Capítulo 1 - Carência

2.5K 165 206
                                    

Marcos P.O.V
Olá, meu nome é... Marcos. Eu não me acostumei com o fato, mas sou um garoto transgênero.

Esse é meu primeiro dia de aula na escola em que sempre estudei, e eu sei que eu vou odiar! Por quê? Porque pouquíssimas pessoas vão respeitar o meu nome e os meus pronomes, mas sou obrigado a ir, então vamos lá.

- Vivi, pode se sentar.

Enfia esse Vivi no seu-
- Ok, professor - me sento e coloco a mochila no chão, como sempre.

Aula de matemática. Quem caralhos tem paciência para aula de matemática às 7h?!!

~7h50
Começou o segundo horário, mudança de professores. O professor de Literatura entra, mas está acompanhando de um garoto.

- Pessoal, esse é o Victor, meu sobrinho. Ele vai estudar esse ano com vocês e além de atrasado ele se perdeu no colégio - alguns garotos riem, algumas garotas babam, exceto a garota do meu lado, ela está um tanto indiferente ao garoto novo no momento.

~8h40
Ao fim do segundo horário, o professor sai e deixa a turma sozinha e começa a baderna.
Victor se vira para a garota do meu lado e começa o seguinte diálogo:

- Jessie.

- Oi.

- O que tá achando daqui?

- Uma droga - tenho que concordar.

- Dá uma chance, vai? Não deve ser tão ruim aqui.

- Ei, maria-sapatão! - diz Vinícius, o garoto que vive praticando bullying comigo.

- Falou comigo, pivete? - Jessie responde com as mãos no bolso do casaco.

- Se a carapuça serve... Mas uma só já era suficiente.

- Não concordo, se esse lugar tivesse mais lgbt's, seria mais interessante, teria mais cor - Vinícius sai de cena com raiva, parece que não tem argumentos. Faz sentido, já que ninguém nunca o respondeu antes - Ele estava falando de você, garota?

- Bem... - eu digo? Pela cara dela, acho que ela notou.

- Qual o seu nome?

- Bem...

- Bem é um nome legal! - diz Victor fazendo piada da minha hesitação.

- Meu nome é...

- Não precisa ficar aflite, pode falar.

- Marcos, pronomes masculinos.

- Ok, ok. Eu sou Jéssica, mas pode me chamar de Jessie. E você sabe o nome do bobalhão aí.

- Ela me adora, como deu pra perceber.

- Eu te adoro mesmo, mas às vezes você é muito burro.

Eu finalmente ia ter amigos! - penso animado

~9h30
O intervalo começa e ficamos juntos no recreio eu, Jessie e Victor. Lanchamos e começamos a apresentar os nossos gostos pessoais uns para os outros.

- Como vocês conseguem gostar tanto de terror? Eu morro de medo! - diz Victor.

- Eu curto muito pela adrenalina, e você, Marcos?

- Eu também.

- A gente podia assistir um filme juntos, mas sem ser terror! - exclama Victor.

- Ok, sem terror. O que nós três gostamos em comum?

- Acho que romance pode ser - diz Jessie.

- Você gosta de romance? Dessa eu não sabia, e olha que te conheço há anos!

- Eu gosto de zoar romances, mas tem alguns que são realmente bons.

- Tipo "Barraca do beijo?"

- Credo! Não, por favor!

Eu e o Victor rimos da expressão incrédula da Jessie.

- Eu escolho o filme e a gente se vê mais tarde, passo o meu endereço pelo Whatsapp - digo animado e os dois concordam com o veredito.

~16:26
Marcamos às 16h30. Deixei pipocas, chocolates, refrigerante e deixei a tela da tv ligada na Netflix. Eu escolhi maratonar "Para todos os garotos que já amei", os três filmes da sequência. Me arrumem bem social mas sem exagero. Minha mãe nunca apoiou o meu estilo "masculino" então eu decidi começar a usar as roupas do meu irmão. Ele não tem nenhum senso de estilo, mas da pra me virar com isso.

~16h30
Escuto o som da campainha. Extremamente pontual! Vou ver quem é.

- E aí, cara.

- Oi.

- Só pra avisar: a Jessie sempre chega atrasada para os rolês, eu devia ter avisado antes, mas esqueci.

- Beleza, então. Entra.

Entramos na minha casa e ele sentou no sofá. Peguei uma caixa térmica e coloquei lá o refri e os chocolates.

- Boa! Assim não esquenta o refrigerante e nem derrete o chocolate - sorrio.

Ele tem uma vive meio tranquila. Gosto dele.

Ficamos sentados enquanto ele mexe no celular. Eu olho para a tela da tv ligada.

~16h58
- Ela vai demorar mais um pouco... Vamos conversar um pouco - diz colocando o celular em cima da mesa de centro.

- Er... Eu não seu puxar assunto muito bem...

- Relaxa, de boa. O que pensa em fazer quando terminar o colégio?

- Atear fogo nos meus livros - ele ri.

- Não tem nada em mente?

- Pior que não, e você?

- Advocacia.

- Legal...

- Tem namorade?

- Não, as pessoas quase não se aproximam de mim, e você?

- Não, mas uma pessoa me chamou atenção recentemente...

- Quem? - ouvimos o som da campainha, deve ser a Jessie.

Me levanto e vou atender a porta, é ela mesmo.

- E aí, cara?

- Oi.

- Não se pegaram nesse meio tempo, né?

- Não fico com héteros, valeu.

- E quem disse que aquela poc é hétero?

Arregalo os olhos, sinto uma sensação estranha, tipo borboletas no estômago.

Nós três nos sentamos no sofá. A Jessie saiu do sofá central e deitou no sofá lateral, deixando eu e o Victor com o sofá central. Sinto a pele dele tocar a minha e me arrepio, acho que ele notou, ou está sorrindo por outro motivo.

Eu me levanto e vou para a cozinha. Será que ele me quer? Estou muito atacado com essa ideia. Acabei de conhecer o cara, não posso estar tão apaixonado assim, que ódio!

Ele também vem para a cozinha, parece o chocolate derreteu e caiu na blusa dele.

- Não quer sair essa merda!

- Posso te emprestar uma minha enquanto lavo essa.

- Não precisa lavar pra mim, mas aceito a blusa.

Vou para o meu quarto para pegar uma blusa bem larga e, assim que eu volto, vejo ele sem camisa na minha cozinha. Estou sem reação e ele olha pra mim, me tremo todo.

Ah, vai dizer que nunca viu um homem sem camisa antes na vida?! Faça-me o favor - penso comigo.

Esse ser está me levando a loucura com o pouco tempo que nos conhecemos, deve ser só fogo e carência, ou será algo mais?
~Continua

Se gostaram desse capítulo votem e interajam nos comentários para eu saber ^-^

Trans BoyOù les histoires vivent. Découvrez maintenant