38. Escolhas

41 4 3
                                    

Carmella soltou um longo suspiro, contou ate dez intimamente e afastou seus pensamentos homicidas de sua mente. Se todos os cenários que ela desenhava em sua mente não terminassem com ela morta ou presa, deixando sua mãe sozinha, ela não pensaria duas vezes em rasgar a garganta daquele homem arrogante.
Mas tudo que ela poderia fazer por hora, era obedecer o maldito agente, como um cachorro adestrado.

Ela passou por Beau Jones, batendo uma única palma e lhe lançando um olhar condenatório.
— Parabéns por ter minha maldita vida em suas mãos! — declarou com escárnio.

O agente contemplava a concretização do seu objetivo, claro que em sua cabeça, era muito menos dramático e cruel. Mas Allen Delgado havia sido distinto, ele estava disposto a jogar com as mesmas cartas do irlandês. Forçar Carmella a cumprir com o que eles almejavam, era o mínimo.
— Isso não vai ficar assim! — Carmella ameaçou Jones com fúria.
— Você não esta em posição de fazer ameaças aqui – Allen interviu — Agora entre na droga do carro antes que eu perca os resquícios de paciência que ainda me restam. — Allen apontou para o carro e ela se viu obrigada a entrar.

Beau Jones entrou no mesmo carro que ambos. Era uma suv espaçosa. O carro começou a se deslocar sem qualquer rumo pela cidade, a mulher buscou com olhar o segundo veículo, mas esse parecia ter se misturado ao transito da cidade. Provavelmente apenas um apoio.
— Você vai ter que ser nossa ponte! — Delgado declarou.
— Isso já não foi estabelecido contra a minha vontade?! — ela constatou o óbvio com deboche.
— Sua mãe esta segura e recebendo o tratamento adequado, se isso te interessa... nós dispensamos a cuidadora. Demos um bônus absurdo em agradecimento. Afinal de contas, não queremos que pessoas inocentes se machuquem!

— Só eu e minha mãe somos o suficiente então?! — ela ironizou contendo-se para não dar um soco no maldito agente.
— Qual o seu maldito problema Carmella, eu achava que você fosse uma heroina de guerra?!

Carmella soltou uma gargalhada forçada carregada de ironia.
— Você não leu o meu histórico? — questionou com desdém — Eles me apelidaram de desonrada por um motivo!

Allen Delgado soltou um longo suspiro, Beau Jones a olhou:
— O quer quer que tenha acontecido, esta no passado, nesse momento você é a nossa única esperança de colocar o irlandês de trás das grades.
— Eu não vou fazer isso! — declarou convicta.
— Você esta defendendo um criminoso? — Allen questionou indignado.
— Não, eu estou tentando ficar viva! — ela rebateu.
— Eu posso mandar as malditas fotos — ele a relembrou.
— Então as mande! — Carmella o desafiou.
— Você percebe que vai acontecer exatamente o que você tanto temia? Sua mãe vai ficar sozinha nesse mundo! — Jones declarou tentando convencê-la.

Ela suspirou novamente.
— E eu achando que você não fosse tão baixo. — declarou com desprezo.
— Tempos desesperados exigem medidas desesperadas. — Beau rebateu com cinismo.
— Então é isso? Vocês descem ao nível dele? — ela questionou.
— Nós estamos fartos de dos corpos acumulados! — Allen declarou contendo sua raiva e frustração.

Carmella fechou os olhos e soltou um longo suspiro, suas memórias explodiram com flash's de poucos segundos de pilhas de corpos, bastante sangue e diversas capsulas espalhadas.
Ela abriu os olhos.

— E tudo bem adicionar o meu a essa pilha. — ironizou em um tom baixo.
— Isso vai acontecer independente da sua vontade, quanto mais rápido aceitar mais rápido podemos trabalhar e impedir que ele faça qualquer coisa contra você e sua família. — Beau continuou com suas falsas promessas.

Carmella gargalhou novamente, uma risada que expressava mais medo do que humor. Ela não era nenhuma idiota. Ela tinha pesquisado casos aos quais implicitamente era envolvidos com o Irlandês. Não eram nada bonitos. Quando tratava-se do seu império de crime, ele era implacável.

Ela continuou com o sorriso conformado nos lábios.
— Ele vai me matar e vai matar vocês dois. — Carmella indagou mais do que convicta.

— Então é melhor que você faça o seu trabalho direito! — Allen exigiu.

Beau suspirou tirando um envelope de dentro do bolso interno de seu blaser.

— Instruções — Ele disse entregando a mulher — Abra, leia e memorize. Queime o maldito papel e uso o telefone pra entrar em contato comigo.

Carmella fitou o envelope por alguns segundos, Allen lhe lançava um olhar de impaciência.

— Você não tem escolha! — Beau a relembrou.
— Quando eu vou poder ver minha mãe? — ela questionou engolindo a própria saliva e contendo-se.
— Faça o seu trabalho e eu garanto que logo, logo! — Allen respondeu.

Ela sabia em seu íntimo que aquilo não ia acabar bem pra ela, nem mesmo pra eles. Aquele sentimento de angustia se instaurou em seu peito, mas o que diabos ela podia fazer? Eles estavam com sua mãe só Deus sabia onde. Se ela não concordasse, Declan a mataria, se concordasse ele a mataria de qualquer forma. Sua vida não mais lhe pertencia assim como sua maldita liberdade.
Ela bufou de raiva contendo-se e pegou o envelope da mão de Beau Jones de forma brusca, o lançando seu olhar mais ameaçador. Concordando com aquele absurdo. O carro não demorou muito para que parasse próximo a seu prédio. Ela desceu olhando para cima, os prédios a sua volta, tentando ter certeza de que não havia mais nenhum sniper/fotografo por ali.
Tudo que lhe restou foi subir para seu apartamento, fechar a porta atrás de si e tentar respirar sem aquele maldito peso em suas costas. Mas era praticamente impossível, seus olhos pairaram sobre o lugar que sua mãe costumava ocupar e uma tristeza imensa foi adicionada ao terror que estava sentindo.

O medo de nunca mais vê-la parecia real, concreto. Ela era a coisa mais importante de sua miserável vida e ate isso haviam lhe arrancado.

DESONRADA Where stories live. Discover now