Quarenta

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As últimas semanas de dezembro passaram com alguma aflição e apreensão. Os recém-nascidos continuavam na UTI, e apesar de estarem crescendo, vez por outra os médicos ligavam avisando que um deles tinha contraído uma infecção ou inflamação. Os novos papais passavam praticamente todo o tempo no hospital, e os outros membros da família se revezavam em ajudá-los com tarefas cotidianas e o que mais precisassem.

Miguel teve de ajudar nos acabamentos para que a reforma concluísse no prazo estimado, então tinha pouquíssimo tempo com a noiva. Alexia, por sua vez, continuou trabalhando, com um breve recesso na última semana do ano. Tinha que se dividir em duas para cuidar de Lira, ajudar Alice, terminar os detalhes da inauguração da padaria e conciliar com o trabalho na secretaria. Alessandra e André se dividiam entre o trabalho no estúdio fotográfico que haviam instalado no mês de novembro e cuidar das crianças, que estavam de férias. Não havia um membro da família que não estivesse cansado. Para a alegria das irmãs, os pais resolveram ficar mais algum tempo na cidade e auxiliá-los, o que diminuía um pouco do peso que carregavam.

Assim que janeiro chegou, anunciou-se uma boa notícia. Isabela tivera a primeira mamada duas semanas após o nascimento. Jade e Arthur ainda precisavam de cuidado constante para o desenvolvimento dos pulmões, mas todos estavam confiantes que eles logo estariam nos braços dos pais, todos os três. Tranquilizados a respeito da saúde dos netos, Alberto e Magda voltaram para casa, deixando as filhas com a promessa de que voltariam assim que os bebês tivessem alta e pudessem sair do hospital.

Como combinado, a reforma da padaria concluiu dia quatro de janeiro, um dia antes da reinauguração. O nome ficara como Mahene's Panificadora, e todos os ornamentos foram colocados com temas africanos, uma forma de preservar a identidade de Miguel, sua origem.

Na quinta-feira, cinco de janeiro, tanto ele quanto Alexia acordaram antes mesmo do esperado, estavam ambos ansiosos. Finalmente havia chegado o dia! Ele estava orgulhoso do resultado. Além de o espaço ser ampliado, as cores em tons pastel do lado de dentro, o piso novo, as decorações com temas africanos que havia escolhido com a ajuda de Alexia davam um ar inovador no local. As cores neutras das paredes contrastavam com as cores vibrantes dos quadros e ornamentações típicas, como um elefante estofado, que ficava no canto do salão.

— Não precisava ter acordado tão cedo, Lexi. — Miguel falou, pegando a bandeja que estava nas mãos da noiva.

Noiva, essa palavra ainda era nova para ele, mas fazia seu coração acelerar toda vez que pensava nela. Ainda mais por saber que naquele dia teria a chance de declarar, mais uma vez, seu amor por aquela mulher que havia arrebatado seu inteiro ser.

Alexia e Lira dormiram na casa aos fundos da padaria na noite anterior para ajudarem nos detalhes finais, e a morena foi a primeira a acordar, antes mesmo das quatro da manhã, ansiosa que estava. De certa forma, a empolgação dela o contagiava, mas não queria ser o responsável pelo cansaço dela, já que ela ainda teria que trabalhar na escola durante a tarde. Queria oferecer-lhe uma vida de luxo, sem as preocupações da vida real, porém entendia que estava além de seu alcance prometer isso. Ainda assim, a vida real ao lado dela era brilhante e divertida o suficiente para sustentar seu sorriso por longas horas durante o dia, mesmo nos mais difíceis.

— Ah! Qual é, Mugui? Acha mesmo que eu ia conseguir dormir, sabendo que hoje é um dia importante para você? A padaria está linda e quero que todos vejam o que fizemos. Que sintam um pedacinho do seu mundo bem aqui no meio do nosso. — Ela falou, sua voz a transmitir uma animação contagiante.

Miguel colocou os biscoitos na estufa e a fechou. Eles tinham formatos de animais africanos, e era uma das novidades no cardápio da padaria. Logo, ele se virou para a morena que estava atrás de si e lhe roubou um selinho, feliz por tê-la consigo em um dos dias que mais precisava de apoio. Já tinha clientela, contava com encomendas fixas, mas saber que estava reabrindo o estabelecimento para o público, com um visual totalmente novo, causava-lhe certa ansiedade. Alexia era seu ponto de equilíbrio e nunca se esqueceria disso.

Homens que ImploramOnde histórias criam vida. Descubra agora