A convivência

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Dois anos haviam se passado desde que John Watson se tornara viúvo. Ele e Sherlock Holmes voltaram a dividir o pequeno apartamento na Rua Baker, os casos de investigação e, agora, os cuidados da pequena Rosamund.

Mesmo que John já tivesse eximido o detetive de qualquer culpa, Sherlock há muito conformou-se com o fato de que se sentiria responsável pela morte de Mary pelo resto de seus dias. E não havia mais nada que pudesse fazer para compensar minimamente essa sensação, que ser o mais presente possível na educação e proteção da garotinha e manter tanto ela, quanto seu amigo, por perto. Tê-los a vista o fazia se sentir mais feliz, embora não entendesse o motivo. E foi por toda essa soma de sentimentos que ele insistiu até a exaustão para que John voltasse ao 221B.

John resistiu, é claro. Logo após a morte de Mary, ele passou meses de luto, evitando a tudo e todos, principalmente Sherlock, e experienciando sua dor na companhia apenas de Rosie e de uma Mary imaginária, que aparecia para lhe dar conselhos.

Algum tempo depois, entretanto, durante o caso do repugnante filantropo e assassino em série Culverton Smith, John se viu obrigado a se reaproximar do detetive e acabou expurgando nele toda sua dor de maneira violenta. Na sequência, teve de enfrentar uma pesada onda de arrependimento, quando encontrou uma gravação de Mary e descobriu que toda a abordagem de Sherlock no caso tinha sido planejada com o intuito de salvá-lo a pedido dela e que, para isso, havia inclusive arriscado a própria vida. Também foi nesse momento de remorso e pesar que John finalmente aceitou o fato de que Sherlock jamais tivera culpa na fatalidade que recaiu sobre sua esposa.

Por fim, para encerrar essa série de eventos melancólicos, veio a terrível tempestade trazida pelo Vento do Leste. Na companhia de Mycroft, eles tiveram que enfrentar a fúria de Eurus em Sherrinford. Depois de assistir Sherlock preferir poupar-lhe vida em detrimento da do próprio irmão ou, até mesmo, da própria vida, e de tirá-lo do fundo de um poço horas mais tarde, John percebeu que, definitivamente, não queria mais se afastar do detetive.

Mas foi só depois de maquinar tudo isso por meses junto a sua terapeuta, que John cedeu aos apelos de Sherlock e agora se encontrava de volta no 221B, juntamente com Rosie, E se sentia leve e feliz com a decisão,  como não havia se sentido há muito tempo, aliás.

O que Sherlock não imaginava, entretanto, é que a convivência com uma criança em sua rotina não seria tão complicada como presumiu inicialmente. Na realidade, ele afeiçoou-se à garotinha como se fosse sua própria filha e sentia um prazer genuíno de cuidar daquele pequeno projetinho de John. Lia para ela toda sorte de historinhas de detetives e heroínas, deixava que explorasse os sons vindos de seu violino com os dedinhos gorduchos, comprava brinquedos que lhe instigassem o intelecto e a coordenação motora e chegou, até mesmo, a levar a pequena com ele para cenas de crime em mais de uma ocasião.

- Não conte ao John! - Tratava sempre de lembrar a Lestrade, que observava com reprovação toda vez que o detetive chegava com a garotinha presa ao seu corpo naqueles suportes de carregar bebês.

Quando a primeira palavra emitida pela menina foi um sonoro: "Téééédio!", clássico bordão do Detetive, John nem mesmo estranhou. Na verdade, ver a menina repetindo os vários trejeitos de Sherlock o fazia se sentir um pouco, sei lá, apaixonado? Era fofo, afinal.

Um experimento químico - JohnlockOnde histórias criam vida. Descubra agora