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Flávio (Fiel) narrando...



Enfim a tão sonhada liberdade depois de quatro anos, sem ver a minha família. Fui preso fazendo negócio pesado, tava passando droga no aeroporto, tava desenrolando legal passando droga internacionalmente. Tava rendendo um bagulho daora, até que gravaram minha cara, não era comum um neguin tá no aeroporto todo mês... rodei por distração, por burrice, mais porra que burrice bonita meu irmão, loirinha dos olhos verdes, 1,60 de altura, corpinho pique violão na quele naipe de princesa.

Descolei o número da gata, enrolei muito na minha memória fotográfica memorizando o número foi o tempo dos federais me pegaram. Era um trampo rápido e na agilidade, mais aquela distração roubou meu coração.

Quatro anos e a Loirinha ainda tá comigo, lógico nunca deixei a mina fazer uma íntima não, muita humilhação. Amo aquele maluca, segurou as pontas comigo, trocava um papo comigo o dia todo pelo celular... mermo os coroas dela ser uns mauricinhos do caralho, a mina é firmeza, fecho comigo aqui nesse buraco e eu vou fechar com ela na liberdade!

Fui preso uma semana antes do aniversário da Emilly de quinze anos, e estou saindo uma semana antes do seu aniversário de dezoito anos. Era pra mim pegar 6 anos, o advogado consegui diminuir 1 ano e os resto foi bom comportamento mermo, tava trampando pra diminuir os dias.

Há Emilly sempre foi minha menininha, minha princesinha, a minha menina. Nunca deixei faltar nada, ela era meu bebê, tudo que ela queria eu sempre dei, brinquedos, maquiagens, celular, roupas... nunca deixei faltar nada, e se faltava era porque ela não me dizia que precisava. Eu cuidei dela porque se dependesse da dona Leila, ela tinha deixado a Emilly e Kayo a Deus dará.

Eu sempre fiz o corre, entrei no mundo do crime quando vi meu "pai" abandonar os filhos por uma vagabunda interesseira, quando vi a minha menininha chorar, quando vi a Leila cheirar pó grávida do Kayo! Foi ali que eu me vi com quatorze anos enfiando o dedo na cara da mulher que se dizia "Mãe" e gritando pra que ela tomasse vergonha na porra da cara e esperasse até o bebê nascer pra se afundar, e foi com quinze anos que eu me vi pedindo emprego na boca pra sustentar MEUS IRMÃOS quando minha mãe se afundou nas drogas de vez, foi com apenas quinze anos que tive que aprender que eu teria que ter peito pra sustentar uma irmã de 9 anos e uma criança de quatro anos.

Me doeu ver que a minha irmã havia perdido a infância toda, porque ao invés de brincar de boneca ela estava cuidando de bebê. Minha mãe abandonou o Kayo, a minha menina desde os 5 pra seis anos começou a se virar pra me ajudar. Eu tinha que ir pro corre se não pararíamos fome, e ela teria que cuidar dele. Era uma criança cuidando de outra, eu tinha noção disso.... mais eu não tinha o que fazer, a viciada mal parava em casa. E quando parava só sabia se lamentar, e pedir perdão.

E quando ela decidiu entrar em uma clínica já era tarde demais, não amávamos mais ela como antes, aquela mulher era estranha pra nós. Kayo tinha medo dela, Emilly sempre se negou a acreditar na verdade mesmo pegando várias e várias vezes a Leila cheirando pó escondido dentro de casa, ela negou muitas vezes isso e se forçou a acreditar em um mundo onde a mãe trabalhava e não era viciada. Ao quatorze Emilly queria trabalhar, arrumei um emprego pra ela na quitanda do morro, foi meu maior orgulho.

E foi aí que eu fui preso deixando ela pra trás com a barra de cuidar do Kayo sozinha! E aí meu maior medo começou, ter que imaginar a minha menina se virar com uma criança, um emprego e uma escola.... na vida eu sempre ensinei o certo pra ela, mostrava o certo e o errado, contava o que acontecia comigo o dia a dia e o que eu via ao decorrer da minha caminhada no crime.

Eu sempre quis um futuro pra ela longe daquele morro, longe de qualquer envolvimento com o trafico, longe de qualquer traficante.  E sempre deixei isso bem claro pra ela, eu nunca prendi e impedi de conhecer bailes e festas, mais eu sempre alertei sobre o que ela encontraria lá, eu levava e mostrava os perigos noturnos daquele lugar, mostrava como as mulheres naquele meio eram tratadas. E aí ela criou o próprio conceito, criou a própria mente, ficava longe de tudo aquilo e eu dava graças a Deus.

Único amor de um TraficanteDonde viven las historias. Descúbrelo ahora