Prólogo.

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Os passos rápidos soavam por entre as árvores, o farfalhar dos galhos e folhas jogados pelo chão acompanhando a respiração ofegante, os olhos escuros focados na trilha que seu corpo fazia. As vozes dos guardas soavam distantes, mas, mesmo assim, pareciam se aproximar, por mais que continuasse correndo sem parar. Ora, eles tinham cavalos! Era questão de tempo até que lhe alcançassem - sentia-se admirado que ainda não tinham conseguido -, e estava fora de cogitação deixar-se ser pego.

Com o coração batendo mais rápido que tudo, ele virou o rosto para trás, podendo ver pontos de luz não tão distantes assim, e sabia que eram as tochas que os homens carregavam para enxergar através do escuro da floresta. Precisava despistá-los, mas seu corpo já estava se cansando de toda aquela correria. Não demoraria muito para que eles estivessem próximos demais para que pudesse continuar a fugir.

Em um momento de temor, decidiu mudar a direção de seus passos rápidos, correndo para a esquerda, mesmo sabendo que aquilo lhe faria se perder na floresta e que demoraria para achar a vila quando tudo se acalmasse.

Engolindo em seco, o rapaz levou suas mãos até o fecho que mantinha a longa e pesada capa de veludo presa a seu corpo, deixando-a cair sobre a grama e continuando a correr desesperadamente pelo matagal. O suor escorria de sua testa, correndo por todo seu rosto e descendo por seu pescoço, até umedecer sua camisa de tecido caro.

Não sabia por quanto tempo mais correra sem um descanso, mas, em algum momento, viu-se perdido e levemente assustado pelo completo escuro. Desacelerando seus passos aos poucos, o garoto parou para olhar ao redor, tentando se situar de onde estava, engolindo em seco. Só conseguia ouvir sua respiração pesada e ofegante, o peito subindo e descendo rápido demais, e, quando ouviu um ruído próximo, não hesitou em voltar a correr, desesperado.

Suas pernas não aguentavam mais tanto esforço e não demorou muito para que seus pés travassem na raiz de uma das árvores, levando seu corpo a chocar-se contra o chão com força, tirando-lhe o ar por breves segundos. Ele tossiu, sua respiração acelerada fazendo as pequenas folhas abaixo de seu rosto se esvoaçarem para o lado, e as mãos forçaram-se contra o solo, em uma tentativa falha de impulsionar-se para se levantar.

Novamente, seu torso desabou no chão e ele gemeu, sentindo suas pernas doerem. Não conseguiria se levantar, sabia que não, então, só lhe restava deixar-se sucumbir ao cansaço. Virou-se de barriga para cima, tentando recuperar o fôlego perdido e observando as folhas das árvores balançarem devagar com a brisa leve, aos poucos tudo se tornando um borrão. Se tivesse muita sorte, seria encontrado por algum camponês que estivesse de passagem por ali, mas, duvidava muito. Os guardas provavelmente lhe achariam primeiro.

Sua cabeça rodou pela tontura que a exaustão lhe causara naquele momento, e, antes que deixasse seus olhos pesados se fecharem, uma figura apareceu em seu campo de visão, parecendo-lhe turva e confusa, e uma voz grave e doce chegou à seus ouvidos na forma de um murmúrio incompreensível antes que finalmente perdesse a consciência.

Mas, espere. Antes que eu comece a realmente contar essa história, eu acho que devemos, primeiro, saber quem é esse garoto e porquê e de quê ele estava fugindo, não concorda?

Vamos voltar um pouquinho para entender essa parte.

Duas semanas antes.

- Horrível. Mande trazerem de outra cor. Ah, lilás! Isso, lilás.

- Sim, Vossa Majestade.

amaris;; hyunlix.Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon