Demir saiu da sala de Ekram com as palavras do homem atravessadas em sua garganta. Não importava que aquele era seu superior, ele não tinha o direito de insinuar tamanho absurdo a seu respeito. Ele deveria ter se defendido mesmo contra a vontade de seu chefe, escolher o silêncio não havia sido uma decisão muito acertada.
E se Ekram Bey interpretasse a falta de empenho de Demir para se defender como uma confissão de culpa?
Não. Isso não poderia acontecer.
Ele já estava prestes a se virar e entrar novamente na sala quando ouviu Merve chamando seu nome. Demir levou os olhos até o rosto da amiga e encarou a expressão confusa que ela tinha. Ela queria perguntar o que havia acontecido, mas tinha medo da resposta.
— Vedat Bey está esperando por você na lanchonete. — Merve optou por iniciar o diálogo com Demir por um assunto neutro.
— Certo. — O médico suspirou pesadamente. — Vamos.
Ele passou por Merve e os dois seguiram em silêncio pelos corredores do hospital em direção à lanchonete. Eles encontraram Vedat tomando uma xícara de café numa das poucas mesas que estavam ocupadas naquela hora.
— Ne oldu oğlum? — Vedat perguntou assim que os dois se aproximaram dele. — Merve disse que você estava falando com seu chefe. O que ele queria?
Demir não respondeu de imediato. Ele indicou uma cadeira para que Merve se sentasse e em seguida sentou-se à mesa com os dois. Os olhares curiosos e preocupados dos amigos o deixava ansioso. Como ele iria explicar o que havia acontecido sem que parecesse que Ekram Bey tivesse razão?
— Ekram Bey disse que não sou mais o médico responsável por Selin aqui no hospital.
— Ne? — Merve gritou, chamando a atenção dos presentes. — Nasıl? He can't do that!
— Ele pode e ele fez, Merve. — O médico afirmou com desgosto.
— Neden? — Vedat perguntou surpreso.
— Porque eu estou me aproveitando dela, Vedat.
— Yok artık! — Exclamou Merve quase saltando da cadeira.
— Demir isso é um absurdo! — Declarou Vedat, batendo com a palma da mão contra a mesa.
— Foi o que ele disse. — Demir suspirou. — E como se não bastasse, ele disse que a única razão pela qual não me mandou embora é porque ter o meu nome no corpo clínico do hospital traz prestígio.
— Demir Bey...
— Eu sabia disso, Merve. Desde o começo eu sabia exatamente o porquê de Ekram ter me procurado e por mim tudo bem. Eu realmente não me importava com isso. — Revelou o médico. — Mas o fato de ele suspeitar que eu seria capaz de assediar uma paciente, foi realmente uma surpresa.
— Como ele chegou a essa conclusão? — Vedat perguntou encarando o amigo.
— Burak. — Afirmou Demir. — Burak vem semeando essa história em todas as partes do hospital. Não surpreende que ele tenha feito essa mentira chegar até o ouvido do pai dele. Ele jogou muito bem, eu tenho que admitir.
— Principalmente porque não foi ele quem te acusou abertamente para Ekram Bey. — Merve contou.
— Não? — Demir se assustou.
— Não. — Informou Merve. — Quando você chegou para checar Selin e eu saí do quarto, eu ouvi alguns médicos e enfermeiras conversando. Eles diziam que Burak tinha feito o certo em ligar para o pai, que a situação com Selin havia atingido o limite do tolerável. — A médica não conseguia esconder sua expressão de desgosto. — Eles se questionavam o porquê de uma paciente estar tão apegada a um médico ao ponto de ter um surto daquele nível. Foi então que uma das enfermeiras disse que Burak tinha razão, que você se comportava com ela de forma diferente dos demais. — Merve encarou o amigo com certo pesar. — Ela contou que certo dia, quando foi checar Selin, que ela havia dito que você a fazia se sentir especial. Que o modo como você a tratava era único.
Demir fechou os olhos com força. Ele não podia acreditar no que estava ouvindo. Parte dele queria socar a própria cabeça contra a parede como punição por ter sido tão desatento. Outra parte queria encontrar um por um daqueles que se atreveram a insinuar tal barbaridade e confrontá-los. Mas outra parte, uma pequena parte que ele queria manter escondida, sentiu-se satisfeita em saber que Selin estava feliz com a forma que ele cuidava dela.
— Um dos médicos disse que você estava iludindo Selin porque embora ela estivesse condenada a viver em uma cadeira de rodas, ela era muito bonita. — Merve respirou fundo antes de continuar. — E que talvez os pais dela devessem se preocupar com suas visitas noturnas a ela.
Demir levou a mão até os olhos e massageou as têmporas. Aquilo só podia ser um pesadelo.
— Isso é uma acusação muito grave. — Vedat observou. — Ekram Bey não deveria levá-la a sério sem provas.
— Ele não precisa de provas, Vedat Bey. — Lembrou Merve. — Ele tem o filho como garantia.
— Se Semih Bey tivesse me dito que não aprovava a maneira como eu tratava sua filha, eu entenderia. — Demir alegou. — Se Reyhan Hanım tivesse ido até a sala de Ekram Bey e dito que achava o meu comportamento inadequado, eu entenderia. — A raiva do médico parecia crescer à medida que as palavras iam saindo e sua boca, era nítido que ele estava se controlando para não explodir. — Se Selin tivesse me olhado nos olhos e dito que não queria mais que eu ficasse responsável por ela, eu aceitaria. Mas Burak e os demais...
— Demir, sakin ol. — Pediu Vedat.
— Isso é muito baixo, Vedat. Muito.
— Nós sabemos que isso é injusto, mas não há nada que possamos fazer de cabeça quente. — Advertiu o florista com cautela. — Você precisa se acalmar para encontrar uma solução.
— A solução mais rápida e mais eficiente é falar com os pais de Selin. — Merve aconselhou. — Se eles forem até Ekram Bey e dizerem que discordam da acusação e da decisão dele o problema será resolvido.
— Eu não tenho o direito de pedir isso a eles, Merve. — Declarou Demir, soltando o ar pesadamente. — E mesmo que tivesse eu não seria capaz de fazer isso. Eles não merecem passar por mais esse tipo de situação.
— Tamam, eu entendo que é realmente um assunto delicado e desagradável, mas, Demir, sua carreira e a sua reputação estão em jogo. — Lembrou-o Vedat. — Você não pode se dar ao luxo de ser orgulhoso agora.
— Não é orgulho, Vedat. — Justificou-se Demir. — Eu simplesmente não posso olhar nos olhos de Semih Bey e Reyhan Hanım e dizer que fui acusado de assediar a filha deles.
— E se falássemos com a garota? — Sugeriu o florista ao amigo.
— Hayır. — Demir negou veementemente. — Sakın ha.
— Selin não vai lidar bem com a situação, Vedat Bey. — Afirmou Merve. — Demir Bey sumiu por dois dias e ela quase colocou o hospital abaixo.
— E é exatamente por isso que vocês devem falar com ela o quanto antes. — Vedat insistiu. — Se ela teve uma crise por conta de um afastamento de dois dias, imagine o que não vai acontecer com essa garota quando ela descobrir que Demir não vai mais ser o médico dela.
— Vedat tem razão. — Demir suspirou contrariado. — Tudo o que aconteceu hoje foi porque esconderam a verdade dela. Ela não precisa saber o motivo real, mas não posso esconder dela que vou me afastar.
— Emin misin, Demir Bey?
— Não temos outra opção. Não vou arriscar a recuperação dela por conta da falta de caráter de Burak. Não posso fazer isso.
— O senhor é quem sabe, Demir Bey. — Merve se deu por vencida. — Mas como e quando contar?
— Não agora. Precisamos esperar um pouco mais. Ela precisa superar a crise de hoje primeiro. Temos um mês para prepará-la para essa notícia.
— Vamos torcer para que ninguém passe na nossa frente.
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Dancing in the stars [PT-BR]
FanfictionSelin Sever é uma jovem bailarina muito talentosa e dedicada que está de volta a Istambul para uma apresentação especial. Demir Erendil é um traumatologista de 30 anos no Hospital Geral de Istambul, o maior da cidade. Com base nos seus círculos de a...