17| Jogo arriscado.

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THOMAS ANDREWS

O intervalo passado havia sido estranho, após eu dizer que Anne era sim uma pessoa interessante, ela ficou quieta demais. Imaginei que estivesse envergonhada. E ela ficou com vergonha, ficou se esquivando demais e começou a direcionar suas palavras só para Rose. Ela fez isso até o sinal tocar e então não nos falamos mais.

E eu sabia o motivo dela começar agir estranho, eu sabia que era culpa minha e do que eu havia dito. Mas alguém tinha que dizer que ela era uma pessoa interessante, ainda mais alguém que tivesse tanta importância para ela como eu tinha.

E não era mentira, não disse só para que ela se sentisse bem ou algo assim. Eu disse a verdade. E eu não conseguia entender o porque dela se achar desinteressante.

Anne era engraçada, leve, desajeitada e muito, muito sorridente. Quando sua boca não se abria para um sorriso, era seus olhos que riam. E eles riam, se divertiam com o brilho e me explicavam como seria tão fácil me apaixonar por ela. Me olhavam e me faziam pensar por longos segundos, davam sentidos a coisas bobas e roubavam toda a minha atenção.

Era tão satisfatório a observar mas ela sempre ia embora, me deixava sozinho e eu ria, balançava a cabeça. Negava qualquer tipo de pensamento, eu não ousaria me interessar por ela e então a machucar. O amor sempre tinha o mesmo final e eu não seria o cara que a deixaria amargurada.

Gostava do seu jeito de levar a vida, tão leve e simples como se só viver fosse necessário, sem se importar com o resto. Eu queria ser assim, se eu não me importasse com a relação de meus pais, talvez eu acreditasse no amor.
Mas eu tinha o exemplo em casa e eu não queria viver aquilo.

Anne ainda veria que o amor não era tudo aquilo, mas não era eu quem faria isso. Seria como dizer à uma criança que papai noel não existia. Ela acreditava muito no amor e eu sabia que ele de fato existia, dava certo raramente para raros casais. E com a sorte que eu tinha, eu sabia que não daria certo para mim.

Uma pena, porque Anne era alguém por quem eu me apaixonaria.

Com toda a chatice do mundo, é legal se arriscar no amor.
Me aventurar no seu olhar, fugir para qualquer outro lugar e nunca mais voltar. Eu nunca voltaria de lá, mas ele nem ao menos me deixa entrar.
Então eu fico no frio à beira de seu olhar.
A porta trancada e ele não escuta minhas batidas, ele não me enxerga, ele não faz parte do meu mundo e eu fico tentando entrar no seu à força.
Eu nunca consigo, só fico pensando bobagem e escrevendo poesias, mas nunca faço algo quanto à isso.
Eu gosto muito dele mas a timidez me vence sempre, eu nunca irei falar nada. O que eu diria? "Eu sou apaixonada por você, seus olhos e tudo, até escrevo sobre isso. Não, eu não sou maluca, só tenho o coração muito fácil. Eu sei que você nunca falou comigo, não me conhece mas eu me apaixonei..." Não, definitivamente não!
Isso ficará só no meu coração.

— Eu acho que você disse que eu precisava de ar, mas aqui é outro lugar fechado — Anne já reclamava ao entrar no ginásio da escola. — Sem falar que não pode ficar aqui sem um professor.

— Eu gosto daqui — disse dando de ombros e pegando a bola de basquete que estava por ali.

Eu quis a levar para outro lugar e no ginásio eu poderia fazer algo que eu gostasse, ela reclamou muito no caminho e disse que se fosse para passar o intervalo fora da biblioteca, ela passaria com Hollie. Eu a convenci, acho que não precisei de muito.

O Caderninho De Anne MalloyWhere stories live. Discover now