Hades e Perséfone (O conto das estações)

Capítulo 14

     Acordo sentindo o cheiro dele e sorrio, em meio a escuridão eu procuro por seu corpo tateando pela cama, mas não o encontro e então me sento na cama, iluminado pela pouca luz do corredor eu vasculho o quarto com os olhos e vejo que estou sozinha, saio da cama devagar ainda sonolenta eu caminho em direção a porta, olhando para a parede me lembro do ocorrido na noite e instintivamente eu passo os dedos por meus lábios, recordo a trilha que fez pelo meu corpo, sinto seu cheiro ainda pela minha pele e fecho meus olhos aproveitando as sensações.

-Uh minha flor você está aí !

    Abro meus olhos rapidamente e Hypnos aparece pelo corredor, para a minha frente e me olha de cima a baixo por um momento, então sua expressão analítica muda para uma de grande surpresa quando coloca a mão na boca.

-Não...ah danadinho, eu não a-cre-di-to, ele foi rápido mesmo, mas do jeito que estava eu não duvidei que fosse acabar cedendo, então, como foi querida ?

    Ele pegou minhas mãos nas dele com animação e me olhou nos olhos ansiando minha resposta.

-Como foi o que ?

-Ah não seja tímida, pode me contar tudo. -ele pisca para mim e soltando minhas mãos entrelaça o braço ao meu nos levando pelo corredor enquanto fala animadamente.- Eu sei que meu senhor Hades e você tiveram uma noite agitada.

-O que ? Como... -me surpreendo e sinto meu rosto corar e arder em vergonha.

-Aí está a prova de tudo, tão meiga, é uma alegria ter você de volta -dá tapinhas na minha mão e me lança um sorriso- Agora me conte, como foi ? 

-Foi...mágico, eu nunca me senti tão quente e tudo foi tão intenso.

-Tenho certeza que nosso senhor jamais seria qualquer coisa diferente de intenso minha flor, ele foi no seu ritmo ?

-Não sei se havia realmente um ritmo, tudo foi tão rápido, de repente eu sentia a parede nas minhas costas e ele a minha frente...

-Uhhh querida, parede ? Isso explica o clima quente que eu senti ontem.

-Ele estava quente...foi tudo incrível, eu jamais havia sentido coisa parecida e ontem eu disse a ele o que você tentou me dizer quando veio aqui.

-Ohh docinho, que lindo e como foi ?

-Estávamos nos beijando e então eu disse que o amava.

-O que ele fez ?

-Bom...ele travou, pareceu pensar e então disse que não podia, que não era o momento e que me explicaria melhor outra noite.

-Explicar ? O que havia para explicar ? Além de que não se para uma noite de núpcias por causa de uma declaração de amor, isso deveria incentivar.

    Eu arregalei os olhos espantada quando ouvi a palavra, parei no lugar e então ele se vira para mim parecendo confuso.

-O que foi flor ?

-Núpcias ?

-Sim, a noite dos casais, a lua de mel, o momento em que dois se tornam um...

-Foi isso ? -Meus olhos se abriram mais e meu rosto queimou ficando vermelho.

-O que achou que fosse ? -ele levantou uma sobrancelha questionando.

-Por Zeus o que eu farei ? Será que gerarei uma prole dele ? O que direi a minha mãe ? Eu não devia ter beijado ele daquela forma... -entrando em pânico eu levei as mãos a cabeça e fui de um lado ao outro pensando nas possibilidades.

-Querida acalme-se, foi um ato natural entre amantes e não vejo problema em gerar algo dele, afinal já são quase casados.

-Oh eu sabia que era demais para o momento, senti algo diferente quando sua língua tocou a minha, deve ter sido o sinal da gestação.

-Fique calma é... -ele travou e me pegou pelos ombros- você disse língua ?

-Sim, era molhado e eu acho que se fundiu com a minha saliva, ó Zeus eu estou grávida. -meus olhos começavam a se encher d'água e eu segurava para não desatar a chorar.

-Saliva ? Amorzinho me diga exatamente o que fizeram, se beijaram e o que mais ?

-Foi só isso...e por acaso teria mais para acontecer ? -meus ombros chacoalhavam com meus soluços.

-Querida, olhe para mim, sua mãe explicou como funciona para um bebê nascer ? -pegou meu queixo devagar e secou minhas lágrimas com os dedos.

-Ela disse que quando um homem nos beija quando está quente e molhado ficamos férteis e temos bebês.

-Ah por Hades, querida tudo isso foi um grande engano -ele ria e parecia se divertir, sem entender paro de chorar e ele pega minhas mãos- você não está grávida flor, beijos não engravidam e acredite em mim quando digo que aquilo não foi uma noite de núpcias, há muito o que você aprender minha flor.

    Ele parou de rir e com uma expressão afetuosa secou meus olhos e enlaçou nossos braços para seguir o caminho enquanto me tranquilizava, mas em minha mente a dúvida estava implantada, se aquilo não foi tudo, o que teria a mais ?