SETE

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– Desculpe – Pablo repetiu pela quarta vez quando me deixou na porta de casa.

– Sério, não precisa se desculpar – expliquei pela quarta vez. – Nada do que aconteceu foi culpa sua e sim daqueles palermas do outro reino. Tirando isso, eu adorei o dia. Foi delicioso!

– É. Eu também gostei. – algo na voz de Pablo o fez parecer muito sério.

– Algo te incomoda, Pablo? – perguntei.

– Bom, um pouco – sentou-se em uma pedra, frente ao portão.

– Foi algo que fiz? – levemente preocupada.

– Não. Não é você. Na verdade, sou eu.

– Não entendo.

Ele ficou em silêncio por um segundo, escolhendo as palavras:

– É a minha vida. Ela nunca será completamente normal, entende? Eu não posso conhecer melhor uma garota que gostei sem me meter em um incidente diplomático no meio do encontro. E esse tipo de coisa acontece o tempo todo comigo. Isso sem contar quando um jornalista invade a minha casa só pra saber o que os meus pais comem no café da manhã. Não sei se é justo inserir você no meio dessa loucura.

Sentei-me ao seu lado.

– Ainda assim, eu quero te conhecer melhor – resolvi insistir.

– Então nada disso te incomoda?

– É claro que incomoda.

Ele riu.

– Então, sinto lhe informar que a sua linha de raciocínio não faz nenhum sentido.

Sorri de volta para ele:

– Eu sei – respondi. – Apenas acho que toda essa história de "sentido" é supervalorizada.

– Bom. Até o momento você tem feito bastante sentido para mim.

Eu não entendi muito bem o que ele quis dizer com isso, mas gostei do som que essa sequência de palavras produziram. Não quis perguntar sobre elas, pois poderiam ser estragadas por um terceiro conjunto de palavras, não tão charmosas.

Pablo sorriu de canto de boca, característica clássica dele, antes de dizer:

– Sabe... Eu não iria realmente cortar a garganta daquele homem com a espada.

Eu ri.

– Tive uma ideia – ele continuou falando. – A escola não é longe da minha casa, posso mandar alguém te buscar todos os dias depois da aula, para conversamos um pouco. Seria uma boa maneira de continuarmos a nos conhecer melhor.

– Eu tenho uma ideia melhor – respondi.

– Estou ouvindo.

– Eu te visito todos os dias depois das aulas e você pensa melhor antes de dizer coisas como "mando alguém buscar você".

Pablo levantou os dois braços em um bem humorado sinal de rendição:

– Mulher independente. Entendi.

– Sim – rimos. – Então, nos vemos amanhã?

– Nos vemos amanhã.

Aproximou seus lábios dos meus para me beijar de forma tão rápida que eu não conseguiria desviar mesmo se quisesse. Gosto da forma como ele faz isso em um fôlego só.

– Sabe no que eu estava pensando? – falei.

 – No quê?

– Com toda essa agitação que foi o seu dia, deu tempo de fazer o seu "algo novo"?

– Sim. Hoje eu fiz algo que nunca havia feito antes.

– E posso saber o quê?

– Não dessa vez.

O imitei, levantando as duas mãos em sinal de rendição:

– Um homem misterioso. Entendi.

Pablo se despediu e subiu no seu (irritantemente clichê) cavalo branco para cavalgar de volta à sua casa, onde provavelmente iria fazer mais alguma checagem em sua máquina voadora antes de dormir.

Como é de praxe, ao cruzar as portas de casa, levei um susto. Tanto meus pais quanto as minhas irmãs estavam sentados exatamente da forma que os deixei, com as mesmas roupas chiques e com uma completamente estranha expressão de curiosidade no rosto.

– E então? – perguntou uma das irmãs assim que cruzei a porta, sem nem ao menos dar a chance de alguém me cumprimentar. – Como foi?

MAIS LEVE QUE O AR (HISTÓRIA COMPLETA)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora