Nada precisa mudar

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Alguns dos personagens encontrados nesta história e/ou universo não me pertencem, mas são de propriedade intelectual de seus respectivos autores. Os eventuais personagens originais desta história são de minha propriedade intelectual. História sem fins lucrativos criada de fã e para fã sem comprometer a obra original.

AVISOS: Heterossexualidade



Ele tinha 12 anos e um tornozelo recém-curado quando a viu pela primeira vez. Shouto estava mal-humorado, planejava dormir até mais tarde naquele sábado, mas o pai não permitiu. O médico o examinara no dia anterior, garantindo que ele poderia voltar a dançar quando quisesse. E Shouto não queria. Os meses que passou na fisioterapia foram de longe os mais tranquilos de sua vida: sem competições, sem sapatos com pequenos saltos, sem sorrisos exagerados e maneirismos teatrais para circular em uma pista de dança. Shouto teve paz, porém, sendo filho de quem é, a paz não durou.

Então lá estava ele, caminhando sem ajuda de muletas. A Fuyumi o acompanhou, mas provavelmente sabia que ele não precisava de companhia. Shouto sabia o caminho da Escola Endeavor de Dança como as veias em seus braços, já fazia meses que não ia até lá, mas o pai insistiu que ele retomasse aos treinos para não enferrujar. Na época, era exatamente o que o garoto desejava: enferrujar, travar a ponto de não conseguir dar um passo que não fosse desastroso a ponto de arruinar suas chances de competir para sempre.

Era a aula do Takami, sujeito que se passava por muito mais simpático do que realmente era. A Fuyumi sempre foi boa e atenciosa, não deve ter acompanhado o irmão mais novo com motivos ulteriores, mas ver o loiro que lecionava dança de salão deve ter sido uma motivação a mais para ela.

— Ora, vejam só quem saiu da toca! — o Takami sorriu ao vê-lo — Parece que você espichou durante sua fase de molho, hein, Shouto-kun? Vai ser difícil arranjar uma parceira alta o bastante pra combinar com você.

— Não tenho interesse nisso.

— Shouto... — a Fuyumi suspirou — Desculpa, Keigo, ele só tá aqui pra assistir mesmo.

— Ah, não tem problema! Tudo a seu tempo! Bom... se vão assistir à minha aula, podem sentar ali, eu já tô quase acabando. — ele se voltou às duplas deslizando pelo salão — Bom trabalho, Ashido-chan e Sero-kun! Jirou-chan, que tal deixar o Kaminari-kun te conduzir só um pouquinho? Kirishima-kun e Uraraka-chan... nada mal.

Ela era um pouco mais baixa que as outras e tinha movimentos levemente imprecisos, como se feitos de maneira incerta, mas quando rodava nos braços do garoto ruivo e apenas se entregava, parecia por um milésimo de segundo estar flutuando, graciosa e suave, mas com certa firmeza para não ser jogada pelo parceiro que não era ruim, mas aparentava ser um tanto brusco em sua condução. Eles escorregaram por um momento, e a maneira como ela riu e apertou o braço do garoto de cabelos vermelhos, aparentemente indicando que estava tudo bem, grudou em sua memória e jamais o deixou.

Ele tinha 12 anos e um tornozelo recém-curado quando se apaixonou por ela.

***

— Você não é a noiva, não é você que devia se atrasar.

— Eu tô morrendo de vergonha, Shouto — Ochako respondeu, sua voz abafada pela porta que os separava. — Não me entenda mal, eu adoro a Fuyumi-nee e o sensei, quero muito fazer isso por eles, mas...

— Mas é constrangedor. Eu sei. — ele afrouxou a gravata — Eu me sinto uma atração de circo. Meu pai não tem vergonha. Usar o casamento da filha pra nos exibir como se fôssemos troféus.

— Bom, nós não somos, mas... ganhamos um bem importante, né? Eu acho que é motivo de orgulho, sim. É só que... é estranho eu achar mais tranquilo dançar na frente de todos aqueles jurados do que na frente do seu pai?

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