'tis the damn season.

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Santa Mônica, Califórnia - 2004.

Roseanne.

ERA dezembro e eu me sentia péssima. Tipo, no meu pior estado de espírito. Não conseguia parar de pensar em como tudo parecia fluir na direção oposta ao meu favorecimento, por mais que eu houvesse implorado por um panorama melhor no dia anterior. É, talvez eu fosse mesmo uma azarenta.

Do lado de fora da minha janela corretamente fechada eu podia enxergar os flocos de neve caindo do céu e zombando de mim, como se dissessem haha, estamos aqui para presenteá-la com seu clima preferido! Não era segredo que eu odiava o inverno e todas as consequências ruins que ele trazia a mim e ao meu humor. As pessoas ao meu redor pareciam não ligar para a mudança de clima, mas eu ligava. E muito.

Dezembro era como uma faca de dois gumes: por um lado era o meu mês preferido, simplesmente por trazer o Natal e todas as sensações que essa época carregava consigo, o que me fazia tremeluzir em felicidade e animação apenas pela perspectiva da sua chegada. Mas por outro, era o pior mês, unicamente por conta do clima. Santa Mônica é uma cidade tipicamente praiana, onde o tema principal deveria ser verão, calor e sol o ano todo. Mas dezembro vinha com a determinação de uma criança birrenta, querendo me mostrar que era sim sua função mexer com a tradição climática.

Especialmente naquele dia, eu estava me preparando para o fim das aulas na Santa Mônica College, com uma prova dificílima de uma matéria mais dificílima ainda do meu curso de jornalismo. E eu pedira muito aos céus que o dia fosse ensolarado e gentilmente caloroso, mas quando acordei e vi todos os carros estacionados cobertos por uma manta branca, cheguei a conclusão de que eu não era uma preferida do poder superior.

Caminhei pelo meu quarto fazendo uma lista mental do que pretendia fazer naquele dia, enquanto procurava alguma roupa pra vestir no bolo de bagunça que o meu quarto havia se tornado. Eu não tinha um quarto muito grande, era bem simples e com uma aparência entulhada na verdade. Pequeno, com uma cama de solteiro na parede do fundo e uma cômoda na frente, sob a janela, onde eu mantinha meu discman e um ventilador pequeno sobre ele, com um corredor bem apertado no meio. Havia um closet ao lado da porta, na parede oposta à da janela, o que seria muito útil e legal se eu o mantivesse arrumado a ponto de eu conseguir entrar nele. Logo a frente da cama eu mantinha a minha mesinha de estudos igualmente bagunçada, repleta de post-it pelas paredes e pelo notebook, me lembrando de tarefas que eu provavelmente esqueceria considerando a memória que tenho. Dos dois lados da minha cama haviam se formado quatro pilhas no chão, com todos os livros que eu tinha e todos os meus CD's prediletos e nas paredes haviam pôsteres diversos, de Linkin Park à filmes como Um Corpo Que Cai e Gattaca.

Depois de muito relutar, escolhi na pilha de roupas uma calça jeans larga, uma camiseta de mangas preta, um casaco grosso de lã com capuz, que me deixava como um saco de batatas, e meu tênis Converse vermelho misturado com tons de sujeira. Deixei meu cabelo loiro e liso se espalhar em forma de cascata sobre os meus ombros e coloquei um gorrinho de lã vermelho na cabeça. Do lado de fora, eu já podia ouvir os passos agoniados do meu irmão pelo corredor, saindo para a escola atrasado como sempre.

Com a mochila nas costas e embrulhada como um pacote de burrito, eu estava pronta para enfrentar a neve que me ameaçava do lado de fora. Quando cheguei ao andar de baixo, meu avô, Charlie, estava parado à porta e eu quis estapear meu rosto quando o vi conversando com Lalisa Manoban.

Lisa era minha melhor amiga, quase como uma alma gêmea irmã. Estudávamos na mesma universidade, porém ela cursava entretenimento tecnológico, ou algo a ver com isso. Odiava quando ela chegava cedo e começava a conversar com Charlie, porque eu sabia que essa conversa sempre tinha o objetivo de me fazer sair de casa com ela e eu não podia odiar mais algo do que não ficar em casa, e odiava isso ainda mais em dias frios.

SOL DA MEIA-NOITE Where stories live. Discover now