Capítulo VII

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 Pulo da janela de forma hábil e Benedita segura rapidamente na minha mão, com receio de eu torcer o pé. Sorrio para ela, embora desejasse que ela não me tratasse com tanto cuidado, como se eu fosse de vidro.

 Corremos silenciosamente por um caminho feito por nós que se estendia pelo meio da floresta e ligava a minha fazenda com a fazenda vizinha. Passamos pelo arame e chegamos a um lugar mais afastado da casa, para que os donos não pudessem nos ouvir.

—Chegaram cedo. – Uma voz firme e sedutora se manifestou atrás de uma árvore.

—Foi uma semana estressante. – Falo. – Estou ansiosa para treinar.

—Então vamos. – A voz se aproxima e revela uma moça alta e de pele escura, com tranças no cabelo.

 Ela é uma mulher muito bonita, embora esteja mal cuidada e cansada, ela era apenas um pouco mais velha que eu e sua juventude ainda destaca os traços formosos dela. Nós três sempre treinamos dia de sexta-feira, embora exigisse um grande esforço das minhas companheiras devido aos seus cansaços.

—Como será o treino hoje, Dandara? – Benedita indaga para ela.

—Mostrarei mais alguns golpes e vocês tentarão executa-los.

 Ela sorriu sem mostrar os dentes e se apressou em mover os braços e as pernas, deferindo um golpe em mim e eu caio no chão.

—Perdeu o costume, Cel? – Ela desdenhou. – Lembre-se que deve sempre estar preparada para quando alguém quiser te passar a perna.

 Levanto gemendo com a dor que senti na perna e bato as mãos na calça, para tirar a areia.

—Desculpe, estou um pouco avoada. – Tento espalhar os pensamentos da semana.

—Então eu mostro os golpes primeiro para a Bene. – Dandara segura meu ombro e eu estremeço. – Você observa e depois treina.

 Ela fala isso e depois vai até Benedita.

 Uma hora e meia depois eu e Bene voltamos para casa exaustas, nos despedimos e eu vou para a meu quarto. Penso nos meus avós e rio ao pensar na inocência deles em relação a eu obedecer a tudo que eles falam.

 Eu os amo muito, mas eu tenho minhas próprias vontades. E não iria abrir mão delas.

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 Minha avó não cala a matraca e eu estou muito cansada para dar ouvidos. Apenas finjo que escuto enquanto os outros sorriem e concordam na mesa.

—Você vem conosco, certo Cel? – A mais velha pergunta.

—Ãn, para onde? – Saio rapidamente do transe.

—À casa da minha velha amiga doente. Nós vamos visita-las.

 Não. Não estou nem um pouco a fim de ir.

—Fale por nossa mercê, minha mãe. – Gaspar levanta da mesa e a beija na testa. – Terei que ir a cidade.

 Ele da a volta na mesa e beija o topo da cabeça de Maria – que continuava calada e sorridente como sempre –, no de Laura e no do Nicholas. Em mim, ele defere o beijo na bochecha e demora dois segundos a mais que no restante. Felizmente ninguém percebeu.

—Terei que continuar o trabalho lá na fazenda. – Diz Nicholas.

—Eu o ajudarei. – Digo rapidamente. – Além do mais, Benedita não dará conta dos afazeres sozinha.

 Lembro que não havia visto meu avô ainda, isso só queria dizer que ele já tinha ido para sua segunda casa: o bar. Reviro os olhos ao pensar nisso e o condeno.

A Dama FerozWhere stories live. Discover now