Cores frias e quentes

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   O verão é a estação preferida de Sophia. Ela ama quando acorda e os fortes raios de sol já iluminam seu quarto. Apesar de não ser algo que agrade a muitas pessoas, ela ama ser acordada pela luminosidade, porque a energia lhe faz se sentir tocada por algo puro, algo não humano, uma força que ninguém pode impedir. Ser tocada pela luz de um astro natural é uma dádiva.

  Seu quarto é o mais natural possível. Sua cama de casal é posicionada no meio de uma parede pintada de amarelo e enfeitada de pequenos filtros dos sonhos, prateleiras com pequenas suculentas e cactus. Pode não parecer muito saudável para as plantinhas, mas foi propositalmente colocado uma grande janela de vidro que ocupa a metade para cima da parede pintada de laranja, justamente a frente de sua cama. Alguns vazos médios de plantas estão colocados encostados na parede. Quando o sol nasce ilumina aos poucos todo o quarto. Era um costume de Sophia ser acordada quando o sol começasse a nascer e então continuava deitada na cama, esperando até que o sol subisse um pouco mais ao céu e saísse de trás do horizonte de prédios enormes da grande Los Angeles, enquanto ela ouvia Yellow do Coldplay, satisfeita por finalmente o sol tocar seu rosto e dar as boas vindas aos seus xodós vasinhos de plantas. Era um ritual diário desde o início do verão.

As outras duas paredes do quarto são as laterais. A esquerda é laranja e a direita é amarela. Na esquerda há uma porta branca e bem larga onde é o seu banheiro. Nessa parede estão pendurados um violão amarelo, um espelho de tamanho médio e circular, um quadro negro que ela costumava usar antes para desenhar, depois para anotações do ensino médio, durante o verão para escrever músicas e agora ela pretende usar para fazer anotações do seu trabalho e da faculdade.

Sophia quer ser uma adulta agora. Cansou de ser uma menina peculiar aos olhos dos outros e tudo o que ela quer é ser comum e viver algo monótono enquanto está fora do seu mini palácio colorido há cores quentes.

  A outra parede do quarto é a direita da cama e é onde tem a porta para entrada e saída do quarto. A porta fica quase entre as divisões da parede laranja com vidro e da parede amarela. Essa é a mais aleatória possível. Sophia dividiu mentalmente a parede em três repartições.

A repartição perto da parede da cama é coberta de polaróides dela, da família e de amigos, de cima a baixo. A repartição do meio é coberta de prateleiras brancas cheias de pequenos globos de neve.

Sophia odeia neve, mas elas os guarda porque são os presentes anuais para qualquer data comemorativa. O seu pai havia se separado da sua mãe antes mesmo de Sophia nascer. Ele nunca foi um pai presente, mas nunca esqueceu de mandar os globos com cidades aleatórias e cheios de flocos de neve. Há apenas um globo que é aparentemente é ensolarado. Ele possui areia, uma palmeira e mini conchas espalhadas. Quando ela balança pequenos sóis brilhantes e purpurinos deixam o globo ainda mais amarelado. É o seu globo favorito no mundo e se chama Sunny.  Ele é o primeiro globo da primeira prateleira de cima.

A terceira repartição que está ao lado da porta, é cheia de mini telas de pinturas. Uma curiosidade peculiar é que todas as telas estão brancas ainda. Não há uma só gota de tinta nelas. Sophia quer pintar algo que a deixe feliz, algo que ela ainda veja e pense "isso me deixa entusiasmada, feliz e com vontade de mais". Ela sabe que essas telas serão preenchidas a qualquer hora, por isso estão lá mais de oitenta mini telas todas lado a lado, com um mimi espaçamento entre elas, do teto até quase o chão azulejado.

O resto do apertamento continua do jeito que era quando Sophia veio morar nele. Ela apenas colocou um sofá grande e branco, muito confortável na sala. Colocou um painel de madeira e sua TV. Há um tapete marrom cobrindo o espaço no chão entre o sofá e a parede do painel. A parede de todo o cômodo é vermelha.

A cozinha é toda laranja. Tem igualmente uma grande vidraça que cobre metade da parede, onde ela ajustou para que fosse uma área de serviços e aproveitou para encher de mini cactus ali também. Depois tem a pia, a lava louças, uma bancada de mármore preto com armários em baixo e armários embutidos nos dois lados das paredes, na bancada está o Cooktop.É uma cozinha americana, por isso o que separa a sala da cozinha é a metade da parede que agora é usada como bancada para utensílios grandes da cozinha , como batedeira, liquidificador, sanduicheira e alguns potes de vidro cheios de pirulitos e balas, todos dos sabores morangos, laranja e abacaxi. Também há uma geladeira que nada coincidentemente é da cor vermelha. Está encostada na parede de frente para a bancada, deixando um espaço para passar livramente entre a galadeira e a bancada.

