Capítulo 9

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Quando acordei na manhã seguinte, minha cabeça estava pesada.

Parecia que toneladas de chumbo haviam se alojado dentro dela e meus olhos estavam igualmente pesados e cansados. Grunhi dolorido, me remexendo na cama para poder levantar. Quando estava sentado na cabeceira, estiquei as mãos e procurei por meus óculos.

— Harry! — ouvi a exclamação vinda da porta do quarto, e dei um pulo no lugar arregalando os olhos. — Você acordou!

Draco?, pensei, entortando o rosto em confusão. Eu ainda estava dormindo? O que diabos Draco estava fazendo na minha casa?

Então finalmente ajeitei os óculos no rosto e foquei melhor a visão, percebendo a cena cômica que se desenrolava diante de mim: Draco estava parado com um largo e animado sorriso no batente da porta, vestido com o meu moletom verde e um pano de prato jogado sobre os ombros. Tinha uma colher de madeira coberta de molho em uma mão e no outro braço segurava Edwiges. Snuffles estava parado entre as suas pernas, o rabo tufoso abanando para os lados enquanto a língua resfolegava para fora da boca. Os três pares de olhos me observavam brilhantes de felicidade e a única coisa que eu pude fazer foi soltar um ronco e começar a rir.

— O que é isso? A minha comitiva de “bom dia”?

Snuffles latiu em concordância e trotou até estar ao meu lado na cama, exigindo carinhos e me oferecendo lambidas. Não demorou dois segundos para que Edwiges também viesse voando, me dando bicadinhas carinhosas nos dedos enquanto eu acariciava suas penas. Olhei para Draco, que ainda estava parado no batente da porta, e ele levantou um dedo para mim antes de sumir pelo corredor. Voltou segundos depois e me enrolou em um abraço quentinho e apertado, passando as mãos no meu cabelo.

— Bom dia, Harry — ele murmurou.

— Bom dia.

Eu estava prestes a perguntar o que ele estava fazendo ali quando ele se desvencilhou de mim e me apontou um dedo ameaçador.

— Você trate de levantar sua bunda magra dessa cama para ir lavar o rosto e escovar os dentes. Já está na hora do almoço e ele está quase pronto.

— Tudo bem, mas...

— E eu vou voltar para a cozinha! — bradou antes de rapidamente sumir pelo corredor de novo, Snuffles o seguindo com a língua para fora e as patas derrapando no piso.

Eu voltei a rir, acariciando Edwiges, tentando entender o que estava acontecendo. E foi com uma pontada particularmente dolorosa no peito que me recordei de todos os momentos do dia anterior. Meu sorriso morreu. Toda a breve felicidade daquela manhã fugiu para longe e eu me afundei na cama, engolindo em seco. Fechei os olhos, todos os acontecimentos daquela semana voltando até mim em flashes nas pálpebras fechadas.

Suspirei, sentindo todo o peso do dia anterior voltar aos meus ombros. Abri os olhos quando Edwiges piou para mim, vendo que ela me observava cuidadosa. Lhe ofereci um sorriso triste e decidi que ao menos iria fazer o que Draco me pediu antes de chafurdar na minha miséria. Então saí dos lençóis e caminhei até o banheiro, levando um susto ao olhar para o meu reflexo.

Oh, é, eu tinha esquecido dessa parte.

Meu olho esquerdo estava grotesco. Um irregular círculo vermelho e roxo envolvia o orbe verde e eu fiz uma careta para a pele machucada. A cor estava um pouco mais clara do que no dia anterior, mas ainda assim... Retirei o Band-Aid da testa e constatei que o corte na sobrancelha parecia melhor, também, e não era realmente muito grande. E o do lábio provavelmente cicatrizaria em alguns dias se eu tomasse cuidado. Levantei o moletom que vestia e analisei minhas costelas, confirmando o que eu suspeitava: também havia uma marca arroxeada ali. Suspirei outra vez, resignado. Apesar de tudo, se eu dissesse que me arrependia estaria mentindo.

TwisterWhere stories live. Discover now