10- Olhos abertos

78 20 4
                                    


 De volta ao meu quarto, tomada por inúmeras sensações e sentimentos novos, sentei- me no chão, encostada na cama. Meus pensamentos iam e voltavam no tempo, as frases se misturavam de forma desconexa e, se aquela carta existisse mesmo, talvez alguns buracos seriam fechados e o quebra-cabeça finalmente seria montado.

O universo ou sei lá o quê, parecia gostar de brincar comigo, nem em meu pior pesadelo eu imaginaria algo parecido com o que estava acontecendo, se bem, que por mais que estivesse relutante, um reencontro com Alex não poderia ser classificado como pesadelo, ao contrário, aquele fora por tempos meu maior sonho.

Pesadelo mesmo eram as circunstâncias em que eu me encontrava, mais uma vez fora colocada diante de um impasse, esse, mais sério e com maiores chances de ser catastrófico.

" De que adianta...?" — A frase de Alex latejava em meus pensamentos, enquanto eu contava os minutos para que a Gabi me telefonasse.

Atendi meu celular antes mesmo do termino do primeiro toque, àquela altura, meu estômago parecia enjoado, puxei o ar antes de começar a falar.

— Gabi...

— Maria Cecília Cortezi, eu já estou com a caixa nas mãos — avisou-me, séria. —Não me diga que é o que estou pensando...

— Gabi, por favor... — Sentia-me perto de ter um ataque do coração. — Tire tudo o que tem dentro dela e veja se tem um fundo falso, ou algo do tipo.

— Meu Deus, Lia...Isso é mais doentio do que eu prensava — ela sussurrou.

— Gabi, por favor, guarde suas críticas para depois, agora, eu preciso que encontre um papel, uma maldita carta! — implorei, provando das sensações de um colapso.

Ouvi quando ela bateu a caixa no chão, fechei os meus olhos enquanto fazia uma oração interna e por vezes senti minha cabeça girar. "Respire, Lia!", eu tinha de chamar minha própria atenção.

— Hum...eu acho que... — Sua voz começou a falhar. — É, tem mesmo um papel dobrado aqui. Eu achei.

Sua frase soou como um tiro à queima-roupa. Precisei de um tempo para retomar meu fôlego.

—Tem como fotografar e me mandar as imagens? — pedi, sendo tomada por uma emoção diferente, estava cheia de melancolia, mesmo sem saber o que me esperava.

—Lia, eu te falei mais cedo que meu celular já era...A câmera está quebrada, só serve para ligação mesmo... — ela passou a me explicar com calma.

—Droga! — praguejei com raiva, eu não podia mais esperar, cinco anos me pareciam um bom tempo, por isso, só enxerguei uma forma de sanar a minha curiosidade. — Então, você vai ler para mim, ok?

Antes que ela pudesse responder, três batidas fortes na minha porta, fizeram-me estremecer. Voltei a ficar sem ar.

Eu sabia que era ele, afinal, quem mais seria? Sabia também, que se o atendesse, que se abrisse aquela porta, não seria só em meu quarto que ele estaria entrando; Alex estaria também de volta à minha vida, e isso significava um monte de outras coisas.

Prestes a revisitar uma parte do meu passado, parte essa, que eu sequer sabia da existência, e o personagem principal acabava de entrar em cena. Com a mão na maçaneta e ouvindo a Gabi gritar meu nome do outro lado da linha, aquela porta tornou-se um símbolo, algo eminente.

Abrir ou não abrir?

Outras duas batidas na madeira...Meu coração foi à mil.

— Lia, eu estou preocupada...Fale alguma coisa! — Gabi me clamava, mas eu só conseguia me concentrar na porta.

O irmão da noivaOnde histórias criam vida. Descubra agora