Suga's List

KuroKen - LevYaku

Alguns dias depois de conversar com Yamaguchi, as coisas pareciam ter tomado rumo. Ao menos foi o que aparentou; Asahi sempre que podia ia se pegar com Yuu em algum canto aleatoriamente vazio da escola, Tanaka e Ennoshita faziam planos sobre coisas que poderiam fazer nos finais de semana, Tsukishima parecia estar de bom humor – não que ele andasse por aí sorridente, afinal, estamos falando de Tsukishima Kei – e mais ninguém teve problemas amorosos.

Exceto por Yui.

Michimiya Yui é uma garota legal, além de bonita e amiga íntima de Daichi desde o fundamental. Quando ela está próxima de Sawamura, tende a misturar palavras e ficar completamente desajeitada, embora seja uma pessoa consideravelmente centrada.

Eu só não entendia porque raios ela estava pedindo para conversar comigo.

— S-Suga-san! — exclamava energeticamente, como se eu fosse um surdo. Observei os lados e pude notar que alguns dos alunos que passavam pelo corredor olhavam para nós. — Preciso da sua ajuda! — Seus dois punhos fechados lhe davam um ar de determinação. Pude jurar que a atmosfera ao seu redor cintilou.

— Minha ajuda? — Franzi as sobrancelhas, surpreso. — Com o que?

De repente, suas esferas castanhas foram abaladas por um ar de constrangimento, que foi instintivamente direcionado ao chão com certa aleatoriedade.

— Da-Da-Da... — gaguejou. Seu rosto estava começando a ser afligido por um intenso vermelho estarrecedor. Senti uma pontada de desespero ao ponto de cogitar chamar os paramédicos.

— Eh? Acalme-se antes que passe mal. — Tentei tranquilizá-la. Yui tomou fôlego:

— Com o Daichi... — Aquela maldita frase saiu tão baixa e ao mesmo tempo tão devastadora em meu peito, que ficar sem reação foi a melhor coisa que pude fazer. Foi como receber um soco no estômago e um banho de realidade. Não que tenha passado despercebido por mim que Michimiya gostava de Daichi, pelo contrário, sempre foi espantosamente óbvio, desde o primeiro ano. O que nunca entrou na minha cabeça é como esses dois ainda não estavam juntos. Yui é bonita, inteligente e simpática apesar de ser piadista (Daichi é um pouco mais sério do que aparenta ser).

E Sawamura... Bem, é o Sawamura, não preciso nem me prolongar nas razões para que alguém se apaixone por esse cara. Ele é do tipo que está sempre com um sorriso gentil nos lábios, trata a todos com um carinho surreal – menos quando se irrita, mas essa é uma coisa rara de se acontecer (na verdade "era" uma coisa rara de se acontecer, daí chegou o Hinata e Kageyama) –, é compreensivo e educado. Daichi tem uma construção corporal de deixar qualquer um sem fôlego, é respeitado por toda escola – menos pelo pessoal do basquete, não sei explicar como essa rixa começou, possivelmente foi por comida – e intimidador. Entretanto, esse seu ar de meter medo em algumas pessoas não se aplicava a mim. A gente tinha uma confiança inabalável; eu sabia tudo ao seu respeito, pois sua boca fez questão de contar-me. Passamos por altos e baixos com nosso time e sempre nos apoiamos mutuamente. Eu podia lê-lo com facilidade e, por isso, nunca entendi o porquê de ele agir imparcial com Yui, pois eu tenho plena e absoluta certeza de que Daichi sabe dos sentimentos dela, do contrário, tenho todo o direito de tachá-lo como burro.

Eu respirei fundo e senti os dedos de minhas palmas gelados. Não entendia que sensação era aquela, eu só sabia que é ruim; meu peito pesa e arde, como se estivesse sendo apertado por uma gigante mão. É como estar possesso de uma raiva sem precedentes. A garganta se aperta, as palavras embolam e sua mente não processa mais nada que não sejam xingamentos.

Porque me incomoda tanto?

Puxei ar para os pulmões e o soltei vagarosamente com desígnio de pôr para fora metade daquele sentimento ilógico não nomeado. Funcionou. Meu coração agora batia mais calmo e não doía tanto quanto anteriormente. Para Yui, abri o meu sorriso mais afável: