Epilogo

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Larguei minha mochila num canto do quarto e tirei meus tênis respirando aliviada ao sentir meus pés finalmente livres e logo em seguida me jogo na cama bufando cansada, Madame Glynne havia sido bem rígida hoje no treino e quem sofria éramos nós, suas bailarinas. Fecho os olhos pousando minha cabeça na almofada, mas tudo que me vem continuam sendo os gritos de Madame Glynne, gritando instruções e para que nos esforçássemos mais.

Abro meus olhos de novo desistindo da tentativa de cochilar um pouco antes do jantar e me deparo com um papel a minha frente, ao lado da minha almofada.

Sento na cama pegando em minhas mãos o que parecia ser uma carta que aparentemente era para mim como o meu nome escrito em uma letra que mais pareciam rabiscos, que eu já desconfiava de quem era, denunciava. E não posso evitar dar um sorriso pensando no que Oliver poderia estar aprontando dessa vez.

Abro a carta e passo os olhos pelas letras que tinha agora certeza que eram de Oliver.

Leio ela.
E depois leio de novo.
E só pra confirmar que não me enganei leio de novo.

Meu coração acelera mesmo sem eu saber o motivo e então procuro meu telefone entre os lençóis e almofadas e quando encontro ligo ele me deparando com a minha foto de fundo que era eu, minha mãe e Oliver em uma das minhas várias apresentações e me deparo também com ligações perdidas dele. Liguei de volta com meu coração martelando em meus ouvidos, você não atendeu. E quando liguei novamente, deu na caixa postal de novo.

Minha mente me dizia que não tinha nada de errado, mas o aperto na boca do meu estômago me fez levantar da cama e calçar meus chinelos.

Desci as escadas e passei por minha mãe que estava sentada no sofá.

- Onde você está indo filha?- ela pergunta virando a cabeça pra mim com os seus óculos de leitura enfeitando sua face.

- Oliver.- continuo andando indo até a cômoda ao lado da porta em que deixei minhas chaves de casa.

- Não chegue tarde querida!!- diz ela gritando enquanto abro a porta.

- Sim!!- respondo a ela antes de fechar a porta.

Pego minha bicicleta que havia deixado jogada no gramado, e que se minha mãe tivesse visto já teria brigado comigo, e começo a pedalar em direção a calçada seguindo o caminho que já estava calejado em minha mente, e agradeço mentalmente por eu e Oliver morarmos somente a algumas ruas de distância.

O sol já estava quase se pondo e uma brisa refrescante soprava e posso sentir o nó no estômago se apertar um pouco mais quando viro na rua de Oliver e apertar mais um pouquinho quando paro à frente de sua casa e ando com a bicicleta a encostando no alpendre da casa verde e branca.

Subo a escadinhas e logo em seguida bato a porta de maneira forte para que ele consiga me ouvir por baixo dos fones do Walkman que ele não vivia sem e o havia sido dado pelo seu avô. Quando não há resposta, bato de novo e espero. Mas ninguém responde.

Ando um pouco pra trás pra ter a vista da casa da árvore que ficava na curva do seu quintal e que seu pai havia construído pra nós os dois e confirmo que ele não estava lá. Então vou até a porta e a bato de novo mais forte, seus pais não estavam em casa e só chegariam do trabalho mais tarde, tento virar a maçaneta e me surpreendo quando ao
virar a mesma a porta se abre a minha frente.

Entro dentro da casa já conhecida por mim e fecho a porta a trancando, subo as escadas indo em direção ao quarto do Oliver com a certeza de que o irei encontrar lá deitado na cama ouvindo um rock dos anos 90 e com os olhos fechados repousando sereno.

Viro no corredor e abro a porta de seu quarto sem nem bater mas não me deparo com nada a não ser uma cama vazia e um quarto incrivelmente arrumado, estranho, pois o quarto de Oliver era tudo menos arrumado. Coço minha testa afastando o cabelo e o aperto que estava sentindo volta de novo mas decido ignorar, viro depois de fechar a porta e ando pelo corredor de sua casa que estava estranhamente escuro, vou até a porta do banheiro para checar se você estava lá, mas ela estava fechada e com a luz apagada.

Continuo andando pelo corredor e passo pela janela percebendo pelo canto do olho uma pessoa sentada no banco que ficava lá fora, me aproximo dela, e sorrio vendo você sentado no banco com seu walkman.

Me viro e meu coração batia forte, desço as escadas correndo pulando de degrau em degrau.

Vou até a porta dos fundos e abro sentindo a brisa que agora havia ficado mais fria, afinal era outono.

- Oliver- gritei com um pequeno sorriso em meu rosto.

Me lembrei dos fones. Afinal eram sempre os fones. Você não vivia sem eles.

Andei até você lentamente e do nada o aperto no coração e o nó no estômago voltaram sem aviso. Ignorei e continuei andando até você que estava usando um casaco branco.

Me aproximei de você lenta e sorrateiramente não querendo que percebesse minha presença e então pousei a mão em seu ombro tentando chamar a sua atenção. Você não se moveu.

Me coloquei a sua frente e você estava com a cabeça um pouco inclinada para baixo, conseguia ver seu rosto, você estava com os olhos fechados e o rosto sereno, calmo.

Toquei seu ombro de novo o balançando um pouco mas você não se moveu.

Toquei sua mão mas logo a soltei quando a senti fria de mais, meu coração batia forte e minha garganta se fechou, toquei sua mão de novo e a apertei. Mas você continuou não se movendo.

Podia sentir meus olhos se arregalando e o desespero começar a tomar lentamente cada célula de mim.

Levantei sua cabeça. Mas você não acordou Oliver. Percebi seus lábios que pareciam um pouco azuis e sua cara pálida. Lágrimas queriam descer. E naquele momento senti medo.

Encostei minha cabeça contra seu peito esperando ouvir seu coração bater de maneira forte, assim como o meu batia agora. Mas em vez disso não ouvi nada. Nada Oliver.

Apertei seu casaco e encostei mais minha cabeça e não ouvi nada. Olhei de novo para seu rosto e o coloquei entre minhas mãos. Lágrimas escorriam do meu rosto e meu coração doía, parecia sangrar.

E observava seu rosto, olhava para suas pálpebras esperando que você abrisse os olhos e olhasse para mim de volta. Mas você não os abria.

Podia sentir minha camisa começando a ficar molhada. Mas não me importei.

Me levantei da grama não deixando de segurar em você, para que você não sumisse, não evaporasse, e sentei no banco ao seu lado segurando forte em sua mão e continuei chorando.

Pousei minha cabeça no seu ombro esperando que você me consolasse, como você sempre faz.

E chorei.
Chorei até que outras seções de lágrimas começassem.

Cartas para Oliver Onde histórias criam vida. Descubra agora