10º Capítulo

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— Você...? — Salinas tentou balbuciar algumas palavras, mas permanecia incrédulo.

Talvez naquele instante a adrenalina estivesse um pouco mais baixa e a consciência bateu com dois pés no peito de Christopher. Manteve-se calado, já esperando um tiro no meio de sua testa.

— Você sabe que com uma canetada eu te tiro desse caso... — Salinas disse entredentes, ainda mantendo o mesmo olhar de raiva e incredulidade. — E ainda destruo a sua carreira.

Era o preço da pequena imprudência, mas mesmo que quisesse mandá-lo para o meio do inferno, Christopher engoliu o desaforo e pensou apenas na sua reputação profissional. E também nos boletos.

Escutar a gargalhada de deboche que veio depois não ajudou muito, mas ele se manteve firme no propósito de escutar a bronca sem retrucar.

— Quer comê-la também? — Sugeriu com ironia, satisfazendo-se com o rosto avermelhado de seu funcionário. — Cuidado que a vadiazinha tem histórico de assassinar seus amantes.

Salinas sabia bem como provocar, esse era um mérito que ninguém poderia lhe contestar.

— Sai daqui, Uckermann. — Rosnou, e antes que ele saísse de sua sala: — Eu quero o laudo do Herrera até o final do dia.

Não se podia afirmar que Christopher não tinha autocontrole, pois foi preciso um esforço sobre-humano para suportar aquela meia dúzia de desaforos sem gritar. Entrou em sua sala e jogou o moleskine longe, tentando raciocinar sobre as suas atitudes perante Dulce. Salinas era um decrépito corrupto, que não tinha compaixão por ninguém, mas ele nunca tinha se metido dessa forma para defender qualquer ser humano que fosse das garras de seu chefe. Não sentia orgulho por isso, deveria ter se metido em todas as vezes em que ele faltou com respeito e de alguma forma sabotou a justiça, mas ali naquele instante, chegava a uma conclusão óbvia: tinha caído em uma cilada.

Uma bela e sedutora cilada.

Chacoalhou a cabeça afastando esses pensamentos, sentando-se na cadeira e voltando a investigar a vida profissional — quiçá pessoal — daquele defensor público. Isso era mais prioritário que seus pensamentos insanos.

No dia seguinte, Christopher entrava e saía de sua sala como num looping infinito. Era a ansiedade misturada com o leve estresse causado pela ausência de Vinicius Villegas no compromisso que ele tinha agendado despretensiosamente naquela manhã, se é que poderia ser usado o adjetivo "despretensioso" num caso grave e urgente como aquele.

— Gutierrez, você avisou ontem para o Villegas que ele tinha que retornar hoje? O horário certo? Avisou mesmo? — Insistia pela milésima vez, ao ponto da policial revirar os olhos em sua presença, algo que ela nunca teve tanta coragem de fazer. — Eu vi os seus olhos... — Completou irritado.

— Está ardendo, apenas. — Deu qualquer desculpa tentando contornar aquele pequeno constrangimento.

— E sobre ontem? — Insistiu.

— Eu o avisei, ele disse que voltaria. Eu já...

— Eu sei, já me falou. — A interrompeu. — Liga para ele e me passa a ligação, se ele não atender, insista até conseguir. — Murmurou ainda irritado, voltando para a sua sala em seguida.

Por mais relapsos que fossem, os defensores públicos eram bem aplicados quando pegavam esses casos. Pelo menos no começo. Ok, aquele não era o caso mais simples do mundo, mas ele deveria estar ali colhendo qualquer coisa que ajudasse a sua cliente.

Ele deveria não?

E bem, não que isso fosse da conta de Christopher, mas o caso estava sob a investigação dele e como investigador experiente e defensor da justiça, deveria se impor sobre aquele "advogadozinho incompetente" e que não tinha qualquer compromisso com a pontualidade.

O Silêncio dos InocentesOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz