Profundo Vazio (cap.10)

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Leia as notas finais!

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Wang recolheu as chaves da bolsa transversal masculina e abriu a porta, retirou os sapatos com calma e os deixou em um canto específico para calçados. Andou até à sala tendo as cordas da bolsa na mão. Quando adentrou o cômodo acabou se deparando com uma cena que o deixou desconfortável.

— Lian? O que está fazendo aqui? — disse para a mulher com um uniforme rosado, que imediatamente se levantou e emitiu um leve aceno com a cabeça em cumprimento. 

— Boa noite, senhor Wang. A senhora Kumiko me pediu para tomar conta do Yan hoje. — ficou parada aguardando alguma ordem. Ela era a babá de confiança que o casal havia contratado há anos atrás.

Yibo direcionou o olhar para o garoto que brincava com quebra-cabeças enquanto estava acomodado no carpete. O problema era que o rapaz havia ligado para a esposa e pedido para que ela cuidasse do filho.

Até poderia estar errado em sentir raiva ou decepção, já que não havia voltado para casa no horário esperado e beijado um homem nesse meio tempo, mas definitivamente aquilo não havia sido o combinado.

Suspirou magoado por ter que presenciar mais uma vez a mãe rejeitar o próprio filho.

— Pode ir Lian, obrigado por vir.  — deixou a bolsa no sofá e se assentou perto do filho.

— Até mais, Yan. — a mulher se despediu da criança que permaneceu falsamente entretida com o brinquedo. 

A porta foi fechada e os dois que restaram ficaram taciturnos. 

O mais velho começou a retirar um tecido de pele morta de um dos dedos com o semblante fechado, tendo um sentimento de culpa pressionando suas costas. Em um determinado instante, Yan bagunçou todas as peças do jogo e se levantou do carpete, logo após mirando o pai de cima.

— Você disse que ia voltar. — falou com as mãos cerradas.

— Eu sei... Me desculpe. — disse sinceramente ao mesmo tempo em que erguia o olhar.

Era apenas os dois, sempre foi desde o acidente.

Yan lançou um olhar que demonstrava decepção e falta de expectativa em relação ao seu criador, ele acreditou que teria um tempo para ficar com o pai. Seu dia na escola havia sido ruim, o garoto não tinha muitos amigos no lugar onde estudava e as vezes passava boa parte do dia sozinho.

Sua personalidade introvertida afastava seus colegas de turma, o desânimo para conhecer novas pessoas era constantemente apontado quando ia para a psicóloga. Wang já passou noites sem dormir, com medo de que os acontecimentos passados influenciassem o bem estar emocional de Yan.

Era mais uma das várias culpas acumuladas em um buraco imenso e escuro gerado pela perda.

— A-Yan! — segurou o braço da criança quando a viu tentar andar para fora da sala.

Tudo o que ele desejava era um abraço, e tudo o que Yibo queria era paz por pelo menos um momento, sem que as coisas ruíssem após segundos de quietude.

— Eu já pedi desculpas, será que você poderia me perdoar? — falou calmamente, agora segurando os ombros do pequeno.

Um dos fatores para a distância entre os dois é o pavor do mais novo em demonstrar afeição e perder a pessoa em seguida. O trauma o cercava em seus mínimos gestos, a indiferença da mãe o deixava escasso de segurança.

Os olhos escuros como o do pai se encheram de lágrimas, as mãos cerradas tiveram o aperto reduzido. Com medo de ter a solidão perto de si mais uma vez, abraçou o adulto, que confuso o envolveu em seus braços.

Tons De Gelo {WY+XZ}Where stories live. Discover now