O céu azul e o pássaro branco

Até quando?

Você não pode controlar suas emoções, apenas suas ações. -

Uma hora após o incidente -

O corpo de Felipe se encontrava em completa sensação de formigamento e quentura. Seus batimentos podiam ser ouvidos por quem passasse perto dele, estava desesperado, sua ansiedade o dominava pedaço por pedaço. Cada centímetro do seu corpo estava igualmente incapacitado de relaxar e raciocinar direito, a sensação continua de que algo ruim iria acontecer (por mais que já estivesse acontecendo) era constante. Que receberia uma notícia ruim a qualquer momento. A sensação de culpa o preenchia por completo, como se fosse um barco sendo inundado por todos os lados. Lá ele estava, sentado no corredor enorme, com a cabeça pra baixo, apoiada nas mãos enquanto segurava o choro que rasgava sua garganta querendo sair.

Flashback on~

Estava no escritório da empresa, apenas relaxando após ter resolvido alguns assuntos não tão urgentes algumas horas antes, estava ainda ali porque não se sentia confortável voltando pra casa, se acostumou a gastar mais tempo do que era necessário em sua empresa. Comia o sorvete que estava em suas mãos em pequenas colheradas, com a cabeça jogada pra trás, encostado na cadeira enquanto permitia que o vento de sua janela trouxesse paz junto com a sensação de relaxamento que fazia seu corpo se acalmar mais e mais. Balançava a cadeira da esquerda pra direita com os pés, em um ritmo só.

Enquanto pensava, começou a rir de seus pensamentos, se lembrando de um dia após uma gravação feita, em que foi comprado um moletom estampado com vários tipos de carne, e o mesmo foi dado pra Samanta em video, lembrou da cara dela de "Sério isso?" e depois que a câmera foi desligada a mesma perguntou o que iria fazer com aquilo, perguntou se podia jogar na churrasqueira já que era de carne e fez todo mundo rir com o tom de voz dela. Eu falei que era pra ela guardar com todo carinho e a mesma jogou ele em mim e completou dizendo: "Você vai cuidar melhor que eu", piscou com um sorriso nos lábios e saiu do estúdio, me deixando com cara de surpresa e os outros da equipe rindo de mim enquanto segurava o moletom nas mãos, surpreso com a ousadia da mesma.

Eu não sei por que lembro dessas coisas aleatórias nos momentos mais aleatórios. Estava rindo de mim mesmo, quando Bruno (Correa) adentrou meu escritório batendo a porta na parede e agitado. Eu sabia que o que vinha depois daquela cena, coisa boa não era.

Que susto Bruno! Pra que isso, tá maluco? Que que aconteceu? - O meu coração quase saira pela boca, odiava tomar sustos do fundo da minha alma, me deixava com a mais pura raiva desse universo.

Você não olhou seu celular né? - Logo penso que poderia ter vazado algo, ou algo do tipo pela afobação e olhos arregalados do mesmo.

Não, não olhei, por quê? - Falo tirando o mesmo do bolso curioso. - Tem ligação perdida da Marchetti... Só iss- Não tinha visto as ligações vindas do celular de Samanta e paro de falar, logo a ficha vai caindo que tinha algo de errado, logo penso na Samanta no hospital, eram muitas ligações de ambas as partes, eu não deixo meu celular pra tocar e elas sabiam disso, então pra terem me ligado esse tanto de vezes, algo estava acontecendo. Olho pro Bruno esperando o pior, e o mesmo logo começa a falar:

A Samanta teve uma recaída no hospital, eu não sei direito o que aconteceu mas parece que ela foi parar na UTI, a Vi acabou de ligar pro telefone da empresa perguntando o por que de você não estar atendendo o celular, eu acho que é bem grave, você deveria ir pra lá falar com ela- A cada palavra do Bruno eu sinto meu coração parar cada vez mais, como se estivesse sendo pisado lentamente. Eu já estava de pé chegando na porta quando ele termina de falar e logo saio o mais rápido possível, sem responder ou questionar. Eu não acreditava no que estava acontecendo, ela estava bem até umas horas atrás, lembro do sorriso dela hoje de manhã e a ficha não cai, só consigo implorar mentalmente um "Por favor, não deixe isso acontecer" enquanto descia as escadas o mais rápido possível.