Parte I - Capítulo 01 - HADRIACA PATERA

966 32 10
                                    

Um céu amarelo empoeirado.

Uma estrada onde o asfalto negro reluzia graças à luz do pequeno sol pálido e fixo além da atmosfera rarefeita.

Um deserto vermelho e homogêneo em que a única coisa que se destacava nessa paisagem era a própria rodovia que se perdia no horizonte.

Um veículo terrestre solitário atravessava essa imensidão. Uma espécie de ônibus, adaptado para a gravidade e atmosfera do lugar, e nele algumas famílias a bordo, todas visivelmente cansadas, olhavam a extensa vista melancolicamente pela janela.

Após algumas horas de viagem o tédio prevalecia, uma vez que tudo que se podia contemplar se resumia a rochas vermelhas, terra vermelha e montanhas ainda mais vermelhas.

Uma senhora, aparentemente viajando sozinha, olhou para uma pequena garotinha de olhos e cabelos negros como a noite no banco ao lado. Tímida a garota tentou esconder seu rosto contra o busto da sua mãe que a carrega no colo.

A senhora em questão precisava conversar com alguém, do contrário ficaria louca naquele silêncio sepulcral. Puxou assunto com a mãe da garotinha.

— Olá. Qual o nome dessa garotinha linda? — Perguntou a senhora.

— Olá, essa menina assustada aqui? — Disse a mãe. — Ela se chama Éris.

— Que nome interessante minha pequena. — Respondeu a velha senhora.

— Diga oi para a senhora, — diante do silêncio da criança a mãe a enxotou a responder — seja educada Éris.

— Oi. — Respondeu sem vontade a pequena garota.

— Oi, tudo bem com você? Quantos aninhos têm? — Perguntou a velha mulher se inclinando para a criança.

A menina não respondeu.

— Ela está te fazendo uma pergunta Éris. — Brigou a mãe com a menina.

— Anos da Terra? — A pequena respondeu à pergunta com outra pergunta.

— Sim, anos terráqueos. Quantos aninhos? — Sorriu a idosa.

A garotinha usou os dedos das mãos para mostrar a idade para a mulher. Ela abriu toda a mão esquerda e na mão direita usou só o indicador em riste.

— Olha! Que linda! Seis aninhos. — A senhora bateu palmas. — Perdão, como é mesmo seu nome?

— Éris. — Relembrou a garota.

— Olha que lindo! — A curiosa mulher levou a mão ao queixo de forma reflexiva. — Exótico...

— Exótico? — Questionou a mãe.

— Sim. — Afirmou a senhora. — Não é comum hoje em dia as crianças ganharem nomes de planetoides. Porque escolheu Éris?

— É verdade, — a mãe deu de ombros — normalmente as crianças são batizadas com nomes de constelações, estrelas ou planetas. Planetoides e asteroides não andam na moda.

— E houve motivo para escolher este nome em especial para essa princesinha? — Pertinente insistiu a velha mulher.

— Na verdade não... — A mãe olhou para cima, como se buscasse uma resposta em suas memórias. — Eu quis fugir um pouco do padrão, dar um pouco de exclusividade para ela. Sabe? Exótico como a senhora disse.

— Sei sim. — A mulher concordou com a cabeça.

A criança tornou a se afundar no busto da mãe evitando contato visual com a senhora de idade.

Paradoxo de FermiWhere stories live. Discover now