Duquesa comprada: A história pelos olhos do Liam

Capítulo 11. Hora de ousar

"Ousar é perder o equilíbrio momentaneamente. Não ousar é perder-se."

Soren Kierkegaard

...1798...

Abro os olhos, assustado com um barulho de algo caindo e quebrando-se. Coisas estão sendo jogadas fora, provavelmente louças, e quebrando-se. Me levanto, atordoado, e visto meu roupão, já procurando de onde vem o barulho.

Atravesso a porta entre meu quarto e aquela sala de estar, então entro no quarto da duquesa, que está parecendo uma zona de guerra. Criadas correm de um lado para o outro, lençóis são trocados, um novo colchão é carregado por dois lacaios, baús são trazidos para dentro e pilhas de objetos colocados pelo chão, quadros são tirados das paredes e o caos está instaurado. Não me surpreende que, no centro caos, gritando ordens e atirando outro vaso ao chão, está Jeffrey.

- O que diabos está acontecendo aqui? – exijo saber.

Todos param.

Jeff para.

Ele me olha.

Ele sorri.

- Bom dia, menino. – diz ele calmamente. – Nós estamos preparando o quarto da duquesa, trocando tudo que precisa ser trocado e organizando os pertences que foram enviados pelo visconde.

Olho para os cacos aos pés dele.

- E os vasos, foram quebrados por qual motivo?

Jeff faz careta.

- São bregas. Uma duquesa moderna exige decorações modernas.

Suspiro, já dando as costas a ele.

- Iremos ao seus aposentos em alguns minutos, milorde, trate de estar pronto. – diz ele e eu paro, me viro para ele de olhos arregalados.

- Por que vão aos meus aposentos? Nem pense em tentar mudar meu quarto!

Jeff sorri.

- Vamos apenas ajuda-lo a se preparar para o casamento. Lembra-se que é hoje, não é?

Ele acha que sou idiota?

- É claro que me lembro, sou a merda do noivo!

- Pois bem, menino, então se apresse! – Jeffrey diz, batendo palminhas e me enxotando dali.

Finalmente dou as costas para ele e volto para o meu próprio quarto, julgando ser melhor para a minha sanidade que eu nem tente entender o que eles estão aprontando naquele maldito quarto.

Depois do Baile Real, eu tinha ido para Gruffin no dia seguinte e, por isso, não tinha visto Kate. Eu tinha feito questão de enviar uma carta a ela dizendo que não iria visita-la antes da cerimônia, mas que estava muito ansioso para o casamento, Jeff tinha lido e feito algumas alterações para ficar mais romântico, o que julguei uma perda de tempo, mas ele colocou na cabeça que será o nosso cupido e fará com que Kate se apaixone por mim.

Apesar de não se importar nem um pouco comigo, meu pai tinha se disposto a realizar o casamento no castelo, seguindo os protocolos reais e exibindo para o povo do reino o casamento de seu segundo filho com uma dama nobre, a nova duquesa de Gruffin e princesa de Fernsby. Odeio mais que tudo a ideia de que sou um príncipe e Kate será uma princesa em algumas horas, o que lhe atribuirá alguns deveres relacionados à família que eu tanto desprezo, mas, para a minha sorte, Kate parece ter a mesma opinião que eu sobre a realeza e acredito que apreciará tanto quanto aprecio a ideia de não ter que viver no castelo e conviver com a família real.

Quando entro no banheiro anexo ao meu quarto, vejo que Jeffrey não está para brincadeira. O velho mandou que preparassem um banho com tudo que há de melhor para mim e sei que, caso eu me recuse a entrar na banheira, ele me enfiará na água pelos cabelos, então eu mesmo tomo a iniciativa de entrar na água e tomar o banho com calma. Assim que saio, o meu café da manhã foi servido no meu quarto e Jeff está parado ao lado da mesa.

Talvez não seja tão ruim ser um noivo, receber todo esse tratamento especial do mordomo e ainda terminar o dia com um laço vitalício com uma dama como Katherine Woods.

- Quantas pessoas vêm para o café da manhã no meu quarto? – indago ao me sentar na única cadeira disposta ali.

- Apenas você, menino. – Jeffrey responde seriamente. – Precisa estar bem alimentado e vigoroso para o seu grande dia, provar seu amor e consumar a união no fim do dia.

Dou risada.

- Esse casamento não será consumado tão cedo, Jeff.

- Será mesmo, milorde? – ele indaga com um tom de descrença. – E se milady já for apaixonada por você e só você não perceber?

Olho nos olhos dele e arqueio a sobrancelha.

- Isso não é verdade. – Falo. – Isso pode ser verdade?

- Só existe uma forma de descobrir. – Ele sorri.

Solto um suspiro e me sirvo para começar a comer.

Isso não é verdade. Não pode ser verdade. Kate não é apaixonada por mim e talvez nunca seja, se ela me amasse, eu teria notado, Jeff só está tentando fazer com que eu me declare e faça papel de ridículo. Não vai rolar.

- Só existe uma forma de saber, Liam. – Insiste ele.

A oscilação de Jeffrey entre o tratamento formal e o carinhoso comigo as vezes me confunde um pouco, em um momento sou menino, no outro sou milorde, então sou Liam.

Olho seriamente para ele.

- Arrisque-se! – Jeffrey fala com convicção. – Se a ama, precisa dizer. Seja ousado, beije-a com paixão no casamento e vá aos aposentos dela esta noite, declare-se e mostre o quanto arde por ela.

Reviro os olhos.

- Não, obrigado.

O olhar dele é de repreensão agora.

- Então vire noites tocando piano e bebendo, mas não me peça mais ajuda e nem chore para mim quando ela deixar de amar-te e pedir para se mudar para uma propriedade distante de você.

Penso por um momento enquanto levo um pedaço de presunto à boca e como-o. Odeio admitir isso, mas talvez Jeffrey tenha razão, talvez eu realmente devesse me declarar para Kate e dizer como me sinto, seria a forma mais fácil de mudar isso e tentar descobrir como ela se sente.

Chega de me esconder.

Está na hora de ousar.

- Tudo bem. – Declaro. – Você venceu. Vou conversar com ela esta noite, mas não tenho certeza se tem razão quanto aos sentimentos dela.

Jeffrey sorri.

- Acredite em mim, menino, vocês ainda serão um lindo e apaixonado casal.

Ainda não sei se tenho toda essa fé que Jeff demonstra ter, mas vou tentar. O primeiro passo é mudar, mostrar para Kate no casamento como estou feliz com essa união e mostrar a ela o meu melhor. Vou lhe dar um beijo de tirar o fôlego.