Capítulo 26

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     Ela dormia em meus braços, havia se forçado tanto para permanecer em pé sem machucá-los que voltou a forma menor sem reparar no que estava fazendo, tão ingênua em confiar e acreditar que fariam o certo no final de tudo e eles se aproveitaram da bondade e carinho pelos mortais em seu coração de forma cruel, depois associam a mim como o mal, tolos, descem a minha casa para tomar o que é meu e esperam sair ilesos, o ódio ainda nublava meus olhos e só permanecia são por tê-la e meus braços sentindo que estava segura, não se mexia muito, mas parecia saber que tudo havia passado, sua respiração já estava mais tranquila e isso me deixava melhor, ela era minha âncora e minha única fraqueza. Chegando no nosso quarto eu a coloco na cama e pego uma vasilha com água e um pano limpo para primeiro limpar seu ferimento, eles haviam perfurado sua preciosa pele, ela deve ter sentido tanta dor...sentindo meu coração apertar em ódio e amargura eu choro escassas lágrimas, mas tão cheias de sentimento que pareciam pesar, amaldiçoando aos mortais que ousaram lastimar a minha rainha eu e ajoelho ao seu lado e não sabendo o que fazer eu clamo por ela.

-Amada minha...perdoe-me, eu falhei em protegê-la, perdoe-me, reconheço que estou sendo patético agora, mas eu necessito de sua ajuda, por que me sinto assim tão...impotente ? Diga-me, me ajude a entender por que eu não consigo fazer isso sem você...minha luz por favor perdoe-me, por minha ausência eles a feriram, mas não se preocupe, eu vou cuidar de você.

    Passei a mão por seu rosto tranquilo e então vi as marcas que as cordas fizeram em seus ombros e não me contive, com os olhos nublados por lágrimas e raiva eu deposito um beijo na testa de minha amada e saio mentalmente chamando por Hypnos que assim que eu saio do quarto está no corredor, eu entrego o pano a ele e sem parar digo friamente.

-Cuide dela por mim, eu tenho assuntos a resolver.

    Sem dar tempo para que questione eu saio para onde os dois miseráveis estavam, pronto para descarregar todo meu amargor sem dó nem piedade.

-Perdoe-me minha deusa, mas essa é minha natureza e eu me vingarei por você.


    Quando acordo estou em meu quarto e de Hades, Hypnos está do meu lado sentado em um banco me observando.

-Onde Hades está ?

-Querida, seu homem está assombroso, não vai querer vê-lo agora.

-Como assim ?

-Quando ele me chamou aqui estava com a expressão mais temível que já vi em seu rosto, e...

-E... o que ?

-Ele estava fazendo algo que eu nunca o vi fazer, em seus olhos haviam... lágrimas, em todo esse tempo eu jamais o vi chorar, achei até que isso fosse impossível para ele, mas hoje eu vi que não.

-Oh não, preciso vê-lo, ele precisa de mim. -eu começo a me levantar mas meu amigo se põe na minha frente abrindo seus braços tapando minha saída.

-O que acha que está fazendo ?

-Indo até ele, talvez tenha se ferido, eu tenho que confortá-lo.

-Você é que se feriu, ele está intocado flor, mas realmente não recomendo ir vê-lo agora e antes que recuse meu conselho, ele me mandou ficar cuidando de você, então se for eu vou ser o culpado, por isso poderia me ajudar aqui e ficar ?

-Tudo bem... -sem querer causar problemas para ele eu me deito na cama com cuidado.

-Ah minha doçura, eu vou te dar belos sonhos, apenas descanse.

    Ele se aproxima e beija minha fronte, logo começo a ficar sonolenta, então caio no sono. Após um tempo eu acordo com a visão embaçada, quase como se ainda estivesse no sonho, viro para o lado e Hades está sentado na beirada da cama, seus cabelos caindo em cascatas negras pelas suas costas, parecia tenso, então ainda mole pelo sono eu chamo por ele.

-Hades ? -ele reage apenas virando um pouco de seu rosto não mostrando muito.

-Volte a dormir Perséfone, ainda é noite, descanse.

-Venha aqui comigo. -eu me estico indo em sua direção mas ele se levanta e vai para o canto mais escuro do quarto.- O que foi ?

-Nada, apenas volte a dormir, está tudo bem. -ele virou seu rosto deixando o cabelo cair na frente, sua voz parecia controlada demais, além do comum e isso me alertou.

-Está mentindo para mim...o que há com você ?

    Eu cerro meus olhos tentando ver melhor em meio as sombras, mas sem sucesso e sem uma resposta eu resolvo arriscar, jogo os lençóis para o lado e atravesso a cama, ele faz menção de vir me impedir mas trava quase se expondo a fraca luminosidade e vendo isso eu tento um movimento mais rápido e pulo para fora da cama fazendo força na coxa o que me causa um pouco de dor e eu cambaleio, ele sem se conter vem me segurar, um de seus braços envolve minha cintura e o outro segura meu ombro gentilmente.

-Por favor não se esforce agora.

-Eu estou bem... -quando eu tiro a mão que estava tocando seu braço vejo que tem sangue e me desespero vendo que seus braços, pescoço e rosto estão todos sujos de sangue- Hades, o que houve com você ? Está machucado ? Está doendo ? -ele se afasta uns passos para trás e ergue uma mão perto do corpo para que eu não me aproxime.

-Eu estou bem, não estou ferido, mas não pode se aproximar de mim agora, não quero que se suje.

-Mas e todo esse sangue ? 

-Não é meu.

-O que você fez ?

-Nada que não fosse merecido. -seu tom foi amargo e seco.

-Meu amado... -lágrimas caíram dos meus olhos sem eu poder evitar- sinto muito..

-Por que sente ? Isso nada tem de culpa sua. -ele veio para perto mas parou a mão que iria me acariciar a um curto espaço não encostando.

-Eu poderia ter evitado, poderia ter seguido o que disse e evitar confiar de primeira em todos, eu fui tola.

-Não minha amada, essa é quem você é, não é sua culpa que eles sejam aproveitadores, só peço que tome cuidado, eu...eu não posso ficar sem você, não consigo. -sua voz era tão sofrida que eu não pude me conter e me lancei a ele procurando o conforto de seus braços, não me importava o sangue, ele estava aqui e estava bem, era só isso que importava, estávamos juntos.

    Em pouco tempo em seus braços ele me aperta contra si parecendo desistir de resistir a minha aproximação, eu aliviada por tê-lo assim me surpreendo quando sinto algo gotejar em minhas costas, ele estava chorando, sabendo que não me deixaria ver seu rosto eu comecei a cantar suavemente enquanto acariciava seus cabelos devagar. Em algum momento ele me levanta devagar e nos leva para a cama, me aninha em seu peito ainda sem me deixar vê-lo, mas compreendendo seu lado eu canto até que pegamos no sono e dormimos um nos braços do outro com nossos corações ritmados.

Hades e Perséfone (O conto das estações)Where stories live. Discover now