesse artigos científicos... Quando fizesse tudo. Quando começasse a ser como eles.

Isso gerava uma ansiedade tão gigante em Namjoon, que ele começou a se sentir deslocado de si mesmo e perdeu o prazer em muitas atividades de que gostava. Ele amava ler e estudar. Sempre fora um aluno estudioso e dedicado — em parte porque seus pais o incentivavam, em outra porque simplesmente era assim. Mas, naquele momento, com todas aquelas expectativas e pressões e planos alheios, ele não conseguia ser inteligente e aplicado de forma natural. Era quase como uma obrigação. Como um molde severo ao qual precisava se encaixar, senão iria desmanchar. Senão iria se tornar um belo nada.