Sürpriz

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O dia amanheceu nublado. As nuvens escuras cobriam o céu e um vento frio entrava pela janela de Selin. Ela abriu os olhos devagar, a lembrança do sonho ainda estava clara em sua mente. Desde que ela e Demir haviam se entendido, o médico tinha se tornado o personagem principal de todas as histórias que sua imaginação contava a ela durante a madrugada.

Era claro que isso não era algo novo. Ela sonhava com ele há tempos, desde os dias em que estava no hospital. Mas, naquela época, os sonhos eram tudo o que ela tinha. Agora, por outro lado, somadas a eles existiam as lembranças das manhãs em que ele ligava para dizer bom dia, das tardes em que ele estava livre e ia visitá-la, das conversas intermináveis e das inúmeras vezes em que ela adormecia nos braços dele enquanto eles estavam sentados no só sofá da varanda ou do jardim.

Demir era mais do que Selin poderia imaginar. Ele estava sempre disposto a animá-la, a encorajá-la. Ela sabia que havia dias em que se tornava completamente insuportável e mesmo assim ele era paciente e tentava entendê-la.

Selin tinha medo de se tornar completamente dependente dele e sabia que, por mais que ele se esforçasse para não demonstrar, Demir sentia a mesma coisa. Ele não era sua primeira paixão, mas seria a última. O modo como ela o amava deixava claro que ela jamais se sentiria da mesma forma com outra pessoa.

Por isso, talvez, o medo de perdê-lo era ainda maior do que o que ela sentia em relação às outras pessoas. Essa era a principal razão que a motivou a continuar com as sessões de terapia, era bom ter alguém com o olhar de fora com quem conversar sobre as coisas que ela temia em relação aos próprios sentimentos.

Ela sabia que ainda tinha um enorme caminho a percorrer até voltar a ser minimamente parecida com a versão de si mesma antes do acidente. Tinha consciência de que não seria a mesma, nem mesmo a pessoa mais otimista e positiva do mundo seria a mesma depois de passar por tudo o que ela havia passado. Mas, de certa forma, a mudança era algo bom, ela começou a enxergar coisas que antes passavam despercebidas, ela começou a apreciar coisas que antes ela sequer sentia falta.

Selin tentava ao máximo não lamentar as coisas que havia perdido, era óbvio que algumas coisas eram mais fáceis de superar do que outras. Ela estava completamente em paz com sua volta para sua terra natal, ela amava Istambul e tudo o que a cidade podia oferecer a ela. Mas ainda ressentia não ter tido a oportunidade de se apresentar para o público de lá. Ela sabia que nunca deixaria de sentir falta do balé, a dança era parte de sua identidade enquanto pessoa, não havia a menor possibilidade de deixá-la para trás.

Ela se lembrava de Demir ter dito que talvez ela pudesse voltar a dançar em um novo estilo, pois haviam pessoas que dançavam sobre a cadeira de rodas, mas não seria a mesma coisa. O balé era sua paixão, qualquer outro ritmo a faria se sentir estranha e longe de si mesma. Embora não tivesse certeza de que seria possível, ela chegou a pensar em, quem sabe no futuro, ensinar crianças a arte de se equilibrar sobre as pontas dos pés.

O barulho das batidas na porta chamou a atenção de Selin. Ela não tinha notado há quanto tempo estava acordada, geralmente ela despertava poucos minutos antes de o celular tocar com a ligação de Demir, mas desta vez ele não tinha tocado. Ela certamente havia dormido demais.

Gel. — Ordenou Sein.

Günaydın Selin Hanım...

A voz de Demir chegou aos ouvidos de Selin fazendo-a sorrir imediatamente. O médico apareceu logo em seguida usando uma camisa polo verde musgo e uma calça bege, o que causou um estranhamento na garota. Ela não se vestia assim no dia a dia, pelo menos ela não se lembrava de tê-lo visto em roupas daquele tipo antes.

A expressão dela deveria demonstrar bastante do que se passava em sua cabeça, pois Demir a encarou com um olhar curioso antes de dizer:

— Pergunte, Selin.

Dancing in the stars [PT-BR]Onde histórias criam vida. Descubra agora