Capítulo Vinte e Três

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CAPÍTULO NÃO REVISADO

—Quero falar com ele —Robson diz.

Olho para ele e percebo que ainda está vestindo as mesmas roupas de ontem. Não faço ideia de que horas ele chegou, ou se dormiu no quarto ou na sala. Se quer sei se dormiu, porque abaixo dos seus olhos estão enormes olheiras. Além de cansado, ele parecia ter bebido.

Vi Robson quando acabei de ajeitar minha mochila e de riscar mais um X no meu calendário, abri a porta e lá estava ele, plantado em frente à porta do meu quarto. Não falou o que queria naquele minuto e agora que me despedi da minha mãe, ele diz isso.

—O que foi?

—Carro. Vamos logo.

Sim, ainda havia este ponto: quem me levaria até à casa do primo de Otávio seria Robson. Pelo que sei, passaremos menos de meia hora dentro do carro, o que foi um alivio, mas descobrir que ele tem algo para falar jogou esse alivio para o lixo.

Entrei no carro. Quando a porta dele bateu, tremi mesmo que imperceptivelmente. O cheiro de bebida aqui dentro me deixa sufocado mesmo com as janelas abertas, quando olho para trás e vejo o boné dele ali, tenho a resposta. Ele dormiu aqui. Fico ereto, calado, qualquer coisa que ele tenha a dizer só preciso responder com um balançar de cabeça.

—Aposto que você não vai pedir desculpas pelo que aconteceu.

Não é a primeira vez que descubro que não posso manter a boca fechada quando quero, quando preciso.

—Não fui eu quem quebrou a mesa. —Rebato.

Seus dedos apertam o volante. Agarro minha mochila contra o peito. Queria que alguém aparecesse para interromper isso, seja lá o que for, ainda estamos na calçada de casa... Quero que alguém interrompa porque estou com medo de que dessa vez ele acerte algo além do volante, que parece ser sua vítima atual depois da mesa.

Olho para a casa enquanto a voz dele ainda insiste em continuar.

—Não vou forçar você a pedir desculpas, a única coisa que tenho que fazer é consertar aquela mesa para sua mãe não ficar falando o dia todo no meu ouvido. Sua mãe sabe ser bem chata quando quer.

—Hum.

—Disse a ela que levaria você para esse lugar apenas para ver se o rosto dela melhora, está com raiva desde que me viu... Incrível como ando tentando de tudo e ninguém reconhece isso —ele ligar o motor, finalmente —, sua mãe só ligar para mim quando tenho dinheiro, quando trabalho. É fácil para ela, que só faz uma faxina e ganha um salário. Tenho que me virar nos trinta para conseguir alguma coisa e olhe lá. Então volto para casa e o quê que eu recebo?

Não é uma pergunta retórica. Mesmo que eu não o encare, sinto que ele olha para mim, que quer ver minha boca se mexendo. Tenho duas opções agora e por mais que eu queira escolher a mais ousada delas, dizendo que o que ele recebe em casa se dá apenas porque ele é um idiota... não faço isso, escolho a outra opção e digo que não sei. Não sei é a melhor resposta para um adulto com ego inflado, você, eu, pode não saber, mas não se preocupe, tenho um adulto-sabe-tudo do meu lado. Ele pode me dizer o quanto sofre nos seus dias.

Não passamos pela casa de Otávio. Mesmo que ele já tenha ido com Júlia, gostaria de poder passa em frente a casa dele, para que aquela sensação retornasse ao meu corpo, para que eu me sentisse ao menos, um pouco melhor. Ainda não consigo esquecer completamente o ontem; as mãos dele, a boca dele, o que foi que a mãe dele disse... não acredito que estou me envolvendo com alguém pela primeira vez e mesmo assim, tenho que manter minha boca fechada para todos. Lembro-me de quando minha mãe disse que, quando eu começasse a namorar, na segunda semana já queria conhecer o que ela chamou de "garota sortuda". Já faz quase um mês que estou com Otávio, que estamos nos encontrando na calçada da minha casa, já faz quase um mês que estamos nos beijando escondido ou na casa dele, na sala, no quarto dele. Não tem como eu chegar para minha mãe e dizer algo como: "Mãe, lembra quando me disse aquilo sobre a garota sortuda? Então, não fique surpresa, mas essa garota é na verdade, um garoto".

Nos Vemos à Meia-noite (Romance Gay)Where stories live. Discover now