A porta de saída é na sala.

Então pela lógica e ordem da arquitetura do trigésimo quarto apartamento, abrimos a porta e encontramos a sala a esquerda, a cozinha a direita, um portal no fundo da sala que nos apresenta um corredor amarelo. Do lado esquerdo está o banheiro e do direito o quarto de Sophia.

A mãe de Sophia vive em Nova York, ao lado de toda sua família materna. O pai de Sophia mora na Inglaterra, especificamente em Londres. Ela só o visitou uma única vez em toda a vida e não gostou muito. Era jovem demais e se sentia deslocada.

Sophia tem dezenove anos de idade apenas. Ela vive nesse apartamento não faz mais de seis meses. Aproveitou muito o verão, acordando sempre às seis, devido ao seu despertador natural chamar sua atenção todos os dias pela falta de cortina na vidraça.
Sophia comprou um biquíni laranja que dá um ótimo contraste a sua pele branca e acabou por ganhar um bronzeado, por visitar a praia diariamente. Ela foi sua própria companhia durante seis meses e agora está nervosa por amanhã começar as aulas em uma faculdade cheia de pessoas que ela nunca viu na vida.

Está nervosa porque ela quer saber quem vai se tornar sua melhor amiga na faculdade. Sophia faz amizades facilmente. Ela é extrovertida, fala muito, fala sobre tudo, gosta de ouvir e adora conhecer pessoas. Ela não trata ninguém com inferioridade. A gentileza é quase seu sobrenome.

Já não basta ser tão bonita por dentro, Sophia é linda por fora também. Seus cabelos são castanhos bem marrom, lisos desde as raízes até encontrarem as pontas, onde ondulam levemente. Sua pele é branca, mas por causa do verão, acabou por ficar um pouco bronzeada e agora anda de um lado a outro com as bochechas vermelhas. Os seus olhos são castanhos muito escuros, tão escuros que quase pretos, além de serem tipicamentes grandes. O seu nariz felizmente puxou o da mãe, então é fino e com uma pontinha arrebitada. Adorável. O seu sorriso é largo e os dentes são perfeitamente alinhados, graças ao aparelho ortodôntico que usou na adolescência. 

A sua altura varia entre um metro e sessenta e sete e um metro e setenta. Ela não sabe ao certo, nunca se lembra de se medir para ter uma reposta concreta.
Seu corpo não é cheio de curvas como os das outras meninas da sua idade. Ela é aparentemente magra, mas quando se deita sua barriga mostra as três dobrinhas salientes. Tem seios medianos, um quadril não tão largo, bumbum pouco avantajado, que ela costuma chamar de gomos de tangerina, e pernas nada musculosas.

Outra peculiaridade de Sophia são suas roupas. Ela não é um hippie ou algo do tipo, mas fala sobre seu humor pelas cores.
Na escola vai sempre a encontrar usando calças jeans, tênis e algum moletom. Quase todos os dias, você encontrará Sophia vestida com um moletom grande de cor amarela, laranja ou vermelha. Se qualquer dia esbarrar com ela vestida de azul, verde ou violeta, saiba que algo afetou a menina.

Sophia arrumou seus materiais a noite, deixando anotado no quadro negro uma rotina.
Às seis ela se levanta e prepara o café. Até às sete deve estar pronta. Às sete e meia já deve estar dentro do seu carro de cor branca.
As aulas começam às oito e meia, mas ela precisa falar com o diretor antes e conhecer o campus. Vai cursar literatura.

Depois de revisar sua rotina, fez um telefone para sua mãe. Contou lhe como foi o dia, tomou uma caneca fumegante de chá de camomila enquanto ouvia uma playlist de músicas aleatórias.

Ela tem suas preferidas, mas quer conhecer tudo o que ela puder pra dizer com firmeza sobre o que ela gosta e o que não gosta. Tudo o que é novo pra ela, ela gosta de aprender sobre e levar pra vida se for bom.

Deitou-se a cama ansiosa para acordar e inciar o seu ano letivo. Ela nem imagina que em breve vai preferir as cores frias às quentes, porque ele faz parte do azul, do violeta e do verde.

Ainda bem que cores frias e quentes se misturam, não é mesmo?

Half a Man  •hes•. +18Onde histórias criam vida. Descubra agora