Então é de mudanças que estamos falando?

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- Hyuck! - Seu sorriso aparece quase que de imediato ao capturar-me com o olhar, quebrando seu semblante anteriormente sério.

Um grande ponto de interrogação surge bem no topo da minha cabeça, mas meu rosto é sereno, considero-me um ótimo ator às vezes, porque não expresso minha confusão. Me limito a sorrir pequeno e apontar a carteira que guardei para ele. Jeno não demora muito a sentar-se e girar seu corpo em minha direção, ficando de frente para mim.

Os lábios parcialmente avermelhados destacam ainda mais seus dentes bem alinhados e brancos, a maquiagem em torno de seus olhos os deixam ainda menores quando sorri e mais penetrantes em sua expressão natural.

Lee Jeno, é aqui que te declaro o mais novo rei do dualismo.

Sinto que tê-lo seria o mesmo que encontrar fogo e água convivendo em harmonia.

Só que não foi sempre assim. Antes via sua presença como algo parecido com a sensação de abraçar um ursinho de pelúcia gigante: reconfortante e acolhedor.

- Seu cabelo tá grandinho... A franja já tampa seus olhos, se não a joga para o lado. - Repara e ajeita a postura antes de prosseguir - Ficou legal assim. - Elogia-me por fim.

Então é de mudanças que estamos falando?

- Obrigado. - Quero perguntar sobre seu visual novo, mas penso outra vez antes de questioná-lo, logo desistindo da ideia. É que a resposta não me é visível, sendo assim, não sei o que esperar. - Eu... gostei do seu cabelo também. - Gostei mesmo. O topete meio despojado deixa sua testa e sobrancelhas mais visíveis. Um ar maduro envolve-o com ternura e harmoniza perfeitamente com a energia que ele emana agora.

Que droga, Jeno não para de sorrir e tenho medo de ficar olhando demais.

- Obrigado, eu gostei mais dele assim, não me atrapalha a visão. - Me agradece. - Ei, desculpa não ter ido te dar oi quando cheguei, minha mãe mandou eu entregar uns documentos na diretoria e eu tive que ir correndo, porque você sabe como me esqueço das coisas, né?

E o desespero foi em vão. Não sei se fico aliviado, ou irritado comigo mesmo.

- Ah sim... - Dou uma risada meio sem graça. - E as férias, como foram?

- Normais. E as suas? - Responde balançando os ombros, como se não tivesse acontecido nada realmente emocionante.

- Normais também. Fez o que lá na casa do seu irmão? - apoio o rosto em minha mão enquanto ele respira fundo, desviando o olhar, como que pensando em sua resposta.

- Ele me fez de escravo e assitiu filmes comigo. - Ri baixinho.

- Divertido. - Pura ironia. - Fiquei jogando e comendo num loop infinito.

- Queria eu ter feito isso, que inveja.

O sinal toca e a professora de literatura entra, fazendo barulho a cada passo que dá com seu sapato de salto médio, ajeita os óculos redondos no nariz e começa a dar o discurso repetitivo de começo de ano.

A aula é leve hoje, então me permito refletir um pouco sobre esse pequeno incômodo que vaga em meus pensamentos. É que algo estranho aconteceu enquanto eu conversava com ele. Não consegui senti-lo aqui, foi como se estivesse com a cabeça em outro lugar enquanto falava comigo. Estava distante, por isso não me disse o que fez fora do período de aulas, então não me senti à vontade para lhe contar sobre as coisas que me ocorreram também, acho que ele não prestaria muita atenção. Sem contar que não me abraçou também. Foram dois meses sem nos ver, não duas décadas, então por que parecemos estranhos dialogando?

Não acho que ele vai me deixar, só estou curioso com o modo dubitável como agiu.

O intervalo chega depois do que pareceu ser uma eternidade e saio com Jeno para comermos no pátio, debaixo de uma das árvore que tem aqui.

Ele trouxe uma barrinha de proteína e um iogurte natural.

Era só o que me faltava. Lee Jeno sendo o amigo saudável. Não gosto disso, porque antes dividíamos nossas porcarias no recreio, agora vou ter que comer sozinho. Abro meu saco de chips e lhe ofereço, mas o Jeno fit nega.

- Não quer?

- Não posso.

- Como assim? - Me recuso a aceitar isso.

- Estou trabalhando no meu corpo agora... ganhei músculos nessas férias e vou mantê-los.

Não percebi que seu físico mudou, mas é culpa da jaqueta e da calça que usa, como poderia adivinhar, oras? Falando nisso, já faz mais calor nesse horário do dia.

- Eca, gente saudável. - faço cara de nojinho e ouço sua risada divertida. - Tira a jaqueta, Jen, você vai cozinhar aí.

Ele concorda e se levanta para retirar a peça de roupa. Não quero soar inapropriado, mas é inevitável olhá-lo... Ele disse que ganhou músculos, sendo assim, quero ver as novidades. Não é pecado nenhum, eu acho.

Jeno tira um lado da jaqueta e tento não cair de costas ao ver que usa uma regata por baixo. Ele ganhou músculos mesmo.

É esquisito ver que mudou tanto e pior ainda é admitir que está bonito. Jeno é tão atraente, que me deixa incapacitado de responder se gosto mais dele assim, ou antes.

Receio que amo os dois.

A outra manga da jaqueta é retirada e engasgo com meu suco de pêssego. Eu vi algo, mas não sei se é o que estou pensando que é.

- Eita, Hyuck, desceu pelo lado errado? - Se refere ao suco e aproxima-se de mim, dando tapinhas leves nas minhas costas.

Quero arremessar essa caixinha na cara dele.

- O negócio preto no seu braço. Aquilo é uma tatuagem?

Jeno ri e estica o antebraço para mim, confirmando minhas suspeitas.

Uma rosa negra.

Isso porque suas férias foram normais...

- Fiz semana passada. Bonita, não é? - Fala sorrindo timidamente, meio recatado, acho que ficou incerto com minha reação.

Olho para o desenho bem feito e seguro seu braço, observando mais de perto e passando o polegar sobre a tatuagem, como lhe fazendo um carinho.

- É linda. - Concordo. - qual o significado?

- Eu fiz junto do meu irmão, a dele é idêntica, mas ele escolheu tatuar na mão. - Explica. - Mas acho que é a primeira e a última que faço.

- Por que? Doeu muito? - Quero saber.

- Não é isso, só estou satisfeito com uma. - volta a sentar-se ao meu lado e termina de tomar o iogurte, enquanto acabo com o saco de batatinhas.

- Entendi. Bom, eu gostei da rosa.

Sendo mais direto, gostei mesmo foi de como ele está excessivamente arrebatador com todas essas coisas novas aí.

We used to be friends || NohyuckWhere stories live. Discover now