Sete

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Angélica

— Então quer dizer que vocês dois querem declarar guerra ao deus mais poderoso que existe nesta dimensão? — pergunta o professor Koslov.

— Foi isso mesmo que ouviu, todos vocês ouviram. — é Azriel quem responde, eu já havia dito tudo o que precisava. Ainda assim duvidavam, ainda assim o protegiam.

— Com todo respeito, Azriel e Angelica, mas isso é ridículo! — diz outro dos 59 decanos ali presentes.

— Sabe o que ele pode fazer com quem se opõe a ele? — disse Richard Nox, um dos mais velhos. Assim como todos nós ele tinha a aparência de 30 e poucos anos, mas eu era a mais antiga entre todos naquela sala.

A noite toda fiquei revirando a biblioteca, procurando um feitiço, uma arma, qualquer coisa que pudesse derrotar o deus dos sonhos. Nada.

— Angélica, nós ficamos do seu lado todos esses anos, nós confiamos e acreditamos em você, mas o que está propondo é absurdo — ele continua — Quer arriscar nossas vidas para derrotar um deus venerado e respeitado, pelos céus! Suas provas são bem convincentes, mas devemos ouvir a versão dele, não acha?

— Nós não dialogamos com assassinos, Nox -—Azriel responde novamente — Angelica revelou tudo a vocês, e mesmo assim duvidam? A quem vocês são leais? Porque se vão ficar do lado dele não precisam ficar nessa escola, não são bem-vindos aqui.

— Angélica! Vai deixar ele falar assim conosco? Achei que ao menos iríamos manter a cordialidade, todos aqui somos deuses e temos livre arbítrio para escolher de que lado estamos, mas também temos o direito de não escolher e eu decido ficar isenta — diz Helen, outra bajuladora de Tiordan.

— Tenho que concordar, Crane é muito poderoso, não podemos ir contra a vontade dele — mais uma deusa concorda.

— Precisamos nos unir sim, mas pela paz! Temos uma escola cheia de adolescentes que estão apenas começando suas vidas, vocês dois tiveram o privilégio de ter um filho, devem prezar não só pela segurança dele mas de todos os alunos! — Lucy, a deusa protetora das fadas noturnas complementa.

— O que tem a dizer, Angélica? — Koslov pergunta novamente.

A grande maioria do corpo docente estava em silêncio, apenas os mais bajuladores de Tiordan Crane haviam saído em sua defesa. Me levanto da cadeira e começo a caminhar devagar.

— Agradeço as opiniões, são todas extremamente válidas. Quando fundamos essa escola juramos sempre proteger o que era mais importante, seja dos humanos ou de nós mesmos. Nossos alunos são como filhos para nós, eu entendo que queiram evitar um conflito a todo custo, por mais indignados que estejamos... Ou ao menos a maioria — faço uma pausa assim que paro em frente a única cadeira vazia naquela sala — Ataca-lo é ridículo, vocês tem razão, ele consegue acessar nossos pensamentos e nos paralisar de medo, consegue trazer nossos piores pesadelos a realidade. Eu reconheço que não sou capaz de enfrentá-lo sozinha, não chegaria nem perto, mas juntos temos uma chance. Ele virou uma ameaça e sabem disso, desde que os ancestrais determinaram que ele deveria viver isolado sabiamos que tinha algo de errado com ele. Deixamos Medéia voltar sozinha para aquela dimensão...

Lágrimas escorrem dos meus olhos, não consigo segurar. A esse ponto eu já havia perdido meu discurso, não sabia de onde tinha parado. Não. Eu tinha que conseguir o apoio dos deuses ali presentes, e se o assassinato de uma de nós não era o suficiente então outra coisa tinha que ser. Olho para Azriel, ele parece saber o que eu pretendia. Meu companheiro balança a cabeça em negação. Mas eu não tinha muita escolha.

SelváticoWhere stories live. Discover now