37. Ninguém Está Certo

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"Que mundo cruel. Onde eu devo lhe dizer adeus ou morrer de você"


Fui até a casa do Ashton para que ele me ajudasse a planejar o evento. Tudo que eu posso dizer é que eu quero que seja grande. E inesquecível.

Eu nunca vou esquecer desse dia, claro, mas Luke também não, e o motivo não vai agradá-lo.

Ele pode não se importar tanto agora, mas, nesse dia, nesse grande dia, ele vai se importar. E eu espero que Luke volte pra casa de mãos vazias, sozinho, chutando latas de lixo no caminho, praguejando bêbado para as ruas desertas.

Nesse dia ele vai saber que não se pode ter tudo.

Ele vai escrever uma música sobre isso. O tempo vai passar, mas ele ainda vai sentir. Todas as vezes. Mesmo que eles continuem juntos, ele vai se pegar distraído observando ela tomando um simples café numa tarde qualquer, e aí então a lembrança vai atingí-lo com um soco no estômago. Fulminante.

- Você tem certeza? - Ash pergunta enquanto estamos sentados no sofá.

O baterista tem um caderno e uma caneta na mão e está anotando os preparativos. Ele realmente leva isso a sério.

- Sim, tem que ser assim - confirmo.

- E pra quê você quer o meu quarto? - ele franze a testa.

Faço uma cara e Ash não entende no começo.

- Você é suja, Lola Levine - ele ri.

Dou de ombros.

É final de tarde e nós poderíamos estar lá fora sob o sol dourado, mas preferimos ficar do lado de dentro pois mais alguém chega:

Michael se junta a nós e desvia a nossa atenção da organização da festa.

Faz alguns minutos que o guitarrista está cantarolando uma melodia e começando a criar uma letra, mas parece um pouco frustrado. Ashton ajuda com o trecho trabalhoso e vai esboçar o arranjo na bateria.

Nesse ponto, eu já desisti completamente de continuar o que estava fazendo antes, pois estou focada no processo criativo da dupla.

Observo a cara de concentração de Ash e a forma como vibra quando decide a batida. Mais um pouco e ele já dizendo que a sala está quente.

Claro.

Eu alcanço o controle do ar condicionado sobre a mesinha de centro e diminuo a temperatura em dois graus, contrastando com a iluminação baixa que faz o ambiente parecer aquecido.

Eles repetem frases, rimas, ritmos e amam as ideias um do outro, é uma cumplicidade invejável. Fácil adivinhar o porquê da banda ter dado tão certo.

Começa a ficar frio demais pra mim. Eu desdobro uma manta amarela que já estava no canto do sofá e me cubro tirando o tênis e colocando os pés pra cima do estofado macio. Deito a cabeça nas almofadas grandes e os vigio.

Mikey está sentado no chão, perto dos meus pés. Ele tem a guitarra no colo e uma caneta na boca, a mesma com a qual Ash estava anotando os planos da minha festa. Ele usa o mesmo caderno também.

Imagino a sequência curiosa de coisas escritas na mesma página: litros de bebida e um pedido de desculpas.

- Precisamos deles - Michael fala.

Ele olha pra Ashton e o amigo pega o celular.

- Yeah.

Bufo fraco.

Eles continuam o processo, mas decidem não avançar tanto até que os outros dois cheguem.

Isso é suficiente para eu não estar mais tão confortável quanto antes.

Beautiful Stranger | Luke HemmingsWhere stories live. Discover now